Regras dos Bombeiros podem frear avanço dos EVs

Nos últimos dias mais uma polêmica envolvendo o futuro dos carros elétricos no Brasil apareceu - esta, em específico, criada pelo Corpo de Bombeiros de São Paulo.

O que rolou?

Na última sexta (5), a entidade militar paulista (do Governo do Estado, portanto) emitiu uma consulta pública a respeito de um parecer técnico que exigiria novas medidas de segurança para as futuras instalações de vagas para recarga de carros elétricos (EVs).

O texto, que pode ser lido na íntegra por este link, fala sobre pontos de recarga em estacionamentos públicos, prédios e subsolos.

Em resumo, para poder emitir laudo de segurança, os Bombeiros passariam a exigir que os pontos de recarga fossem separados por uma distância de cinco metros - ou que houvessem paredes resistentes a fogo com os mesmos cinco metros que aguentassem resistir às chamas por pelo menos 90 min.

Tem mais: se as vagas de recarga forem em subsolos, a exigência do laudo ainda inclui chuveiros automáticos - sprinklers - com números específicos de razão e pressão de água.

O documento também diz que as vagas destinadas a EVs deveriam ter pelo menos dois extintores do tipo ABC, com distância máxima de 15 metros do local; layout claro que não prejudique ou dificulte o possível combate ao incêndio; e, ainda, também em subsolos, sistema de ventilação para dissipação de gases tóxicos.

Quem falou isso?

Os Bombeiros paulistas afirmam no documento que o parecer técnico "foi desenvolvido pelo diligente trabalho da Comissão Especial".

Eles também dizem que "os incêndios em carros elétricos são de difícil extinção, com necessidade de grandes quantidades de água".

E por fim citam terem consultado, em "estudo globais", que a melhor maneira de combater o incêndio é por meio da "rápida detecção".

Calma lá, Bombeiros!

Mesmo com todos esses argumentos, é importante dizer que o documento oficial não mostrou dados estatísticos sobre a quantidade de incêndios originados por carros elétricos ou por postos carregadores que já foram combatidos pela corporação.

Estudos feitos por agências especializadas de países onde há muito mais carros elétricos rodando, como no caso dos Estados Unidos e em algumas nações do norte europeu, afirmam que a chance de incêndio em carro elétrico é de 25 a cada 100 mil veículos.

Os mesmos relatórios dizem que a chance de um carro a combustão pegar fogo na mesma escala é de 1.530 unidades a cada 100 mil.

Ou seja, a chance de um carro elétrico pegar fogo é aproximadamente 60 vezes menor que a de um carro que tenha motor a combustão interna.

E também vale dizer que ainda não houve registro oficial de incêndios em carros elétricos ou em postos de recarga no Brasil.

Lembramos que, em 2024, apenas nove Estados brasileiros e o Distrito Federal não cobraram IPVA de carros elétricos - em SP, só a metade do valor é restituída, embora haja isenção do rodízio na capital.

E se aprovarem?

Caso a portaria de número CCB-001/800/2024 seja aprovada, os custos para instalação de novos pontos de recarga - e de readequação dos atuais já existentes - poderiam encarecer os projetos em mais de 238%, de acordo com alguns levantamentos.

Isso segundo algumas pesquisas feitas em lugares públicos, como em alguns supermercados e vagas de shopping.

No caso de instalação em futuros prédios, a ideia fica praticamente inviabilizada.

"Estamos construindo um condomínio pequeno e eu queria colocar um ponto de tomada de 330 Volts em todas as cerca de 12 vagas que teremos no espaço. Se isso for aprovado, sem chance: as vagas não terão pontos de recarga", afirma Marcos Fernandes, construtor e empreendedor.

Fato é: se com as regras atuais a demanda por locais públicos de recarga já quase não atende aos consumidores de carros elétricos, essas exigências podem e devem complicar ainda mais o futuro desse tipo de automóvel.

Se aprovada, a portaria CCB-001/800/2024 tem tudo para frear o avanço dos EVs.

Todo cidadão tem direito de se manifestar, seja a favor ou contra. Para isso, é preciso mandar um e-mail para este endereço.