Dizem que, depois das minivans, os sedãs foram os que mais sentiram o golpe a partir do momento em que os SUVs viraram os queridinhos do mercado. Porém, é preciso estar atento a vários detalhes para saber se o utilitário é mesmo a melhor opção.
Resolvemos fazer essa comparação dentro da mesma marca. Pegamos o Civic, um sedã médio consagrado, e o HR-V, SUV compacto dos mais elogiados dentro do segmento, para saber em quais quesitos cada um se sobressai dentro da linha Honda.
De um lado, a versão EX do Civic, que custa R$ 112.300 e usa o motor 2.0 aspirado. Do outro, o HR-V EXL, com preço de R$ 116.200 e unidade motriz 1.8, igualmente aspirada. Já adiantamos que eles são bem parecidos em muitos dos quesitos deste comparativo virtual.
Para quem quer uma tocada mais, digamos, esportiva, o Civic chama a atenção. Não que o 2.0 de 155/150 cv confira desempenho de bólido, mas o conhecido motor da Honda tem certa elasticidade e responde melhor em médias rotações.
O 1.8 de 139/140 cv do HR-V tem um comportamento mais pacato. Acelerações boas, porém suaves, e retomadas competentes. Além disso, o câmbio CVT do sedã com sete marchas simuladas pontua mais o desempenho e tem aletas para trocas sequenciais no volante, enquanto o do utilitário privilegia o conforto e praticamente nem se faz notar.
De qualquer forma, os dois se aproximam nas acelerações. O 0 a 100 km/h do Civic é feito em 10,9 segundos. O HR-V, por sua vez, precisa de 11,2 segundos para cumprir a mesma velocidade.
No comportamento dinâmico, o Civic também se mostra mais firme. A direção elétrica é bem direta, com comunicação precisa com as rodas, e o carro aponta bem nas curvas. O SUV tem boa estabilidade, apesar do vão livre do solo maior, mas a proposta é mais para o conforto, com volante aliviado e respostas não tão imediatas.
Aqui praticamente há um empate técnico. Os dois modelos são referência quando o assunto é conforto. Não obstante, costuma-se dizer que o HR-V é um SUV com comportamento de sedã. A posição mais alta de dirigir do jipinho urbano não cobra a conta, os bancos acomodam bem o corpo e a posição de dirigir é um dos destaques.
No Civic o motorista fica um pouco mais baixo - mesmo em relação a rivais do segmento de médios - e a ergonomia não é tão intuitiva como no companheiro de concessionária. O isolamento acústico do sedã, contudo, beira a perfeição e o motor roda suave abaixo das 2.000 rpm já a 100 km/h.
Curiosamente, no banco traseiro a sensação de espaço é maior no HR-V. Apesar de ser 2 cm mais largo, no Civic o teto baixo limita o vão para as cabeças. Em compensação, o sedã tem mais folgas para o joelho, apesar de o túnel da transmissão atrapalhar um pouco o conforto das pernas.
Em termos de suspensão, o três-volumes se vale de um jogo independente multibraço na traseira e calibragem levemente mais rígida. O sedã bsorve muito bem os impactos, mas o eixo de torção na parte de trás do HR-V também filtra de forma exemplar a buraqueira e preserva o corpo dos ocupantes de sacolejos desnecessários.
O SUV optou pela suspensão semi-independente por questões de custo, mas também por razões de espaço. A geometria multilink na traseira iria comprometer o volume no porta-mala, um os destaques do HR-V na categoria de utilitários esportivos compactos, graças aos seus 437 litros. O do Civic, contudo, é bem mais espaçoso: 519 litros e ótimo vão de entrada.
Na linha 2020, toda a gama do Civic passou a ter ar-condicionado automático, freio de estacionamento eletrônico, câmera de ré e rodas de liga leve aro 17". Esta variante EX é a versão intermediária entre as opções aspiradas do sedã e ganhou na mudança de ano/modelo retrovisor eletrocrômico, bancos de couro e sistema de som com oito alto-falantes.
Além disso, é equipado com seis airbags, controles de estabilidade, de tração e de subida, Isofix, monitoramento dos pneus, central multimídia com tela de 7" e conectividade com Apple CarPlay e Android Auto, controle de cruzeiro, aletas para trocas de marcha no volante e retrovisores rebatíveis eletricamente,
Já o HR-V EXL é o topo de linha aspirado - acima dele, só o Touring, com turbo e por mais de R$ 140 mil. Recebe basicamente os mesmos itens de segurança e conforto do sedã. Leva a mais o sensor de estacionamento dianteiro, enquanto a central multimídia tem roteador de wi-fi, GPS nativo e entrada HDMI.
O HR-V se ressente da aerodinâmica pior que a do seu parente sedã na estrada. Segundo dados do Inmetro, o SUV faz médias rodoviárias de 8,6 km/l com álcool e de 12,3 km, quando abastecido com gasolina. O Civic, ainda beneficiado pela bastante longa sétima marcha simulada do seu câmbio, alcança respectivos 8,9 km/l e 13,0 km/l.
Na cidade, os papéis se invertem. O utilitário compacto registra médias de 7,7 km/l com etanol e de 11,0 km/l, com combustível fóssil. O sedã fica em 7,2 km/l e 10,5 km/l, respectivamente.
Na parte de manutenção, os dois têm fama de carros que não quebram. A garantia é a mesma (três anos) e o preço fixo das revisões obrigatórias é puxado - veja os valores (arredondados) de julho de 2020 com mão de obra inclusa e base São Paulo.
Como dito, os dois são distintos na carroceria, mas se parecem muito na essência. O Civic é a pedida para quem gosta de sentir mais o carro e que frequentemente quer pegar a estrada para longas viagens. Já o HR-V é um típico citadino, confortável e prático, seja para ir e voltar do trabalho, seja para apenas fazer compras no shopping ou pegar os filhos no colégio.