A primeira aparição oficial aconteceu no Festival Interlagos - Motos do ano passado. Mas foi quase uma estreia "fake": na época, a moto exibida não era a que seria montada em Manaus (AM) e vendida no Brasil. Depois rolou mais um ano de espera e, na edição deste ano do mesmo evento, a moto finalmente foi mostrada em sua "versão brasileira".

Boa parte dessa espera se deveu a dificuldades na homologação da moto no Brasil. É que nosso Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares (Promot) é um dos mais rígidos do mundo. E, além disso - e pior ainda -, a aferição brasileira de ruídos de motos é diferente da que é feita em quase todo o resto do mundo, o que dificulta ainda mais o processo.
Isso tudo é tão real que muitas motos já saíram de linha no Brasil apenas porque não iriam "passar" na fase do Promot que entraria em vigor no ano seguinte. Algumas delas, inclusive, continuam sendo vendidas lá fora.
E também, pelos mesmos motivos, há motos que são vendidas em vários países e jamais deram as caras por aqui. É o Brasil sendo Brasil. Mas finalmente a Yamaha Ténéré "passou de ano" e apareceu.
E como é essa esperada trail?
A Ténéré 700 exibe um design absolutamente coerente com suas origens e com as antecessoras - leia-se a história das trail da Yamaha, que inclui modelos como as antigas Ténéré 600, Super Ténéré 750 e Super Tenéré 1200, e até as derivadas XT 600E, XT 660R e XTZ 250 Ténéré.
Ou seja, tem uma forte pegada trail, linhas agressivas e imponentes e transmite aquela sensação de que topa tudo. A frente com "cara chata" tem conjunto óptico com LEDs, dois projetores para luz baixa e dois para luz alta, e luzes de rodagem diurnas. Logo acima, a moto tem para-brisa com cerca de 30 cm de altura, e atrás dele surge um bonito painel de instrumentos com tela vertical de TFT tipo tablet.
Mais atrás vem um tanque de dimensões enxutas - apenas 16,2 litros - mas com desenho bonito, um banco tipicamente trail feito em peça única e com desenho quase reto, e rabeta curta e magrinha. A lanterna é pequenina e os piscas também são diminutos, mas tudo de LED.
O conjunto é complementado por belas rodas raiadas douradas, que calçam ótimos pneus de uso misto Michelin Anakee Adventure nas medidas 90/90 R21 na frente e 150/70 R18 atrás, e por suspensões com lindos tubos invertidos - dourados ou na cor preta, dependendo da pintura da "roupa".
Na frente são 21 cm de curso e atrás, no monochoque, são 20 cm de curso. Ambas são ajustáveis. A distância livre do solo é de 24 cm e o banco fica a 87,5 cm do solo - portanto, não é uma moto fácil para pessoas de baixa estatura.
A moto ainda tem freios com ABS nas duas rodas - disco duplo na frente e simples atrás - e controle de tração na traseira. Mas esses dispositivos podem ser desligados para melhorar a performance no off-road.
O motor da mostrinha é um bicilíndrico injetado com oito válvulas, duplo comando e refrigeração líquida. Com exatos 689 cm³ de cilindrada, rende 68,9 cv de potência a 9.000 rpm com torque de 6,6 kgfm a 6.500 rpm.
A transmissão é bem convencional, com seis marchas e secundária por corrente. Parece mais que suficiente para levar adiante os 208 quilos da moto em ordem de marcha, mais o peso do piloto, certo? Mas será mesmo? Confira abaixo.
Nosso ride foi feito em São Paulo. O percurso, relativamente curto, teve cerca de 170 quilômetros. Passamos por ambiente bem urbano na capital paulista, depois pela bem pavimentada e muito movimentada Rodovia Raposo Tavares até chegar em trechos de terra, cascalho, areia e em obras nos arredores de São Roque e Ibiúna - duas cidades no interior.
Ou seja, pegamos todo tipo de piso com a Ténéré 700.
E como foi essa experiência com a "T7"? Bem, no trânsito urbano a moto da Yamaha não ficou muito à vontade. Nem ficou muito presa nos congestionamentos e até passou com alguma facilidade nos corredores - até porque é alta. Mas não exibiu a agilidade necessária para ser, por exemplo, uma moto para o dia-a-dia.
Isso acontece porque o piloto "sente" o peso da moto o tempo todo. E isso, por sua vez, decorre mais das dimensões da moto do que propriamente do peso: é uma moto proporcionalmente comprida - tem 2,37 metros de comprimento com 1,59 metro de entre-eixos. E como toda moto proporcionalmente comprida, a agilidade em baixas velocidades não é seu forte.
Além disso a "T7" não exibe sua melhor performance em baixos giros, predominantes em ambiente urbano. É preciso cambiar com frequência para encher o motor, que só vai responder melhor depois das 5.000 rpm.
Já na estrada, em velocidades mais altas, a trail da Yamaha vira outra moto. Exibe disposição, chega muito facilmente aos 100 km/h e supera essa velocidade rapidamente.
E como também exibe uma estabilidade excelente, o piloto precisa ficar atento: é o tipo de moto que, a 150 km/h, grita e vibra pouco, e quase não sofre turbulência aerodinâmica - por isso, parece estar ali pelos 110 km/h.
