O caro leitor que é ligado em motos e que não passou os últimos meses em Marte já deve saber: a Mottu Sport 110i é um fenômeno de vendas no mercado brasileiro de motocicletas.
Já no ano passado o modelo apresentou ótima performance nas vendas durante vários meses. No início deste ano, deu uma caída. Mas se recuperou e, em abril e em maio, foi simplesmente a segunda moto street/city de baixa cilindrada mais vendida do país - atrás apenas da indefectível Honda CG 160.
É um feito e tanto: a Mottu Sport 110i superou modelos consagrados e também best-sellers, como as Yamaha Factor 150, Fazer 150 e Fazer 250. E deixou na poeira, de longe, as Haojue DK 150 e DR 160, e a Bajaj Dominar 160, entre outras.
Sim, a Mottu Sport 110i é um fenômeno.
Não só pelas vendas, mas por outros aspectos que a cercam. Por exemplo, a Mottu não é fabricante de motocicletas. Mas as motos - que originalmente são feitas pelas gigante indiana TVS, enviadas ao Brasil desmontadas e, na sequência, montadas em Manaus (AM) - são emplacadas como Mottu.
Aliás, Mottu não é nem marca de motocicletas. É uma startup de mobilidade urbana. A empresa compra as motos da TVS e as vende ou aluga principalmente para trabalhadores de delivery - motoboys -, turma que muitas vezes não consegue o financiamento tradicional para comprar uma motocicleta.
Por fim, vale destacar que, embora até tenha presença em várias capitais do país, os negócios da Mottu são mais concentrados na grande São Paulo. Em resumo: com todas essas particularidades - e teóricas limitações - , a Mottu Sport 110i consegue registrar vendas extremamente significativas.
Motivado por tudo isso, aproveitei o Festival Interlagos - Motos 2025, que terminou no último domingo (1/6) para criar uma oportunidade única e exclusiva: experimentar a pequena Sport 110i e ver se vale a pena pagar R$ 10 mil - ou alugá-la por menos de R$ 20 por dia.
Pude acelerar a motoquinha na chamada "Pista de Mobilidade" do evento. É um pequeno circuito em área quadrada, com trajeto demarcado por cones, na qual os pilotos devem cumprir um determinado trajeto bem travado no menor tempo possível e sem cometer penalidades, como botar os pés no chão ou derrubar cones.
Aqueles que conseguissem iriam disputar uma espécie de "final" no domingo, último dia do evento. E o ganhador levaria para casa uma Sport 110i ou seu valor em dinheiro. Valia a tentativa, hein?
Obviamente não entrei na pista para a disputa e nem preocupado em fazer o trajeto. Meu foco era experimentar a moto. Spoiler: fiquei bem surpreso com o que descobri.
Agora, na linha 2025, a Mottu Sport 110i mudou de nome para Mottu Sport ESD. Isso porque ganhou melhorias, como novo banco, ergonomia revista, partida elétrica (o quique ainda está lá) e freios combinados CBS, com disco na roda dianteira.
Mas o motor é o mesmo de sempre: monocilíndrico, refrigerado a ar e alimentado por injeção eletrônica, com modestos 110cm³ de cilindrada. Entrega 8,1 cv de potência a 7.350 rpm e torque de 0,9 kgfm a 4.500 rpm. O câmbio tem quatro marchas - todas para "cima" - e a secundária obviamente é por corrente. As outras especificações importantes da moto você pode ver no fim dessa matéria.
Visualmente a Sport 110i (ou ESD) não impressiona. É pequena e tem design defasado, com farol e lanterna grandes, uma carenagem "aerodinâmica" meio exagerada no farol dianteiro e volumes mais quadrados do que arredondados.
Nada de LED, e o painel se limita a um velocímetro analógico, ao marcador de combustível e às luzes-espia. No punho direito, não há corta-corrente. Os piscas com lentes transparentes são o único charme.
Tudo é muito simples, mas extremamente adequado à vocação da moto, de ser uma operária do trabalho. O farol e a lanterna, por exemplo, são ótimos para garantir que o usuário seja visto.
