Alonso vê o sonho de voltar à F1 muito distante

A pandemia do coronavírus adiou a estreia da nova Fórmula 1 para 2022, quando o espanhol já terá 40 anos de idade

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Livio Oricchio
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Já no fim do ano passado, Fernando Alonso começou a emitir sinais de que trabalha para voltar a F1 em 2021. Seu empresário, Luis Garcia Abad, fez contatos com várias equipes. Todos no paddock sabem disso. O próprio Alonso fazia questão de deixar claro: “Minha história na F1 ainda não acabou”.

Flavio Briatore, o ex-diretor do time com que Alonso foi bicampeão do mundo, Renault, em 2005 e 2006 - e ainda hoje com participação na gestão de sua carreira -, passou a fazer parte da estratégia de levá-lo de volta à competição. “Fernando é mais completo que Michael (Schumacher)”, afirmou o italiano.

Alonso deixou a F1 no fim de 2018, depois de quatro temporadas de resultados inexpressivos, principalmente por conta da pouco produtiva associação de três anos – de 2015 a 2017 - entre a McLaren, sua escuderia, e a Honda.

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Mas se existe alguém atingido em cheio pelos efeitos da pandemia do coronavírus é Alonso. As mudanças profundas geradas pela Covid-19 quase que definiram também o futuro desse piloto espanhol de Oviedo, região das Astúrias, tão capaz quanto controverso, envolvido em dois dos mais deploráveis episódios antiesportivos de todos os tempos.

Histórico pesado

Você se lembra deles? Em 2007, o mecânico-chefe da Ferrari, Nigel Stepney, levou para seu amigo, Mike Coughlan, diretor técnico da McLaren, os desenhos do eficiente carro da Ferrari. Alonso sabia de tudo.

O outro foi o abominável resultado fabricado no GP de Singapura. Briatore orientou o companheiro de Alonso, Nelsinho Piquet, a colidir no muro para que, com a entrada do safety car, o espanhol pudesse vencer.

O mais incrível é que nos dois casos, apesar de todas as evidências de sua participação direta, Alonso foi o único, a rigor, não punido pela FIA.

Caro de Fórmula 1 da Renault pilotado por Fernando Alonso F1 faz uma curva com as rodas da esquerda sobre a zebra
Fernando Alonso na Renault, em 2006: dois títulos mundiais que eubraram a
Crédito: Divulgação
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Mas voltando ao projeto de Alonso regressar à F1 no ano que vem. Perto de completar 39 anos, dia 29 de julho, Alonso provavelmente viu suas últimas chances de regresso - e, como ele diz, “voltar a ser campeão do mundo” - diminuírem consideravelmente.

A primeira preocupação das escuderias está sendo reduzir o grande impacto financeiro provocado pela queda da receita da F1. Seus diretores decidiram, junto das lideranças da FIA e da FOM, congelar o conjunto mecânico dos carros este ano e na próxima temporada.

Nas grandes, sem chance

Na Mercedes, Hamilton e seu parceiro, Valtteri Bottas, não têm contrato para 2021. O inglês já disse que não sai. “Estou na equipe dos meus sonhos.” As chances de Bottas ganhar mais um ano cresceram com as incertezas que cercam a F1 este ano.

E Toto Wolff é inteligente o suficiente para nem pensar na possibilidade de ter Alonso como companheiro de Hamilton novamente. Desestabilizaria tudo na eficientíssima Mercedes.

Na Ferrari, Alonso saiu pela porta dos fundos. Suas críticas explícitas aos italianos, proibidas no contrato, em 2014, ainda não foram digeridas pelos, no fundo, proprietários da escuderia: a família Agnelli.

F1 Felipe Massa E Fernando Alonso posam para fotos com roupas da Ferrari
Alonso (de óculos escuros) com Felipe Massa em evento da Ferrari: saída da escuderia foi conturbada
Crédito: Divulgação
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E para o diretor da Ferrari, Mattia Binotto, vale o mesmo raciocínio exercitado por Wolff. Seria uma loucura colocar Alonso ao lado do muito promissor Charles Leclerc. Se com Sebastian Vettel a sua relação já é explosiva, imagine com Alonso.

Na Red Bull, o caso não é distinto. Max Verstappen, em quem Horner e o homem-forte do grupo, Helmut Marko, apostam todas as fichas para serem campeões novamente, entraria em rota de colisão direta com Alonso.

Imagine como seria o espanhol tentando impor sua personalidade, sempre ávida para ter o time gravitando ao seu redor. É assim que melhor produz. E pense no que aconteceria se perdesse a disputa regularmente para o holandês de 22 anos. Não se esqueça de que se Alonso voltar a F1 em 2021, já seriam dois anos longe da competição.