Em resumo: na estrada, a Ténere 700 roda muitíssimo bem e os pneus Michelin Anakee Adventure, embora de uso misto e relativamente cravudos, mantêm a moto grudada no asfalto.
Hora do off-road. Não pegamos trilhas pesadas, óbvio, mas rodamos por diferentes tipos de piso. Aí é hora de desligar o controle de tração e o ABS para ter mais controle de da moto. E por lá ela mostrou que encara com facilidade terra, cascalho, areia e o que mais surgir pela frente. O torque é mais que suficiente para garantir diversão, adrenalina e segurança, e a roda dianteira de 21 polegadas ajuda a transpor obstáculos com tranquilidade.
Mas... Quase sempre há um "mas"...
Novamente é preciso cambiar com frequência para "encher" o motor e extrair a melhor performance. Ocorre que, por força da homologação, o mapa da injeção da "T7" deixou a primeira, a segunda e a terceira marchas relativamente mansas, ao passo que em quarta, quinta ou sexta marchas as respostas são bem mais desinibidas.
É uma moto manca? Não. Mas é preciso saber aprender bem a trabalhar com o acelerador e com o câmbio para explorar seu potencial.
No off de baixa velocidade é preciso reduzir marchas com frequência apenas para "acordar" o motor e aí, na sequência, subir a marcha novamente. Em altas velocidades, contudo, isso não é necessário: basta virar o acelerador que a moto responde prontamente.
As suspensões, por outro lado, não têm qualquer deficiência: trabalham bem e mantém a moto "nos trilhos" em quaisquer situações. O mesmo pode ser dito dos freios, que proporcionam frenagens absolutamente seguras. O painel de instrumentos, por sua vez, tem ótima visualização e é bem fácil acessar as informações.
Tipicamente trail, o banco é quase reto e relativamente duro. Por isso, não é muito confortável. Pilotar sentado ali cansará a retaguarda depois de umas duas horas.
Mas, curiosamente, há uma boa compensação: a "T7" é facílima de se pilotar em pé. A moto tem excelentes pedaleiras, que são largas e dentadas, e cujas borrachas podem ser removidas para ganhar mais "grip".
Além disso, os joelhos ficam bem encaixados no tanque, cujo desenho favorece justamente isso. Por outro lado, quem for viajar levando garupa deve pensar, já no ato da compra, em trocar o banco original por um modelo "conforto".
O preço público sugerido para a Ténéré é R$ 72.990. Acrescente a isso mais pelo menos R$ 2 mil de frete e seguro, e o valor da moto vai para cerca de R$ 75 mil. Some um eventual sobrepreço praticado pela concessionária - algo comum para motos recém-lançadas no Brasil, infelizmente -, e o total poderá chegar perto de R$ 78 mil.
É uma moto cara. Mas vale o preço (sem ágio) pelo conjunto, pelo valor histórico e até pela exclusividade - provavelmente não se tornará tão comum nas ruas quanto suas antecessoras. Mas, definitivamente, agradará muito que curte as trail médias mais raiz, mais ainda aos fãs da Yamaha e, em especial, os órfãos das antigas Ténéré.
Importante acrescentar que, independentemente do preço de compra, quem fizer questão absoluta de ter uma Ténéré 700 com um desempenho realmente forte em qualquer tipo de terreno, e em qualquer faixa de rotação, deverá gastar um troco para fazer um "remap" e deixar a moto com a mesma disposição da que é vendida lá fora. Mas convém verificar se o "remap" não compromete a garantia da moto.
Por enquanto, a Ténéré tem feito sucesso e preço não tem sido problema: o primeiro lote de produção, de agosto, já acabou. A compra voltará ser disponível somente em outubro, quando as unidades do segundo lote chegarão às concessionárias e serão oferecidas também para aquisição online.
A Ténéré 700 é anunciada nas cores Racing Blue (o tradicional azul escuro da Yamaha), Sky Blue (um azul claro muito bonito) e Frozen Titanium (um tom cinza elegante e imponente). A garantia da moto é de quatro anos.
Preço: R$ 72.990
Cores: Racing Blue (azul escuro), Sky Blue (azul claro) e Frozen Titanium (cinza)
Motor: bicilíndrico, 689 cm³, oito válvulas, comando duplo, refrigeração líquida, 68,9 cv de potência a 9.000 rpm, 6,6 kgfm de torque a 6.500 rpm
Transmissão: câmbio de seis marchas e secundária por corrente. Controle de tração
Suspensões: tubos invertidos na frente com 21 cm de curso e monochoque traseiro com 20 cm de curso, ambas ajustáveis
Freios: disco duplo na frente disco simples atrás, com ABS
Pneus: 90/90 R21 na frente e 150/70 R18 atrás
Dimensões: 2,37 m de comprimento, 1,59 m de entre-eixos, 93,5 m de largura, 1,44 m de altura, 24 cm de distância livre do solo e banco a 87,5 cm do solo
Peso: 208 quilos em ordem de marcha
Tanque: 16,2 litros
Consumo: 21,7 km/l (medição WM1 no test-ride)