O banco é grande e leva duas pessoas sem aperto, e lá atrás a alça para o garupa também é grande. Os espelhos, por sua vez, têm hastes de bom comprimento - e, como notei, não "tremem" demais.
Os pneus sem câmara são outra vantagem: furou? Bote um "macarrão" e volte ao trabalho. Por fim, o motor modesto entrega ótimo consumo, que pode chegar a 65 km/l - com tanque para 10 litros, a autonomia pode chegar a 650 quilômetros. Os R$ 10 mil cobrados pela moto começam a vale a pena, não é?
Hora de acelerar. No circuitinho travado, o que pude fazer foi abrir o acelerador com mais vontade cruzando nas diagonais da área quadrada, alterando com zigue-zagues por entre os cones para sentir a agilidade da moto.
E a Sport 110i me surpreendeu: responde bem ao acelerador e ganha alguma velocidade com vigor - embora, claro, o mono de 110cm³ não faça milagres.
Por suas especificações, essa moto certamente não passa dos 110 km/h - velocidade em que também chega com muito esforço -, mas médias de 60 km/h a 80 km/h são mais do que compatíveis com sua proposta e com o trânsito urbano de uma metrópole como São Paulo.
Por entre as sequências de cones descobri uma moto leve, muitíssimo ágil e que obedece de pronto às mudanças de trajetória pedidas pelo piloto ao guidão.
Acionei os freios seguidamente para tentar esquentá-los, e em momento algum senti perda de eficiência. O sistema combinado não impressiona, mas também não assusta.
O que pegou, um pouco, foi o câmbio. Com as quatro marchas para cima, exige que o piloto se acostume - afinal, hoje em dia quase todas as motos do mundo têm a primeira para baixo.
Além disso, os encaixes não foram tão precisos nem macios. Por outro lado, a posição de pilotagem agrada, o banco é bem confortável mesmo para longas jornadas diárias e os punhos proporcionam uma "pegada" confortável.
Por fim, importante ressaltar que a moto transmitiu impressão de solidez e robustez, algo que nem sempre podemos esperar de uma motoquinha de baixa cilindrada e preço enxuto feita na Índia.
Nada de peças mal encaixadas batendo ou sensação se que algo ali vai "desmontar" em breve. Ela é de fato muito interessante.
Bom, se você precisa de uma moto para ralar diariamente, não quer ou não pode pagar em torno de R$ 18 mil a R$ 20 mil em um modelo de outra marca e não faz questão de desempenho forte nem pretende ser mais um tresloucado "Valentino Rossi das ruas", a Mottu Sport 110i pode ser uma boa.
Primeiro, porque proporciona o desempenho necessário para o trabalho de delivery. Segundo, porque não vai pesar demais no seu bolso - R$ 10 mil é a metade do preço de quase todas as outras motos city/street de baixa cilindrada vendidas no mercado brasileiro.
Vale ressaltar, ainda, que a motoquinha também pode ser uma ótima opção para a mobilidade urbana. Resolve o vai e vem diário, de casa para o trabalho e vice-versa, para quem não faz questão de desempenho e não quer ter uma moto "visada" por quem não deve.
Para completar, o consumo de até 65 km/l é excelente e até mesmo as peças de reposição da moto têm valores civilizados. Inclusive pesquisei alguns - confira abaixo:
Mottu Sport ESD
Preço: R$ 10 mil
Cor: preta
Motor: monocilíndrico, refrigerado a ar, injetado, 110 cm³, 8,1 cv de potência a 7.350 rpm e torque de 0,9 kgfm a 4.500 rpm
Transmissão: câmbio de quatro marchas com secundária por corrente
Suspensões: tubos convencionais na frente e bichoque com cinco ajustes atrás
Freios: a disco na frente e a tambor atrás, com CBS
Pneus: 2.75 R17 na frente e 3.00 R 17 atrás, ambos sem câmara, em rodas de liga leve
Dimensões: 1,95 m de comprimento, 70,5 cm de largura, 1.080 m de altura 1,23 m de entre-eixos, vão livre de 17,5 cm, 110 quilos de peso em ordem de marcha e 260 quilos de peso máximo total (piloto, passageiro e carga)
Tanque: 10 litros
Autonomia: até 650 quilômetros (segundo a Mottu)



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