Como será a fábrica da Royal Enfield no Brasil?

Em entrevista exclusiva, apuramos os modelos que serão feitos aqui, os preços, o remap recente e as novidades técnicas

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Roberto Dutra
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Esta semana, o público ligado em motocicletas ficou agitado com a notícia de que a Royal Enfield vai montar suas motos em Manaus, na planta da Dafra. Muita gente quer saber como será esse processo e falou-se até que a fabricante anglo-indiana teria comprado a marca brasileira. Para esclarecer essa e outras importantes questões, conversamos longamente com o diretor geral da Royal Enfield Brasil, Claudio Giusti.

Em resumo, a Royal Enfield não comprou a Dafra e nem tem essa intenção. O processo será exatamente como a Dafra já fez com KTM e BMW, em outros tempos: a Royal Enfield terá uma linha de montagem dentro das instalações da Dafra, com equipamentos, ferramental e funcionários próprios.

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Mais à frente, em uma segunda fase, a Royal Enfield pretende ter sua própria fábrica no país, sem esse tipo de parceria. O caro leitor confere abaixo quais modelos serão montados no país, os preços, o remap feito nas motos há pouco tempo e as atualizações que devem ser implementadas:

Claudio Giusti
Diretor da Royal Enfield Brasil, Claudio Giusti, abre o jogo em entrevista exclusiva: a marca veio para ficar
Crédito: Reprodução da internet
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WM1: O início da montagem já tem uma data estimada?

Cláudio Giusti: Ainda não é possível ter uma data precisa. Primeiro, devido a questões tributárias, que no Brasil mudam constantemente. Segundo, por aspectos logísticos, já que temos que trazer e instalar o ferramental e os equipamentos, treinar equipes, conhecer a mão-de-obra local e organizar muita coisa. Mas estimamos que isso aconteça ainda neste ano.

Vamos ocupar um espaço dentro da área da Dafra, com linha de montagem e funcionários próprios. Não há compra de outra marca: a Royal Enfield não tem essa cultura. Nosso crescimento é orgânico.

Os kits CKD virão da planta de Chennai, chegarão em contêineres e aqui serão montados com alguns componentes nacionais, como kits de transmissão e alavanca de freio, por exemplo, entre outros. Ou seja, vamos ter um certo índice de nacionalização - isso vai melhorar a disponibilidade de itens de reposição e reduzir seu custo, além de valorizar a indústria nacional. À medida em que taxas de câmbio e impostos justificarem, teremos mais itens nacionalizados

Royal Enfield Classic 350 (3)
Royal Enfield Classic 350 deve começar a ser produzida por aqui no ano que vem
Crédito: Divulgação
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WM1: Quais modelos serão montados no Brasil?

Cláudio Giusti: Vamos montar aqui todos os modelos do lineup atual: Himalayan 411, Meteor 350, Interceptor 650 e Continental GT 650. E, claro, temos planos para outros modelos no futuro. A Classic 350, por exemplo, compartilha muitos componentes com a Meteor 350 - inclusive já fizemos preparativos em termos de homologação, mas é coisa para o ano que vem.

Além disso, é importante explicar que as motos acima de 451 cm³ têm um processo produtivo básico mais simplificado em Manaus, o que, em teoria, facilita sua produção local. Seria o caso de novos modelos com nosso motor bicilíndrico de 650 cm³. Mas tudo depende do melhor caminho tributário. Se a produção local se justificar sendo mais viável do que a importação, será a opção.

A Royal Enfield tem compromisso de longo prazo com o mercado brasileiro. Já estamos em sexto lugar e, recentemente, por vários meses, o Brasil foi o país onde mais vendemos motos, depois da Índia. E olha que produzimos um milhão de motos por ano!

Modelos Royal Enfield podem mudar por aqui

WM1: Os modelos que já são vendidos aqui e serão montados em Manaus poderão sofrer alguma alteração mecânica ou técnica?

Cláudio Gusti: A resposta é sim, porque a Royal Enfield está sempre aprimorando seus produtos. Então é natural que mudanças possam acontecer. As motos passam por ajustes constantes na Índia, que por sua vez são replicados nos outros lugares onde são vendidas. Por exemplo, no mês que vem a Himalayan 411 vai ganhar novas cores e um novo módulo de injeção (Engine Management System - EMS).

Ainda não temos a engenharia local de produto, de manufatura e de qualidade. Tudo vem da Índia e deverá continuar sendo assim. Mas com a montagem no Brasil, pode-se começar a pensar em uma engenharia local.

