Verdade seja dita: nem todo mundo procura carro pensando em apenas um segmento, e isso faz com que o dilema desse comparativo seja mais real do que você imagina. De um lado, o sedã compacto Honda City Sedan Touring. Do outro, o SUV-cupê Volkswagen Nivus Comfortline.
Apesar das propostas bem diferentes, ambos têm em comum o fato de serem carros compactos na faixa dos R$ 145 mil, que são capazes de atender - de maneira bem satisfatória - a um casal sem filhos ou a uma família com filhos pequenos.
Mas qual deles valoriza mais o meu dinheiro? E qual é a opção para quem gosta de um carro bom de guiar? Confira as respostas para essas e outras perguntas nesse comparativo.
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O Honda City Sedan de sétima geração estreou em 2019 no Sudeste Asiático e chegou por aqui no início de 2022. A primeira reestilização veio no final do ano passado, quando o carro ganhou retoques na dianteira e na traseira, além de novas rodas de liga leve.
Essa versão Touring é a topo de linha do modelo e sai por R$ 146.700. Com o objetivo de abocanhar parte da clientela que ficou órfã com o fim do Civic nacional, o City ficou maior e mais sofisticado do que no passado. Por isso mesmo é um dos modelos mais caros do segmento.
Como um bom sedã e apesar da mudança recente no visual, o City de três volumes ainda é um carro de pegada bem conservadora e que não chama tanto a atenção quanto o SUV da Volkswagen, apesar das maiores dimensões.
O City tem 4,57 metros de comprimento, 1,48 m de altura, 1,75 m de largura e entre-eixos de 2,60 m. Ou seja: o City é - consideráveis - 30 cm mais longo que o Nivus.
Já o Volkswagen Nivus foi projetado aqui no Brasil e estreou em 2020. E também mudou no final do ano passado, quando estreou dianteira e traseira reestilizados e novas rodas.
Nessa versão Comfortline, o SUV-cupê parte de R$ 143.490. Mas esse carro do comparativo é um exemplar com todos os opcionais - rodas de 17 polegadas e multimídia VW Play Connect - e a carroceria na cor Vermelho Sunset. Itens que elevam o preço final para R$ 148.570.
Apesar de compartilhar a plataforma MQB A0 com o hatch Polo, o Nivus é um carro com personalidade própria e que tem um visual mais ousado.
Mesmo menor que o City - tem 4,27 metros de comprimento, 1,50 m de altura, 1,76 m de largura e entre-eixos de 2,57 m -, ainda chama mais a atenção que o modelo da Honda. Além disso, projeta uma imagem mais "aventureira".
Os 30 cm a mais no comprimento fazem toda a diferença a favor do Honda City quando o assunto é espaço interno.
O sedã da marca japonesa oferece uma cabine mais ampla que a do Nivus e isso é perceptível principalmente no banco traseiro. Coloquei a cadeirinha do meu filho João, de três anos, e ele até desistiu de ficar tentando alcançar o banco da frente com os pés.
Ao mesmo tempo, nem foi necessário deslocar o assento dianteiro do passageiro para trás todas as vezes em que precisei levar alguém na frente. E por falar em bancos, é incrível como são confortáveis e ajudam a você sair inteiro das viagens mais longas.
Gostei também da posição de guiar - com painel baixinho - e da ergonomia, com vários e bem posicionados botões físicos. O acabamento também é melhor que o do Nivus. Mas só um pouco: os plásticos rígidos estão por todo o lado. Mas pelo menos há material macio em mais superfícies, além de um visual mais refinado.
As ressalvas são o carregador de celular por indução - que fica bem recuado no console central - e a ausência de itens de conforto aparentemente básicos, como a iluminação nos espelhos dos para-sóis e de luzes de leitura individuais na traseira.
E por falar em porta-malas, no City são 519 litros de capacidade. Um belíssimo bagageiro. Mas, por ser um sedã, o acesso não é tão amplo assim.
São mais de 100 litros de vantagem em relação ao porta-malas do Nivus, que acomoda 415 litros. Mas a área de carga do SUV da Volkswagen está longe de ser mirrada.
É mais do que suficiente para uma família pequena e anda tem a vantagem da "boca" grande, que facilita bastante a colocação e a retirada de bagagens mais volumosas.
Por outro lado, o espaço na cabine é mais próximo ao que vemos nos hatches compactos do que nos SUVs. Principalmente na área para pernas. Com a cadeirinha do João no banco traseiro, ficava praticamente inviável levar alguém com mais de 1,75 m no assento dianteiro do passageiro.
Apesar do painel alto - característico dos projetos da Volkswagen -, não encontrei dificuldade para achar uma posição ideal de guiar o Nivus. A ergonomia também é boa, mas seria melhor ainda se a marca alemã não tivesse optado por trocar os botões físicos por ícones na tela da multimídia.
O acabamento também está um nível abaixo do City: apesar dos detalhes em plástico liso e da cor cinza no painel e nas laterais de porta, dá para descrever a cabine do Nivus como monocromática e monotemática. Como nos Volkswagen mais simples.
Mas vamos falar de coisa boa: há saídas de ventilação para os passageiros do banco traseiro, além de iluminação no porta-luvas, para-sóis e luzes de leitura individuais na traseira.
Os dois carros são bem equipados. Ambos têm seis airbags, ar-condicionado automático, controlador adaptativo de velocidade, frenagem autônoma, chave presencial, carregador de celular por indução, faróis de LED com acendimento automático, câmera de ré, sensores de estacionamento traseiros.
