Filho de Schumacher, a aposta alemã para a F1

Mick Schumacher, 21 anos, ainda na F2, é a maior esperança dos alemães para ter um representante no grid em 2021

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Livio Oricchio
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Preste atenção a essas marcas de automóveis: Mercedes, Porsche, BMW, Audi, Opel, Volkswagen. O que têm em comum? São todas alemãs. Mais: seus automóveis estão dentre os mais bem conceituados no mundo, muitos deles verdadeiros sonho de consumo.

Nas pistas de corrida também a tecnologia alemã já ganhou praticamente tudo. A Mercedes, por exemplo, está invicta há seis anos na mais complexa disputa, a F1. Venceu os seis títulos de pilotos e os seis de construtores nesse período.

Atente agora a este dado: de 1994 até 2016, portanto em 23 temporadas, pilotos alemães tornaram-se campeões do mundo 12 vezes, praticamente a metade das edições realizadas. Michael Schumacher, em 1994 e 1995, com Benetton, e de 2000 a 2004, Ferrari; Sebastian Vettel, Red Bull, 2010 a 2013; e Nico Rosberg, Mercedes, 2016.

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Adicione nessa balança, por favor, a potência econômica que é a Alemanha, dado importante quando o assunto é automobilismo, atividade que exige domínio elevado de tecnologia e grande capacidade de investimento, e a histórica paixão do alemão por carros, competição, desafios dessa natureza.

Pois apesar de atender a todos os exigentes pré-requisitos para se estabelecer na F1, a Alemanha está perto de não ter nenhum piloto no grid em 2021. O anúncio da Ferrari, na semana passada, de que Sebastian Vettel será substituído pelo espanhol Carlos Sainz Júnior, no fim do ano, faz com que, neste momento, a nação da Mercedes, Porsche e BMW não tenha representante no mundial.

Vettel, quase sem opção

Com as portas das equipes Mercedes e Red Bull fechadas, a única alternativa viável, em 2021, para um piloto do retrospecto de Vettel é a Renault - já que Daniel Ricciardo a trocará pela McLaren.

Mas a vida para Vettel no time da montadora francesa também não está fácil. Há fortes indícios de que Fernando Alonso – eterno crítico do piloto alemão – negocia com Cyril Abiteboul, diretor da Renault, para voltar à F1 na próxima temporada.

Flavio Briatore, ainda com participação na gestão da carreira do espanhol bicampeão do mundo, revelou que seu piloto “está desintoxicado e pronto para regressar a F1”. Ele deixou a competição no fim de 2018, depois de quatro anos frustrantes na McLaren.

Enorme responsabilidade

O piloto alemão mais perto de poder estrear na F1 é Mick Schumacher, filho de Michael. Aos 21 anos, disputará a sua segunda temporada na F2, com a equipe Prema. Em 2019, venceu a corrida de domingo no GP da Hungria. Único pódio. Foi o 12º no campeonato.

Mick é piloto da Academia da Ferrari e sua carreira é administrada por Nicolas Todt, filho do presidente da FIA, Jean Todt, responsável também por Charles Leclerc.

Se fizer uma temporada da F2 boa, filho de Schumacher pode pilotar a F1 da Alfa Romeo em 2021
Crédito: Divulgação
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Se Mick disputar um campeonato na F2 melhor que o de estreia, a Ferrari poderá colocá-lo na vaga que possui na equipe Alfa Romeo.

Desafio emocional

Terá, no entanto, de saber gerir a si próprio muito bem. Pois corre com a pressão natural de ser filho de quem é - e de saber que os alemães esperam muito dele para seguirem na F1.

O acordo entre a Ferrari e a Alfa Romeo prevê o fornecimento da unidade motriz (motor), transmissão e de todo o conjunto mecânico traseiro. A contrapartida é o time com base na Suíça pagar um valor bem mais baixo pelo uso desses componentes e aceitar um piloto indicado pelos italianos.

Em 2019 foi o italiano Antonio Giovinazzi, 26 anos, com performance bem abaixo do esperado (marcou 14 pontos diante de 43 do companheiro, Kimi Raikkonen). Terá de demonstrar algo completamente diferente, este ano, para ter outra chance em 2022. Como fez Leclerc, também da academia da Ferrari, no seu primeiro ano de F1, na mesma escuderia, em 2018 (39 pontos).

Se Mick demonstrar estar em evolução e Giovinazzi seguir bem menos eficiente que Raikkonen, então a Alemanha poderá ter no filho de Schumacher um representante no grid em 2022, pela Alfa Romeo.

Vettel explica os motivos

Nos dias do GP da Bélgica do ano passado, em Spa-Francorchamps, a Renault anunciou que o piloto alemão Nico Hulkenberg seria substituído, este ano, pelo talentoso francês Steban Ocon, 23 anos, fora da F1.

Dessa forma, apenas Vettel representaria a Alemanha na F1 este ano. A temporada deverá começar dia 5 de julho com o GP da Áustria.

Foi lá em Spa-Francorchamps que perguntei a Vettel, na coletiva, qual a sua explicação para a Alemanha já ter tido tantos pilotos n F1 depois da chegada – e do sucesso – de Michael Schumacher e para 2020 apenas ele.

“Como sempre é uma combinação de coisas. A realidade do automobilismo mudou muito de quando comecei para hoje. A maior diferença é o custo, agora muito maior. Eu não teria conseguido fazer carreira nos dias de hoje”, começou respondendo Vettel.