Himalayan
A Royal Enfield confirmou que os preços das motos não vão mudar com a montagem em Manaus
Crédito: Divulgação
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WM1: A Royal Enfield disse, ano passado, durante o lançamento da Meteor 350, que a montagem local não traria alterações nos preços das motos. Permanece esse entendimento?

Cláudio Gusti: Sim, não pretendemos mudar nossa política de preços. Consideramos os valores praticados atualmente bem-posicionados, o que é corroborado não só pela demanda, mas também pela própria imprensa especializada. Basta compará-los com os das concorrentes. Então, como dissemos no ano passado, a montagem local não implicará em reduções.

WM1: Podemos esperar algum modelo inédito em uma fase mais adiante?

Cláudio Giusti: Apesar das restrições impostas pela guerra na Ucrânia, da pandemia não totalmente resolvida e de uma certa confusão em todo o mundo, a Royal Enfield já conseguiu equacionar sua produção na Índia e também a distribuição no Brasil. Claro que ainda acontecem esperas de uma ou duas semanas, o que é normal, ou até um pouco mais, mas não de um ou dois meses.

No entanto, não pensamos em lançar novos modelos enquanto a disponibilidade e a demanda da linha atual não estiverem 100% equilibradas. De que adiantaria lançar um novo produto sem que, antes, a oferta dos atuais esteja completamente equacionada?

Depois disso, inclusive com a oferta aumentando e a demanda correspondendo, aí sim teremos novos produtos. Vale destacar, aqui, que o ágio visto recentemente nos preços das motos foi reflexo daquele momento. Os valores são sugeridos, não obrigatórios. A fábrica não pode obrigar os concessionários a botar esse ou aquele preço.

2. Royal Enfield Meteor 350
O remap feito na Meteor 350 foi uma atualização dos parâmetro da injeção
Crédito: Divulgação
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WM1: Afinal, qual foi o entendimento da marca para resolver fazer o remapeamento das motos? No fim das contas, teve alguma coisa a ver com a limitação da velocidade da Meteor 350, que gerou muitas reclamações?

Cláudio Giusti: O que nos levou a tomar a decisão foi exatamente o aprendizado, a melhoria contínua. Fizemos em motos dentro e fora de garantia, porque quisemos oferecer a última atualização possível. Assim como em smartphones e computadores, nada mais natural do que fazer atualizações.

Nas motos, a atualização traz um desempenho mais suave, mais econômico, com menos ruído. Além disso, estamos sempre aprendendo mais sobre a relação do brasileiro com a motocicleta. Então a questão da limitação da velocidade estava no "pacote", mas não foi o motivo principal.

Também vimos que nossa homologação para emissões de ruídos dava margem para essa mudança: a moto foi homologada levando em conta um padrão mundial e no Brasil ficou muito abaixo das exigências do Promot 4 e mesmo do Promot 5. Então vimos que poderíamos fazer essa atualização. Quer um exemplo simples de atualização? O descanso lateral das primeiras Himalayan 411 era muito comprido, e as motos caíam em certas condições. Nas motos linha 2021, passou a ser mais curto - foi um pedido nosso.

O Tripper (reloginho à direita) foi suprimido nas motos na Índia, mas por enquanto continua no Brasil
Crédito: Divulgação
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WM1: Foi amplamente publicado que a Meteor 350 perderia, talvez temporariamente, o dispositivo Tripper nas motos feitas lá na Índia. O motivo ainda é a falta de chips e semicondutores? Há possibilidade de isso acontecer também no Brasil?

Cláudio Giusti: Sim, o motivo foi a falta de componentes. A opção que a matriz tomou para o mercado indiano foi ter motos sem Tripper, em vez de não ter motos. E sim, existe a possibilidade de acontecer o mesmo aqui no Brasil. Mas não vai acontecer no curto prazo. Em princípio não fomos afetados e, pelo menos por enquanto, continuaremos a ter o Tripper. Inclusive porque a receptividade ao dispositivo aqui no país foi excelente.

A Royal Enfield tem atualmente 20 concessionárias no Brasil, e pretende chegar a 25 até março de 2023
Crédito: Reprodução
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WM1: Como está o processo de expansão da rede de concessionários?

Cláudio Gusti: Estamos crescendo progressivamente. Já temos 20 concessionárias atendendo a todas as regiões do país, exceto a região Norte. Mas com a linha de montagem em Manaus obviamente teremos uma concessionária lá. Já estão previstas, também, novas lojas em São Paulo e em Belo Horizonte. Esperamos chegar ao fim do ano fiscal, em março de 2023, com um total de 25 concessionárias autorizadas no país.

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