Mas o City é mais completo: tem ar-condicionado de duas zonas, bancos de couro, assistente de ponto cego por câmera, freio de estacionamento eletrônico, sensor de estacionamento dianteiro, retrovisor interno fotocrômico e externos com rebatimento automático, faróis com facho alto automático, e os assistentes de manutenção e centralização em faixa.
Por outro lado, o Nivus dá o troco com o painel 100% digital, além de uma pacote de opcionais com rodas de 17 polegadas e a multimídia Volkswagen Play Connect, com wi-fi nativo.
O Honda City tem um motor 1.5 flex de quatro cilindros, aspirado e com injeção direta de combustível. Com etanol, desenvolve 126 cv de potência e 15,5 kgf.m de torque. O câmbio é automático, do tipo CVT.
Abastecido com gasolina, é mais econômico que o Nivus: registra médias de consumo de 15,5 km/l (estrada) e 12,8 km/l (cidade). Roda até 682 quilômetros com um tanque, que tem capacidade para 44 litros.
O Volkswagen Nivus tem motor 1.0 flex de três cilindros, turbo e com injeção direta de combustível. Com etanol, desenvolve 128 cv de potência e 20,4 kgf.m de torque. O câmbio é automático, com seis marchas.
Abastecido com gasolina, tem números de consumo um pouco inferiores aos do City. Registra médias de consumo de 14,8 km/l (estrada) e 12,4 km/l (cidade). Mas com um tanque maior, de 49 litros, roda até 725,5 quilômetros com um abastecimento.
O Honda City Sedan oferece uma experiência de condução condizente com as linhas da carroceria. Ou seja: é um típico três volumes conservador de marca japonesa.
O City é bom de guiar, mas não empolga. Tem acerto de direção leve na medida certa e com uma suspensão que fica em um meio termo entre o conforto e a estabilidade. Além de um isolamento acústico eficiente, que filtra bem os ruídos externos.
Já o motor 1.5 flex vai bem principalmente no uso urbano. Não é preciso pisar fundo para extrair um bom desempenho da máquina.
Na estrada, porém, a coisa muda. As respostas são mais lentas e o câmbio CVT claramente funciona para manter o consumo baixo. Isso incomoda, principalmente com o carro cheio.
Até existe a opção de usar o modo "S" (sport) da transmissão para ganhar mais agilidade. Mas aí o que incomoda é o fato de o motor ficar berrando alto 100% do tempo.
Os auxílios tecnológicos de condução funcionam de maneira bem eficiente e me agradaram bastante o funcionamento da multimídia - bem ágil e com layout simples - e o painel de instrumentos, que apesar de não ser 100% digital, exibe até mais informações que o do Nivus.
Diferentemente do City Sedan, o Nivus é feito para quem curte guiar.
Com direção menos leve e suspensão mais firme que a do modelo da Honda, o SUV da Volkswagen parece convidar você a explorar estradas sinuosas de pé embaixo. O motor 1.0 turbo faz toda a diferença nisso. Tem muita força mesmo abaixo de 2.000 rpm e entrega ótimo desempenho para um SUV compacto no uso urbano e na estrada.
O atraso de resposta do câmbio automático de seis marchas incomoda no início, mas depois você se acostuma. E também há a opção de usar o modo esportivo do câmbio, que entrega respostas rápidas, mas sem a aspereza excessiva vista no modo "S" do City.
Mesmo com pacote tecnológico menos recheado que o do Honda, o Nivus sai de fábrica com a - essencial - frenagem autônoma e o - nem tão essencial assim - controlador adaptativo de velocidade.
Apesar de 100% digital, o quadro de instrumentos é menos vistoso que o usado na versão Highline e concentra menos informações em uma mesma tela.
Já a multimídia Volkswagen Play Connect é uma das melhores entre as dos SUVs compactos brasileiros. É fácil de usar e permite a instalação de apps diretamente no equipamento. E, agora, tem o wi-fi nativo.
Vamos às contas. Fiz uma simulação do seguro no Auto Compara e o City levou essa, com um seguro bem mais barato que o do Nivus. Custou R$ 4.123,60 para o Honda, ante R$ 7.057,90 para o SUV da Volkswagen.
E no custo das revisões até os 50 mil quilômetros? Vantagem, desta vez, para o Nivus (R$ 2.262,80), cujas três primeiras revisões são bancadas pela Volkswagen. No City, o custo com as manutenções obrigatórias é de R$ 4.553,80.
O City anda bem, mas sem empolgar, e oferece um pacote de equipamentos mais completo e mais espaço interno. Por outro lado, tem visual mais conservador que o do Nivus e fica devendo alguns itens básicos de conforto.
Já o Nivus custa mais barato no pacote básico e agrada mais ao volante que o City. Sem contar o visual mais chamativo, capaz de agradar até mesmo que não é muito fã dos SUVs. Por outro lado, é menor e menos equipado.
Bom, e aí você me pergunta: qual desses eu escolheria? Eu, particularmente, iria de Nivus. Mas essa é uma escolha mais passional do que racional. Abriria mão da cabine mais ampla para ter um carro mais bacana de guiar.
Mas se você é daqueles que gostam de fazer contas na hora de comprar e favorecem sempre a racionalidade antes de fechar negócio, então o City é uma opção acertadíssima para você. E aí, qual seria a sua escolha?