Piloto desagregador

No caso de Max se mostrar mais eficiente, o mais provável, o espanhol passaria a acusar o time de favorecê-lo - como fez na McLaren com relação a Hamilton.

Ainda no ano passado, Horner falou sobre Alonso: “Não é nossa política trazermos pilotos prontos, nós os formamos, para isso temos o programa destinado aos jovens. Ainda a respeito de Fernando, nunca trabalhamos juntos, mas tudo o que ouço é que, com ele, não é fácil manter o grupo unido”.

Na McLaren, Zak Brown, diretor executivo do grupo, e Andreas Seidl, diretor da equipe, afirmam para quem desejar ouvir que uma das razões de sua organização voltar a crescer, em 2019, foi a harmonia existente na escuderia - onde os jovens talentosos pilotos Carlos Sainz Júnior e Lando Norris são elementos essenciais.

O piloto Fernando Alonso com macacão branco da escuderia McLaren ao lado do diretor da equipe, Zak Brown
Fernando Alonso ao lado de Zak Brown, na Mclaren: fama de desagregador pesa contra o piloto
Crédito: Divulgação
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A não renovação do contrato de Alonso como embaixador da McLaren, no fim do ano passado, é um sinal de que seu ciclo na grupo acabou. Seu contrato anual de 2015 a 2018 era de 36 milhões de euros – R$ 216 milhões - por temporada. Surreal para um time sem patrocinador principal e lutando para, eventualmente, marcar pontos.

O comportamento de Alonso sugere que ele, obviamente, sabe disso tudo. Pois é muito inteligente e seu empresário lhe deve ter dado raios-X semelhante do mercado, resultado de suas conversas com os diretores dos times.

Retornar à Renault

Assim, a opção viável, eventualmente, seria voltar à Renault. O espanhol tinha, em janeiro, um discurso perfeito. “A F1 será muito diferente em 2021. Será possível a uma equipe que hoje não luta pelos primeiros lugares reagir bem às novas regras e produzir um carro com chances de lutar por pódios.”

O primeiro choque para Alonso veio de essa nova F1, com novos regulamentos, técnico, esportivo, administrativo, ser transferida de 2021 para 2022 - por causa da inviabilidade de investir para mudar tudo em tempos de poucos recursos.

Há mais sobre Alonso poder ir para a Renault, em 2021. Dependeria de Daniel Ricciardo deixá-la. O contrato do australiano termina no fim do ano. O do outro piloto, Esteban Ocon, no fim de 2022.

Ricciardo se interessa pela Ferrari e os italianos por ele. Mas todas as indefinições da F1 estão fazendo com que Binotto e Vettel cheguem a um acordo para a renovação de seu contrato. Provável desfecho da história.

A busca da estabilidade para enfrentar a crise financeira gerou a tendência de os novos contratos serem de dois anos, 2021 e 2022. E, óbvio, com valores mais compatíveis com a realidade do mundo, hoje.

Assim, como já mencionado, as chances de Alonso estar no grid da F1 em 2021 são pequenas. E como no ano que vem irá completar 40 anos, se surgir uma oportunidade, em 2022, começaria o campeonato com quase 41 anos. Também para isso, o fator idade, o asturiano tem resposta.

“Sem o reabastecimento (de combustível) a exigência (física) da F1 é menor. A diferença entre nosso ritmo no sábado (na sessão de classificação) e no domingo (corrida), é grande, andamos sete ou oito segundos mais lentos.”

Os dois títulos mundias de Fernando Alonso foram com a Renault
Crédito: Divulgação
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Parece ser una sina na carreira de Alonso, com seus 312 GPs, 32 vitórias, 97 pódios e 22 poles: no momento chave, ou ele erra na escolha da equipe ou acontece algo que compromete suas possibilidades de explorar seu imenso potencial de piloto.

Quem trabalhou com ele afirma ser um dos fantásticos de todos os tempos, como Briatore: “Sua visão global da disputa é a maior que e já vi e talvez a própria F1. Quantas vezes você viu Fernando errar? Se você lhe der um carro minimamente competitivo verá que anda mais que o carro. Nunca vi nenhum outro piloto tirar tanta velocidade de carros nem tão rápidos.”

Três possilidades de título na última etapa

Muitos na F1 acreditam que Alonso tem predicados para ter mais dos dois títulos conquistados. E usam como argumento o fato de o espanhol ter perdido a chance de ser campeão na última etapa do calendário em três ocasiões.

Em 2007, então na McLaren, Alonso desembarcou em São Paulo podendo vencer o campeonato. Tinha como adversários o companheiro, Lewis Hamilton, na primeira temporada na F1, e Kimi Raikkonen, da Ferrari, o azarão. Pois deu Raikkonen.

