Yamaha Ténéré 700: porque ela ainda não chegou

Entenda como as leis de emissões e ruídos impedem a vinda de muitos modelos e levam outros a sair do mercado brasileiro

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Roberto Dutra
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A Yamaha Ténéré 700 é uma das motos mais aguardadas pelo mercado brasileiro. Mas essa espera já beira quatro anos e há chances de nem vir mais, pois chegaria aqui bem defasada - como aconteceu, por exemplo, com a Honda Transalp 750 em 2011. A não ser que chegasse já com aprimoramentos, o que ainda é possível. Muita gente pensa que é "culpa" apenas da Yamaha, que nos últimos anos tem lançado e apostado mais em scooters, nakeds e esportivas. Mas a história não é bem essa.

Thumbnail 2. Yamaha Ténéré 700
A Yamaha Ténéré 700 é uma das motos mais esperadas no mercado brasileiro, nos últimos anos
Crédito: Divulgação
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A "culpa", caros leitores, é da legislação brasileira de ruídos. A Yamaha Ténéré 700 não obteve, até agora, essa homologação no Brasil. A trail média da Yamaha foi desenvolvida para ser vendida globalmente, em vários países do mundo. E, na maioria absoluta deles, os ensaios que aferem e homologam esse quesito (e também os de emissões de gases) são similares. As exigências são iguais ou menores. No Brasil, porém, há uma diferença.

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A norma brasileira, chamada de ECE-R41-03, afere o limite de decibéis em cinco passagens com a motocicleta a 50 km/h em terceira marcha. Ocorre que os modelos maiores raramente estão em terceira marcha a 50 km/h nas vias públicas, e por isso esse procedimento é apenas parcialmente eficiente. Por isso, as autoridades europeias estabeleceram um novo ensaio, que não limita velocidade ou marcha de aceleração, mas apenas o limite de decibéis.

Assim, os modelos desenvolvidos especificamente ou primeiramente para o mercado europeu não são necessariamente mais ruidosos, mas apenas ajustados às condições das vias públicas de lá. No Brasil, permanece o ensaio com cinco passagens a 50 km/h em terceira marcha para a medição de ruídos.

Mudanças teriam alto custo

A Ténéré 700 atendeu às exigências lá fora, mas não aqui. E, ao contrário do que muitos imaginam, não basta apenas mudar peças como marmita, escapamento ou ponteira, ou mesmo mexer no mapa da injeção, para que se consiga a homologação.

Seria preciso fazer mudanças no próprio motor - o que sempre exige investimentos e, eventualmente, compromete a viabilidade da venda de uma moto que é de nicho e de volume relativamente baixo. Além disso, ao mudar tais componentes, a moto teria que atender a outros novos parâmetros por conta dessas alterações. Parece complicado? Pois é mesmo...

Exatamente por isso é que vemos a Yamaha apostar em modelos como NMax 160, XMax 250, Crosser 150, R3 e a linha MT. Por terem motores menores ou de configurações diferentes ou por serem projetos mais modernos, estas conseguiram suas homologações. E como são motos para segmentos com volumes maiores de vendas, mesmo eventuais investimentos em ajustes tornam-se mais viáveis.

Thumbnail 3. Yamaha Xmax 250
O scooter Yamaha XMax 250: projeto moderno tem homologação mais fácil
Crédito: Divulgação
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Os fabricantes brasileiros de motocicletas têm tentado negociar com as autoridades para que haja uma harmonização nos ensaios de ruído nacionais e estrangeiros, como acontece na questão da emissão de gases.

As negociações estão em andamento, mas alguns técnicos do governo entendem ser necessário realizar "testes complementares" por considerar que o uso da moto no Brasil é diferente do que ocorre na Europa. Segundo fontes ligadas aos fabricantes, os próprios resultados desses testes poderão levar à harmonização com a norma europeia e pôr fim às diferenças que geram casos como o da Yamaha Ténéré.

E as emissões de gases?

No que se refere à legislação de emissões de gases, o Brasil tem praticamente as mesmas exigências europeias. E tanto aqui quanto lá, os programas de controle de poluição (no Brasil, chamado de Promot) são implementados em "fases" - que mudam e ficam mais severas com o passar dos anos. A Europa está na Euro 5 e alguns países que seguem suas referências aplicam a equivalência. Aqui, estamos na Fase 4 do Promot, e a Fase 5 (similar à Euro 5) entrará em vigor em 2025 - a portaria foi assinada em junho do ano passado pelo Ministro do Meio-Ambiente, Ricardo Salles.

Thumbnail 4. Yamaha Xvs 950 Midnight Star
Como a antecessora XVS Drag Star 650, em 2009, a XVS 950 Midnight Star saiu de linha por não atender às leis de emissões (em 2016)
Crédito: Divulgação
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Há pequenas diferenças, como o quesito emissões evaporativas. Mas a engenharia das fábricas e das subsidiárias brasileiras tem se saído muito bem, implementado progressivamente nas motos itens como injeção eletrônica, catalisador e o cânister. Este último é um filtro com carvão ativado que recebe o vapor do combustível gerado no tanque e o envia para o sistema de admissão do motor. Assim, esses gases são queimados, em vez de ir para a atmosfera.

Aqui vale lembrar que não foram poucas as motos que saíram de linha por não atenderem à legislação brasileira de emissões em cada época. Lembram de modelos como as Honda NX4 Falcon e Shadow 750, ou as Yamaha XVS 650 Drag Star e XVS 950 Midnight Star? Pois é: foram descontinuadas por conta de emissões. A Falcon, aliás, foi um caso atípico: lançada em 1999, saiu de linha em 2008 e voltou em 2012 com mudanças como injeção eletrônica no lugar do antigo carburador. Mas não resistiu muito mais: só durou até 2015.

Thumbnail 5. Honda Nx4 Falcon 1999
A Honda NX4 Falcon foi lançada em 1999, saiu de linha em 2008, voltou em 2012 e se aposentou em 2015
Crédito: Divulgação
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Então, esqueça aquela batatada que cansamos de ver nas redes sociais, com "entendidos" que afirma que "as marcas tiram modelos de linha porque eles não dão defeito e não geram lucro com peças de reposição". A rentabilidade das fabricantes de motocicletas vem exatamente disso - a venda de motocicletas. Peças de reposição são uma apenas uma obrigação a ser cumprida.

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