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Honda CB 1000 R x São Pedro: uma saga climática!

Pilotamos a linha 2023 da naked sob condições de tempo extremamente adversas. Mas elas valorizaram as virtudes da moto

por Roberto Dutra

O convite parecia promissor: um test-ride de experimentação com a nova Honda CB 1000 R linha 2023 em um trajeto que não via chuvas há quase 50 dias. A saída seria em Mogi-Mirim, interior de São Paulo, e o destino era Socorro, mais "para cima", mas por um roteiro diferente - entrar e sair no Estado de Minas Gerais, com passagem por cidades como Ouro Fino, Bueno Brandão e Monte Sião, para depois retornar a Mogi-Mirim. Na maior parte do tempo, por estradinhas secundárias asfaltadas, bem sinuosas e com pista simples.

Mas São Pedro, esse brincalhão, resolveu atrapalhar nosso grupo - o terceiro de cinco, divididos ao longo da semana. As turmas de segunda e terça viveram dias de sol de brigadeiro e nenhuma nuvem no céu, assim como as de quinta e sexta. A nossa, de quarta - da mesma semana! - enfrentou uma espécie de frente fria "The Flash", que chegou na noite de terça pra quarta e foi-se embora na madrugada de quarta para quinta. Vai entender os desígnios climáticos da vida...

Como anda a Honda CB 1000 R

Então acordamos bem cedo e oito e pouco da manhã já estávamos prontos para a estrada - devidamente protegidos por incômodas capas de chuva para segurar a onda da água que já caía.
Antes da partida fomos apresentados a uma das ótimas novidades introduzidas na Honda CB 1000 R 2023: o novo painel, que além de ter uma linda telinha de TFT colorida e ser completíssima em informações, também tem conectividade Bluetooth.
Se você estiver com um capacete Bieffe equipado com o esperto sistema Smart Trip, como era o meu caso, ou com qualquer outro capacete equipado com receptor Bluetooth, você consegue ouvir música, atender e fazer chamadas e até trocar mensagens de whatsapp através de interações com o painel (que transforma as mensagens escritas em mensagens de áudio).
O celular pode ir no bolso ou guardado em um espaço sob o banco do garupa, onde inclusive há uma tomadinha USB - aí, carrega durante a viagem! Pode parecer complicado, mas não é. Acredite: se eu consegui, qualquer um consegue!

Sob chuva, partimos. Começo na versão standard, vermelha, com a promessa de mais à frente pegar também a Black Edition - uma segunda configuração, antes inédita, que além da pintura toda na cor preta tem alguns quitutes a mais: peças como o subquadro e os garfos dianteiros são escurecidos, e ainda há um protetor de painel também na cor preta, quickshifter bidirecional e capa do banco do garupa para simular monoposto.
Qual um vampiro de filme hollywoodiano, essa versão Black Edition mistura elegância, sofisticação, agressividade e um certo jeito sinistro. Essa é para desfilar e tirar onda!

A moto realmente ficou mais bonita! Mudaram apenas alguns detalhes: o novo farol é oval e tem halo em formato de ferradura (antes era redondo), as proteções laterais do radiador ficaram mais longilíneas, o subchassi, antes na cor preta, agora é na cor prata e as tampas laterais ficaram menores. Mas foi o suficiente para dar à CB 1000 R um aspecto mais moderno e agressivo.
O tal estilo "neo sports cafe" nunca impressionou muito aqui no mercado brasileiro, mas é inegável que tanto esta CB 1000 R quanto sua irmã menor CB 650 R têm personalidade. Apenas são bem diferentes do estilo naked usual, que sempre aposta na agressividade visual - às vezes, com exagero. Aqui, há um toquezinho retrô bem interessante.

A viagem começou com alguns retões, mas logo veio a parte mais interessante: as serras que nos levariam a cruzar duas vezes a divisa SP-MG. Com chuva o tempo todo - às vezes forte, às vezes fraca - descubro uma motocicleta que impressiona especialmente pela segurança que transmite durante a pilotagem. As condições adversas do nosso test-ride, que incluíram não só a chuva, mas pista sempre encharcada, alguns bolsões de água, e muitas vezes lama e sujeiras, apenas valorizaram essa característica.