Em 2010, competindo pela Ferrari, Alonso estava quase com as duas mãos na taça da corrida final, em Abu Dhabi. Lutava com Sebastian Vettel e Mark Webber, da Red Bull, e Hamilton, ainda na McLaren. De novo venceu o piloto como menos chances, Vettel.

Em 2012, a vantagem de Vettel, da Red Bull, era grande sobre Alonso, Ferrari, em Interlagos. Deu o alemão.

Sobre as escolhas erradas

Em 2007, Alonso viveu um verdadeiro inferno na vencedora McLaren, em boa parte por causa de sua postura diante do talento e da competência do estreante Hamilton. Vindo de dois títulos, Alonso não aceitava poder perder para um novato.

Sem ambiente, precisou sair. O sócio e diretor da McLaren, Ron Dennis, também não o queria mais lá também. Nem todos sabem: Alonso foi procurado por Christian Horner, diretor da Red Bull. É uma informação oficial.

O dirigente lhe mostrou que com a mudança radical do regulamento, a partir de 2009, o genial diretor técnico Adrian Newey tinha tudo para produzir um carro que lhe desse a chance de lutar pelo título.

Na época da McLaren, Fernando Alonso - na foto, ao lado de Jason Button - fez críticas explícitas à Honda
Crédito: Divulgação
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Pois Alonso decidiu voltar, em 2008, à escuderia que lhe permitiu conquistar seus dois mundiais: a Renault. Parece não ter levado em conta que a escuderia não era mais a mesma. Seus principais líderes a haviam deixado, como Bob Bell, diretor técnico, Tim Densham, projetista-chefe, Rod Nelson, responsável pelo desenvolvimento do carro.

Resultado: Alonso esteve longe do pódio o ano todo. Só foi celebrar uma vitória em um dos GPs mais controversos da história de 70 anos da F1, em Singapura. Falaremos dele a seguir.

Ouvi Alonso anos mais tarde para falar da escolha pela Renault em vez da Red Bull, no fim de 2007, após deixar a McLaren. Vettel, com o carro que poderia ser do asturiano, venceu quatro campeonatos seguidos, de 2010 a 2013.

Alonso: “É fácil dizer, hoje, que não tomei a decisão certa. A Red Bull tinha conseguido um único pódio, em 2007, não tinha um carro competitivo e não evoluía. A Renault me pareceu ser uma opção mais promissora.”

Meta agora é a tríplice coroa

Se o seu projeto de regressar a F1 ficou mais distante, o de conquistar a tríplice coroa pode se tornar uma realidade. Alonso disputará as 500 Milhas de Indianápolis, este ano, com a equipe Arrows McLaren, com seu Dallara-Chevrolet. A Honda não concordou em lhe ceder o motor.

Você se lembra de o espanhol ter sido muito indelicado com os japoneses, para dizer o mínimo, embora sua afirmação tivesse fundamento? No GP do Japão de 2015, o sueco Marcus Ericsson, com Sauber-Ferrari, o ultrapassou na reta do Circuito de Suzuka.

Alonso estava na sua McLaren-Honda. Ao não poder fazer resistência a Ericsson, Alonso afirmou, no rádio, a seu engenheiro: “Parece um motor (Honda) da GP2. É embaraçoso, muito embaraçoso”.

Fernando Alonso nos tempos vitoriosos e felizes de Renault: escuderia francesa pode o receber de volta?
Crédito: Divulgação
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Milhões ouviram o asturiano se referir à unidade motriz Honda dessa forma, em pleno GP do Japão, sendo que boa parte dos 36 milhões de euros do seu contrato era bancada pela montadora.

Os japoneses devem ter dado risada quando, em 2018, a McLaren trocou a unidade motriz Honda pela Renault e o time não fez muito melhor do que antes – sexta colocada, com 62 pontos, diante de 655 da Mercedes, campeã -, mostrando que os problemas não se resumiam à pouca eficiência da sua unidade motriz.

O fato é que a Honda não cedeu seu motor para Alonso disputar as 500 Milhas de Indianápolis este ano. Como já venceu o GP de Mônaco, em 2005 e 2006, com Renault, e as duas últimas edições das 24 Horas de Le Mans, com Toyota, falta apenas ser primeiro na corrida americana para igualar-se a Graham Hill, o único a conquistar a tríplice coroa.

Competência não falta a Alonso. Como muitos afirmam na F1, “é um dos pilotos mais talentosos de todos os tempos”.

Se a Arrows McLaren disponibilizar um carro razoavelmente rápido e equilibrado, o espanhol é capaz de fazer a diferença. Em 2017, liderou 27 voltas da prova e abandonou faltando 21, por falha do motor.

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