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Africa Twin: a lenda do deserto está de volta

WM1 já pilotou a nova aventureira da Honda, que estreia no Brasil no Salão do Automóvel

por Karina Simões

O ano é 1984. Coincidentemente, no ano em que eu viria ao mundo, a Honda estaria desenvolvendo uma moto para competir no Rali Dakar (antigo Paris-Dakar). Dois anos depois, quando eu já andava e arriscava algumas palavras, a NXR750V seria campeã da edição do rali daquele ano e também do ano seguinte.

Inspirada no modelo campeão, a Honda lançou em 1988 a XRV650 Africa Twin, que foi um grande sucesso de vendas e que deixou de ser fabricada em 2003. Nesse ano eu, enfim, colocaria as mãos na minha carteira de habilitação.
O ano é 2016, estamos no Salão do Automóvel de São Paulo, local que Honda escolheu para anunciar –e mostrar– ao público brasileiro pela primeira vez o retorno de sua aventureira. Eu estou com 31 anos, ando de moto e fui a primeira mulher jornalista do Brasil a acelerar a versão brasileira da CRF 1000L Africa Twin. Foi apenas um primeiro contato, no Campo de provas da Pirelli, em Sumaré, interior do Estado de São Paulo, mas ali finalmente nos cruzamos. E, arrisco dizer, que o encontro não poderia ter sido em melhor fase. Para a aventureira, do passado só sobrou o nome e o DNA.

A Honda precisava mesmo de uma bigtrail à altura de suas rivais. A nova Africa Twin será produzida em Manaus e chega às lojas brasileiras no mês de dezembro em duas versões, standard e Africa Twin Travel Adventure, equipada com bauletos. Os preços são de R$ 64.900 e R$ 74.900, respectivamente.
Há duas cores disponíveis, a tricolor (branca, vermelha e azul) e uma vermelha e preta que lembra bem osd modelos CRF de competição, ou se sua imaginação for mais longe e se você tiver filhos, ela pode ser a moto do Sr. Incrível, herói da animação da Pixar. Começando pelo conjunto óptico duplo com lâmpadas em LED que, para mim, é a própria máscara do personagem. Para a Honda, ela quer mesmo ser incrível tanto no asfalto quanto na terra.

Antes de experimentar a novidade, dei uma boa examinada no visual. A dianteira se destaca pela carenagem esguia, que traz duas pequenas entradas de ar com a função de canalizar melhor o fluxo e ajudar na aerodinâmica. Imitando modelos da década de 1980, as bengalas contam com carenagens e as rodas são raiadas em alumínio, agora calçadas com pneus 90/90-21 na dianteira e 150/70-18 na traseira.
Ao subir na moto, senti falta de ter crescido alguns centímetros a mais. Com meu 1,70 metro, fico na ponta dos pés. O assento está a 870 mm do solo, porém, é possível reduzir a altura em 20mm, fixando-a em 850 mm em seu ponto mais baixo.

Antes de dar partida, me chamou atenção o painel de instrumentos digital em LCD, com dois mostradores amplos e ótima visualização, mesmo sob o sol quente daquele dia. As informações estão dispostas verticalmente, como nos modelos de rali. Na parte de cima estão as informações de velocidade, rotação do motor e combustível, e na parte de baixo, hodômetro, relógio, computador de bordo e indicadores de marcha.
Naquele momento, também aprendi sobre os níveis de controle de tração HSTC (Honda Selectable Torque Control). É possível selecionar quatro: 1, 2, 3 e desligado (apenas na roda traseira). A intensidade diminui à medida que os níveis aumentam, deixando a roda traseira derrapar para ajudar a manter a trajetória da moto no off-road. Outro ponto importante para quem encara a terra é a altura 250mm do solo, resultado de um motor compacto com cárter seco e tanque de óleo embutido.

Hora de dar a partida
Posicionada na moto, já deu para perceber que a Honda acertou na ergonomia. O piloto fica bem confortável, com braços posicionados mais altos em relação ao guidão e o encaixe das pernas no tanque magrinho, mas com capacidade para 18,8 litros (3,6 litros de reserva). Dei partida. Confesso que o som do novo bicilíndrico de 999,1 cm³ não empolga. O escapamento fica em posição elevada, seguindo o ângulo da rabeta e a Honda teve o cuidado de pensar em uma proteção para minimizar o calor para o garupa.
O coração desta moto é totalmente novo e não tem nada a ver com o motor de 650 cc e 57 cv do passsado. Desta vez, a Honda optou por um bicilíndrico com pistões em paralelo, comando Unicam, quatro válvulas por cilindro nos cabeçotes, virabrequim a 270º e ignição de comando duplo e sequencial.
São 90,2 cv a 7.500 rpm de força com torque de 9,3 kgf.m a 6.000 rpm acoplado a uma caixa de seis velocidades com transmissão final por corrente e embreagem “deslizante”. Em comparação ao modelo vendido da Europa, o motor está cerca de 4 cv mais manso, para se enquadrar às normas estabelecidas para a segunda fase do PROMOT 4 (Programa de Controle da Poluição de Motociclos e Veículos Similares).

A experiencia no comando da Africa Twin foi rápida, mas alguns pontos me chamaram a atenção. O principal deles foi a ausência de vibração, graças à adoção de eixos balanceiros primários, explicou o supervisor de relações públicas da marca, Alfredo Guedes Junior.
Em baixas e médias rotações, a entrega de torque é linear e abundante, enquanto em regimes mais altos minha precepção foi que um pouco mais de potência não faria mal à aventureira. Especialmente se avaliarmos a faixa de preço em que ela está posicionada, brigando com bigtrails como a Triumph Tiger R$ 1.200 XR (R$ 58.500) e a BMW R 1200 GS Sport + (R$ 63.900), ambas mais baratas.
No mais, outro ponto que me chamou muita atenção foi a leveza e agilidade da moto, graças ao peso de 212 kg (seco) e o baixo centro de gravidade. “Na mão”, a impressão é que é possível brincar com ela, seja na terra ou no asfalto como se fosse uma CRF. O câmbio é macio com engates precisos e suaves, como era esperado encontrar em uma Honda.
A suspensão dianteira possui garfo invertido com curso de 230 mm e ajustes, enquanto a suspensão traseira é monoamortecida Pró-Link da Showa, com curso de 220 mm e também opções de ajustes na pré-carga da mola. Os freios contam com ABS (anti-travamento), que pode ser desligado na roda traseira. Na dianteira há disco duplo de 310 mm e pinças radiais de quatro pistões e na traseira o disco é simples de 256 mm. Um diferencial da Africa Twin, são os cubos dos discos fundidos em alumínio, que contribuíram para a redução de peso.

Vale o show?
A Honda está preenchendo uma lacuna vazia com um modelo que fez nome no passado e que já faz muito sucesso hoje no mercado europeu. Sem dúvidas, ela une a versatilidade esperada para uma moto da cidade com uma pegada bem off-road, herança dos modelos CRF250R e CRF450R de competição. A pouca eletrônica embarcada na moto, pode ser vista de maneira positiva ou negativa, dependendo do cliente. Todavia, a discussão está no preço, bem acima do esperado.
Para minimizar o susto com o preço, a nova CRF 1000L Africa Twin conta com 3 anos de garantia e um interessantíssimo programa da Honda de assistência 24 horas. Para quem viaja é uma grande tranquilidade poder contar com assistência não só em território brasileiro, mas também na Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai durante todo o período de vigência da garantia. É de se pensar...

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