Há pouco tempo eu realizei um velho sonho e comprei uma determinada moto custom ano 2007. Ao vê-la pela primeira vez, um certo amigo meu - que é fã da marca e do modelo - logo disse: "Se fosse carburada, a gente ia ter um problema!"
A moto é injetada e o comentário foi feito porque o meu amigo ainda é fã das carburadas, embora tenha em sua pequena coleção de quatro modelos pelo menos uma já injetada. Mas se minha "nova velha" moto fosse carburada, ele certamente iria quer comprá-la. Assim como o meu amigo, muitos motociclistas ainda preferem a alimentação feita pelo "velho e bom" carburador.
Os motivos são diversos, desde a lembrança de uma antiga moto que evoca saudades até o ronco diferente que sai dos escapamentos, de acordo com a configuração do motor. Mas é curioso ver que muitos ainda preferem os carburadores por receio de que a injeção eletrônica "dê problema" e que seu conserto "fique muito caro". Ou mesmo que a moto enguice onde não há "quem mexa" em injeção.

Tais medos remetem aos tempos em que a injeção eletrônica começou a surgir nos automóveis nacionais. A reação foi a mesma, e demorou anos para que se entendesse que injeção eletrônica dar "problema" é algo muito, mas muito raro. O sistema pode apresentar algum mal funcionamento por motivos como combustível de má qualidade, velas velhas ou leitura errada feita por sensores periféricos como uma sonda lambda, por exemplo. Mas ter problemas na injeção, mesmo, é raríssimo. Já no carburador...
Resumidamente, a principal função do carburador é fazer a mistura ar-combustível em sua correta dosagem e jogá-la no interior da câmara de combustão. Para isso, precisam trabalhar e estar bem regulados vários componentes, como boia, agulha, pistonete, êmbolo, diafragma, giclê, válvula da borboleta e parafuso de ajuste da mistura, entre outros. É um quebra-cabeças cujas peças têm que estar todas encaixadinhas.
A injeção eletrônica, por sua vez, vai além e gerencia todo o funcionamento do motor porque recebe "informações" de vários sensores. Controla pressão do ar, entrada de combustível, marcha lenta e tempos de ignição e das válvulas, por exemplo.
Tudo isso é processado por um circuito eletrônico integrado, que analisa o funcionamento do motor e ajusta continuamente todos os parâmetros para proporcionar o melhor desempenho possível. E, no fim, das contas, a injeção apenas pulveriza na câmara de combustão a quantidade de combustível necessária para que o motor funcione "redondo".
Sendo assim, fica fácil entender a grande vantagem da injeção: sua regulagem é contínua, enquanto no carburador é "engessada" - para mudá-la, é preciso mexer em um conjunto de peças. Além disso, vale lembrar que, no carburador, justamente por não ter leitura eletrônica contínua, a dosagem da mistura nunca é tão precisa quanto num sistema injetado.
Não é por acaso que a injeção eletrônica nas motos se popularizou e, hoje, até diversos modelos de baixa cilindrada já são injetados. A Honda CG, moto mais vendia do país, tem injeção desde 2009!
Por fim, vem a preocupação com a manutenção. De tempos em tempos, os carburadores precisam ser desmontados e limpos e, não raro, peças precisam ser trocadas. Na injeção eletrônica, os casos mais graves normalmente pedem apenas limpeza ou troca dos bicos, que de acordo com o modelo da moto nem são tão caros.
E outra vantagem: problemas na injeção e em seus periféricos são rapidamente diagnosticados pelos mecânicos com os "scanners", que são conectados à moto e fazem a varredura dos sistemas para descobrir os "erros". Se for necessário, até reprogramam um módulo rapidamente para voltar à sua configuração original - e no caso dos apressadinhos, com frequência dá para fazer um remapeamento para obter mais potência e torque.
Não é preciso ter medo da injeção eletrônica em motocicletas. Elas são mais modernas, seguras e práticas. Mas claro que não se discute que, em certos modelos, o ronco do escape "administrado" por um carburador é mais bonito. Mas aí é questão de paixão, e não de razão.



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