Além de andar muitíssimo bem, a CB 1000 R faz curva e freia com incrível segurança. Em velocidades compatíveis com as condições do dia, não passei por absolutamente nenhum susto em qualquer momento. O motor de quatro cilindros em linha derivado do usado em versões anteriores da superbike CBR 1000 RR Fireblade ronrona em qualquer faixa de rotação, está sempre cheio e oferece respostas vigorosas o tempo todo.
O câmbio é levíssimo e não exige força nem na mão e nem no pé. Os ótimos pneus Pirelli Diablo Rosso e os excelentes freios Tokico proporcionam aderência e frenagens excelentes. Naturalmente contamos com as ajudas divinas do sistema ABS, do controle de tração e do modo de pilotagem escolhido - "rain" (chuva), obviamente. Além dele, há mais três - standard, sport e user (este, customizável), que mexem com nível de entrega da potência e interferências do controle de tração e do freio-motor.

As suspensões da japonesa Showa também são um espetáculo, desde que adequadamente ajustadas ao peso do piloto e ao tipo de asfalto que se vai pegar. A configuração de fábrica, mesmo com ajustes milimétricos de compressão, retorno e pré-carga da mola na frente e com 10 regulagens de pré-carga atrás, é um pouco dura. E como o banco também não é muito macio, senti algum desconforto depois de algumas dezenas de quilômetros.
Já em relação à ergonomia, mais acertos do que erros: guidom e pedaleiras estão em posição adequada e não cansam. Mas se o piloto for muito alto e "pernalonga", ficará com os joelhos mais dobrados que o desejável. Além disso, os espelhos são quase uma licença poética - com hastes curtas, metade da retrovisão é ocupada pelos cotovelos do piloto - e uma garupa ali atrás terá vida difícil, com pouco espaço de banco e pernas muito dobradas. Rolé acompanhado, só se for curtinho...

O conjunto em perfeita harmonia dinâmica proporciona uma maneabilidade ímpar. Com pouco mais de 200 quilos de peso em ordem de marcha, a CB 1000 R parece ser bem mais leve. É o tipo de moto que você "leva" para onde quiser, pois muda as trajetórias com extrema facilidade e deita nas curvas em ângulos além do esperado.
Mas, como qualquer moto, não permite abusos de autoridade. Ainda mais em condições adversas: infelizmente um integrante do nosso grupo sofreu uma queda ao fazer uma manobra evasiva para escapar de um caminhão que vinha em sentido contrário e abriu demais na curva. Na pista molhada e enlameada, acabou "comprando um terreninho". Mas felizmente apenas o orgulho saiu ferido.
Pouco depois chegamos ao nosso destino, Socorro (sem trocadilho), onde visitamos o Centro Cultural Movimento (CCM). É um museu que conta parte da história do ciclismo e do motociclismo no Brasil, com destaque para competições - seus personagens e seus feitos, e as motos e bicicletas que fizeram história. Vale muito a visita!

Devido ao infortúnio do colega e à chuva que não parava, a Honda decidiu encerrar o test-ride ali, antes do trecho final de 50 quilômetros até Mogi-Mirim. Por conta disso, não tive a oportunidade de experimentar a versão Black Edition - algo que será feito em breve, em matéria exclusiva.
Mas os 150 quilômetros rodados com a standard deixaram excelentes impressões dinâmicas e poucas ressalvas. A CB 1000 RR é, de fato, uma ótima opção de naked moderna e diferente, bem equipada e confiável. A versão standard custa R$ 71.900 (sem frete), na cores prata ou vermelha. Já a Black Edition custa R$ 79.970 (sem frete). A diferença de R$ 8.070 é maior que os recursos e adereços a mais oferecidos em relação à standard. Mas, aqui, cobra-se também pelo desfile mais bonito e exclusivo.

Ficha Técnica - Honda CB 1.000 R / Black Edition

Preços: R$ 71.900 (standard) e R$ 79.970 (Black Edition) Motor: quatro cilindros em linha, 16 válvulas, comando duo, refrigeração a água, 998,4 cm³, 142,8 cv de potência máxima a 10.500 rpm e torque de 10,2 kgf.m a 8.250 rpm Transmissão: câmbio de seis marchas com secundária por corrente Suspensões: Showa com garfos invertidos na frente e monochoque atrás, apoiado em balança monobraço Freios: disco duplo na frente e simples atrás, com ABS Pneus: 120/70 R17 na frente e 190/55 R17 atrás Dimensões: 2,12 m de comprimento, 78,9 cm de largura, 1,09m de altura, 1,45 m de entre-eixos, 13,2 cm de distância mínima do solo e 83,3 cm de altura do banco Peso: 201 kg a seco Tanque: 16, 1litros Consumo médio: 16 km/l (medição Webmotors)

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