Você pode até dizer que estou fazendo uma analogia de mesa de bar, mas não consigo dissociar a invasão dos rótulos cervejeiros do que vemos acontecer hoje no segmento de SUVs compactos. Enquanto Honda HR-V e Jeep Renegade dominam o topo do ranking, com emplacamentos na casa das 50 mil unidades ao ano, o segmento se mantém aquecido com novidades que não param de chegar. E, muitas vezes, o consumidor não sabe o que escolher. Colocamos lado a lado as novidades mais recentes: o inédito Hyundai Creta e o Chevrolet Tracker atualizado. Ambos nas versões topo de linha Prestige 2.0 e LTZ 1.4 Turbo, respectivamente.
Receitas diferentes, mesmo consumidor
O Creta é a grande aposta da Hyundai Motor Brasil, que também é responsável por HB20 no país. Isso denota que ela sabe a receita para cair no gosto do brasileiro - para que você entenda, os outros carros da Hyundai vendidos no Brasil são responsabilidade da Caoa. Primeiro SUV compacto global da marca, o Creta é fabricado em Piracicaba (SP) e empresta plataforma e motor do sedã Elantra. Na versão Prestige, vendida a R$ 99.490, ele vem equipado com motor Nu 2.0 e câmbio automático de seis velocidades. Não há borboletas para trocas de marchas, que podem ser feitas na manopla no modo M.
O motor dá vigor ao Creta, não posso negar. São 166 cv e 20,5 kgf.m de torque que aparecem integralmente aos 4.700 giros e empurram bem os 1.399 kg do modelo. Ágil na cidade, toda essa desenvoltura cobra seu preço no posto de combustível, mesmo com start-stop de série - que desliga e liga o motor automaticamente quando o veículo para e arranca em um semáforo, por exemplo. O consumo, segundo o Inmetro, é de 10 km/l na cidade e 11,4 km/l na estrada quando abastecido com gasolina. No nosso teste, porém, consegui chegar a 7,3 km/l na cidade rodando com o mesmo combustível.
O Tracker é esperto e, mesmo tendo 13 cv a menos que o Creta e sendo 14 kg mais pesado, o desempenho de ambos é equivalente.E é justamente no motor e no desempenho que o novo Tracker ganhou minha admiração. Afinal, ele já era um conhecido nosso e, depois da repaginada, o motor foi o que recebeu a maior injeção de ânimo. A Chevrolet substituiu o 1.8 aspirado por um moderno 1.4 turbo (o mesmo do Cruze) de 153 cv e 24,5 kgf.m de torque já a 2.000 giros, sendo que 90% da força chega antes, a 1.500 rotações. O câmbio é automático de seis velocidades e também não conta com borboletas para trocas de marcha. No caso do Chevrolet, as trocas em modo manual podem ser feitas por um botão na alavanca de câmbio.
O Tracker é esperto e, mesmo tendo 13 cv a menos que o Creta e sendo 14 kg mais pesado, o desempenho de ambos é equivalente. A vantagem do Tracker é que por ter mecânica moderna e a adição do turbo, ele é mais econômico e entrega mais e baixos regimes. Sabe aquela história de descer redondo? Então, o motor do Tracker está “redondinho”.
Segundo o Inmetro, o consumo do SUV da Chevrolet é de 10,6 km/l na cidade e 11,7 km/l na estrada, números que de fato conseguimos chegar em nosso teste. O motor, todavia, não é o único ponto importante para um urbano.
Equipamentos com ou sem moderação?
Estar no comando do Creta é prazeroso, por diversos fatores. A posição de guiar é elevada (bem mais que o HR-V, por exemplo) e o motorista conta com ajustes de altura e profundidade do volante, além de muitas possibilidades de regulagem de altura do banco (muitas mesmo!). A direção elétrica é progressiva e bem levinha, e o acerto de suspensão está melhor que o de seu rival Tracker. Embora ambos utilizem McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira, o Creta mostrou-se mais equilibrado entre conforto e estabilidade, já que em altas velocidades não sentimos tanta inclinação da carroceria. No exemplar da Chevrolet, a suspensão poderia ser um pouco mais firme e, claro, ele poderia vir equipado com controle de estabilidade e tração como o Creta.
O que eles não têm e que faz falta perante a concorrência que reina no topo do ranking de vendas são os freios a disco na traseira – ambos competidores utilizam tambor – , e o freio de estacionamento elétrico. No mais, a lista de “ingredientes” é vasta.
Veja a ficha técnica:
A versão Prestige, é a única das cinco do Creta, que vem com a central multimídia blueNAV. A tela de 7 polegadas sensível ao toque tem, entre outras funções, GPS integrado e compatibilidade com smartphones iOS e Android. No mínimo estranho saber que a versão 2.0 Pulse, vendida a R$ 92.490, venha apenas com o rádio BlueAudio igual ao do HB20. Não faz sendido.
Ele vem equipado com sistema multimídia My Link, tela touchscreen de sete polegadas com compatibilidade com Apple CarPlay e Android Auto. Há apoio de braço para o motorista e porta copos para os ocupantes que vão no banco de trás, mas em espaço ele perde feio para o Creta.
As dimensões são basicamente as mesmas, ambas compactas. O Creta mede 4,27 metros de comprimento, 1,78 m de largura e 2,59 m de entre-eixos. Como ele utiliza a estrutura do sedã médio Elantra, o resultado é um belo espaço interno. Já o Tracker, mede 4,25 m de comprimento, 1,77 m de largura e 2,55 m de entre eixos. Na teoria não parece grande diferença, mas na prática o Creta é mais espaçoso. Se você precisar de um bom porta-malas, então, o Creta poderá te atender com 431 litros de capacidade contra os apenas 306 l do Chevrolet Tracker. Mais um ponto negativo do Tracker é a má visibilidade da janela traseira, no Creta o campo de visão é melhor.
O Creta é feito no Brasil e a Hyundai espera vender entre 42.000 e 48.000 carros por ano. Já o Tracker vem do México e depende da limitada cota de veículos. Neste mês, ele emplacou 890 unidades. Confira os dados divulgados pela Fenabrave referentes ao mês de janeiro de 2017:
SUVs compactos - Fenabrave - jan 2017
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O Creta tem dinâmica de hatch médio e um esperto 2.0 sob o capô. Além disso, a Hyundai tem feito um belo trabalho em pós venda e oferece cinco anos de garantia. Todavia, o preço está um pouco indigesto. O Tracker tem porte de jipinho, acabamento condizente com o que cobra e um motor eficiente e moderno. O Chevrolet oferece três anos de garantia e revisões a preço fixo.
Em ambos, pontos negativos e positivos acabam sendo compensados, por isso a pontuação ficou tão próxima como vemos abaixo. Se a Hyundai remanejar os pacotes de equipamentos, com uma divisão mais justa entre suas versões, o Creta tem tudo para ganhar a preferência nacional. Nestas configurações, porém, a Chevrolet, entrega um conjunto interessante, unindo mecânica moderna e boa lista de equipamentos, por um preço mais competitivo - R$ 9.590 a menos que o rival da Hyundai. Em épocas de economia difícil, esse "troco" é muito bem-vindo. Com ele, é possível pagar um ano de seguro, as primeiras revisões e até a cervejinha do final de semana, seja ela qual for. O que importa é que temos opções para escolher, mas para o meu paladar, quem desceu melhor foi o Chevrolet Tracker. Cheers!
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