“Se você observar o grid das categorias de base na Alemanha verá que a maioria é de pilotos estrangeiros, que chegam com fortes esquemas de patrocinadores, têm um plano de carreira. Os alemães são, agora, minoria”, complementou.

Sete alemães no grid

Pouco depois da entrevista coletiva, Vettel falou informalmente com um pequeno grupo de jornalistas. Foi lembrado a ele que em 2010 a F1 chegou a ter sete pilotos alemães largando nas corridas: Michael Schumacher e Nico Rosberg, Mercedes; Vettel, Red Bull; Nico Hulkenberg, Williams; Adrian Sutil, Force India; Nick Heidfeld, Sauber; e Timo Glock, Virgin.

Vettel comentou que depois que Schumacher começou a vencer corridas, tornou-se campeão do mundo, vários kartódromos foram criados na Alemanha. Ele mesmo, disse, era fruto desse boom do automobilismo provocado pelo ídolo de sua geração, Schumacher.

“Na verdade, não apenas eu, mas todos esses pilotos mencionados por vocês surgiram no rastro das conquistas de Michael.”

Sebastian Vettel: do embalo da "geração Schumacher" ao futuro incerto na F1
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Ele lembrou que o aspecto econômico citado por ele pouco antes, na coletiva, afetava também os promotores do GP da Alemanha. “Chegamos a ter duas corridas, uma em Hockenheim e outra em Nurburgrig (como GP da Europa). Hoje lutamos para manter a Alemanha no calendário da F1. No ano que vem, pelo que estamos sabendo, não teremos corrida lá”.

De fato, o calendário de 2020 foi anunciado dois meses mais tarde sem o GP da Alemanha. Os promotores de Hockenheim e Nurburgring não conseguem levantar os US$ 25 milhões cobrados pela FOM e pagar suas despesas apenas vendendo os ingressos, espaços publicitários e as cotas de patrocínio.

Interesse segue sendo grande

Ainda Vettel: “A saída de Michael da F1 obviamente reduziu um pouco o interesse pela F1, mas ainda é muito grande. Não creio que a falta de pilotos e de o GP não fazer parte do campeonato seja por isso, desinteresse”.

Sem dados estatísticos, mas essa redução da atenção dos alemães pela F1 pôde ser sentida na ligeira queda no número de telespectadores nas corridas transmitidas ao vivo, mesmo com TV aberta, através da RTL, segundo relatam colegas jornalistas. Eles próprios estão hoje em menor número na sala de imprensa dos GPs de F1.

Nico Rosberg vai às provas de F1 por ser comentarista da RTL. Ele disse, no ano passado, a esse respeito: “A redução de telespectadores é pequena e, pelo que sei, acontece na maioria dos países, não só na Alemanha”.

Schumacher, um pioneiro

Para o campeão do mundo de 2016, seu país não voltará a vivenciar uma realidade como a existente antes de Schumacher estrear na F1 e realizar a obra que fez.

Até então, apesar da importância da indústria automobilística alemã, a nação teve somente dois pilotos vencedores de GP na F1, o barão Wolfgang von Trips, primeiro no GP da Holanda e da Grã-Bretanha de 1961, com Ferrari, e Jochen Mass, McLaren, no GP da Espanha de 1975.

Trips morreu em um acidente na prova de Monza, em 1961, com Ferrari. Ele tinha boas chances de ser campeão do mundo. O título ficou com o seu companheiro de Ferrari, o americano Phil Hill.

Para Rosberg, o legado de Schumacher deixou raízes, o que não existia no passado. Em 2019, disse: “Nós temos hoje Sebastian (Vettel), mas é uma questão de tempo até aparecer outro piloto alemão com potencial para competir em um time vencedor e disputar o mundial”.

Retrospecto bem positivo

O legado de Schumacher é realmente notável. Ele mesmo foi campeão sete vezes (308 GPs), obteve 91 vitórias, 155 pódios (marcas ainda não superadas) e 68 poles. Depois vieram Vettel, com os quatro títulos mencionados (241 GPs), 53 vitórias, 120 pódios e 57 pole positions.

Michael Schumacher: o heptacampeão deixou um legado para os pilotos alemães na F1
Crédito: Divulgação
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Mais pilotos alemães com vitória na F1: Nico Roberg, um título (206 GPs), 23 vitórias, 57 pódios e 30 poles. Ralf Schumacher (182 GPs), 6 vitórias, 27 pódios, 6 poles. Heinz Harald Frentzen (160 GPs), 3 vitórias, 18 pódios, 2 poles.

Brasil, situação semelhante

O momento da Alemanha na F1 é semelhante ao do Brasil. Felipe Massa a deixou no fim de 2017 e o país também precisa de boas performances de Sérgio Sette Câmara na Super Fórmula, no Japão, para ter chance de estrear na competição em 2021. Ele faz parte do programa da Red Bull.

Outros com possibilidades são Pedro Piquet e Felipe Drugovich, ambos estreantes na F2, este ano. Precisam disputar uma temporada excelente já no primeiro ano na antessala da F1 para ascender à categoria principal.

A crise financeira na F1 deverá fazer com que surjam mais vagas do normal em 2021, considerando-se que as dez equipes vão seguir no grid, o mais provável diante dos esforços da FOM e da introdução de regras que visam a tornar a disputa um pouco menos cara, como o uso do mesmo carro deste ano em 2021.

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