O Honda ADV foi lançado oficialmente no final de novembro, mas a apresentação para os jornalistas - e o aguardado test-ride - só aconteceu agora, ainda por conta da pandemia de Covid-19. Antes tarde do que nunca, tivemos a oportunidade de fazer uma ótima experimentação deste inusitado scooter - que é uma das novidades mais legais dos últimos tempos no mercado brasileiro de duas rodas.
A proposta do ADV é muito interessante: fazer o que todo scooter faz - rodar em âmbito urbano nas pequenas e médias distâncias do dia a dia -, mas com a possibilidade de ir além, por caminhos pouco convidativos, em passeios de fim de semana por estradinhas de terra.
Essa pegada aventureira, cada vez mais na moda, é uma herança do irmão maior e muito mais caro X-ADV, que serviu de inspiração para o ADV. Boa estratégia da Honda: já que o scooterzão de 750 cm³ foi muito bem recebido, mas custa caro (R$ 71 mil) e vende pouco, a marca criou um irmão bem menor, com motor de 150 cm³, e mais acessível. Se não tem as aptidões do grandão, entrega proposta parecida - e, no fim das contas, sua versatilidade aplica-se também na cidade, como veremos adiante.
A criação do ADV nem foi tão complexa. O aventureiro compartilha componentes com o PCX 150, inclusive o motor. O que muda são os dutos de admissão e escape 2 cm mais longos, que em teoria permitem ao ADV fornecer respostas mais encorpadas em rotações médias. Na prática, algo quase imperceptível.
Os baratos do ADV são, na verdade, vários outros. A começar pelo design. Inspirado no desenho do X-ADV, é agressivo, moderno, muito bonito e sobretudo harmonioso - sem os excessos ou as estranhezas que muitas vezes vemos em scooters de origem asiática. Temos linhas algo retas e encorpadas, frente imponente e traseira arrebitada.
O acabamento e o recheio também são bacanas: iluminação toda em LED, luzes de rodagem diurnas (DLR), banco em duas alturas (com espaço embaixo para um capacete fechado e mais alguma coisa, total de 27 litros), bocal do tanque no assoalho, chave presencial, start-stop, porta-luvas com tomadinha 12 V, para-brisa com dois ajustes de altura e um painel retangular estilo tablet com fundo preto muito completo - mostra até carga da bateria, alerta de troca de óleo e consumos médios independentes nos dois "trips" (A e B).
O motor é monocilíndrico com refrigeração líquida, 149 cm³, 13,2 cv de potência a 8.500 rpm e 1,3 kgf.m de torque a 6.500 rpm. O câmbio, claro, é automático do tipo CVT - inerente a qualquer scooter. Mas outros componentes saltam mais aos olhos.
É o caso da suspensão traseira Showa, que é bichoque e tem molas progressivas de três estágios e amortecedores com reservatórios externos. Ou das rodas de liga leve, que são pintadas, têm aros de 14 polegadas na frente e 13 polegadas atrás, e vestem pneus de uso misto Metzeler Tourance (medidas 110/80 130/70) - coisa de gente grande...
É hora de acelerar o ADV e nosso trajeto contempla um longo trecho pela Rodovia Monteiro Lobato, com saída em São José dos Campos, e lá pelas tantas uma vicinal com aproximadamente 10 km de terra para vermos do que esse scooter é feito.
O primeiro contato é muito amigável. Guardo minha mochila sob o banco e ainda sobra bastante espaço. Chave presencial no porta-luvas, é só girar o botão na parte interna do escudo e ligar o motor, cujo ruído é discretíssimo. Logo vejo que a posição de pilotagem é satisfatória - o guidom, mais alto que o do PCX 150, faz com que as costas fiquem bem retas. É quase uma posição de moto trail.
Saímos pelas ruas de São José dos Campos, e ali o ADV parece se comportar como um scooter comum. Mas bastam alguns quarteirões para ver a diferença: a vantagem das suspensões mais altas que as da maioria dos scooters. Com curso de 13 cm na frente e 12 cm atrás, contra 10 cm na maioria dos outros modelos, em média, o ADV enfrenta melhor buracos e quebra-molas - e, neste caso, o bom vão livre de 16 cm também ajuda bastante. Ou seja, a aptidão "off-road" ajuda também no "on-road"!
Chegamos à Rodovia Monteiro Lobato e o ADV percorre suas retas e muitas curvas com destreza e segurança. Pilotar esse scooter é uma experiência agradável. Como já foi dito aqui, minha referência para scooters é minha coluna cansada: até hoje apenas o confortável Yamaha XMax 250 não me deu dor nas costas depois de uns 10 quilômetros percorridos. Pois bem: o Honda ADV é o segundo a realizar esse feito.
E aqui vale lembrar que nossa experimentação inclui um trecho com terra batida, costelas, buracos e pedras - usam e abusam do pequeno scooter. E nada de dor nas costas. Mais uma vez, efeito da ótima suspensão, ainda que o banco não tão confortável - é mais anatômico do que macio.
Em todos os ambientes - cidade, estrada de asfalto e terra - o ADV não decepcionou. Foi ágil e seguro, e jamais deu sustos. Na terra é preciso se acostumar ao ABS somente na roda dianteira. Nas curvas, deite o cabelo até raspar a pedaleira. E os pneus ofereceram ótima aderência em todos os pisos (não experimentamos molhado, pois milagrosamente não pegamos chuva).
O pequeno para-brisa é mais bonito do que útil: na posição mais baixa, direciona o vento na direção do piloto. Na mais alta, apenas não tem esse efeito - mas não desvia o vento.
Outro aspecto relativamente negativo do ADV é o tal painel "blackout" - com fundo preto - do qual a Honda tanto se orgulha e que está em várias modelos da marca. Assim como já (não) vimos antes, sob o sol forte fica difícil enxergar várias informações. Inclusive uma que se destaca: o consumo - no nosso test-ride, o ADV chegou a anotar elogiáveis 52,2 km/l de consumo médio!
É bom economizar em algum quesito. Vendido nas cores vermelha ou branca, o ADV 150 custa R$ 17.490, um valor excessivamente distante do cobrado pelo irmão quase gêmeo PCX 150, que vai a R$ 14 mil na versão mais barata com ABS. R$ 3.490 de diferença é muito - uns R$ 2.500, no máximo, seria mais coerente. Na relação custo/benefício, o ADV 150 está um degrau acima do que seria o ideal. Mas não dá pra negar que é uma boa compra.