No Brasil, existe um "Certificado de Originalidade" para carros com mais de 30 anos que tenham um mínimo de 70% a 80% das suas características originais. Para estes modelos considerados relíquias de colecionadores, o Detran de cada estado aprova uma placa especial, conhecida como "placa preta".
Só que é importante registrar que a "placa preta" não é mais preta: agora ela também entra no molde das placas Mercosul e se mantém branca - mesmo que o veículo ganhe a licença. Neste caso, as letras e números da placa de coleção passam a ser rosa, mantendo a faixa azul no topo, como na imagem abaixo.
Algumas entidades e associações, vale registrar, já fizeram e ainda fazem abaixo-assinados nesse sentido: tentam revogar a decisão para manter o estilo da placa preta.
Em 2020, portanto, carros lançados em 1990 já podem receber a classificação de "clássicos". Vale lembrar, também, que foi em maio daquele ano que o então presidente Fernando Collor de Mello flexibilizou o comércio de importação, mudando totalmente o cenário do mercado automotivo brasileiro.
Abaixo, temos uma lista com cinco modelos que chegaram naquele ano e já podem receber a cobiçada "placa preta".
O nome do SUV de hoje em dia - com o sobrenome Cross -, serviu para batizar, durante os anos 1990, um esportivo renomado e cobiçado. O Mitsubishi Eclipse deu início à sua história em 1989, quando a marca japonesa ainda tinha acordo comercial com a Chrysler.
Mas começou a ser vendido pelo mundo em 1990 - e chegou ao Brasil no mesmo ano, trazido por importadores independentes, justamente devido à reabertura do comércio de carros importados.
Por usar plataforma da Chrysler, sua tração era dianteira, algo fora do comum entre carros esportivos japoneses, mas que em nada tirava o prazer em guiá-lo. Por baixo do capô, eram três opções de motor, todas turbinadas, sendo que a mais forte podia encostar nos 200 cv - nessa configuração, inclusive, podia ter tração nas quatro rodas.
O design era cativante e se tornou ainda mais depois que o carro ficou mais famoso por sua participação nos filmes da saga Velozes e Furiosos, como um dos modelos de corrida de Brian O'Conner, personagem protagonista da franquia interpretado pelo falecido ator Paul Walker.
Um Mercedes-Benz Série E 1990 agora pode ter placa preta, embora o carro exista desde antes daquele ano. Mas a imagem do primeiro veículo importado oficialmente para o Brasil depois da reabertura do comércio com outros países ficou marcada devido à foto que se espalhou por jornais à época.
O Mercedes-Benz 300E em questão foi comprado por um dono de um frigorífico paulista ao preço de US$ 50 mil (hoje cerca de R$ 280 mil). O sedã tinha motor de 6 cilindros em linha com 180 cv e 26 kgf.m de torque, câmbio manual de cinco marchas e dados de desempenho interessantes: 0 a 100 km/h em 9,1 s e máxima de 228 km/h.
Os carros da Alfa Romeo também vieram na onda da importação. Segundo Carlos Eugênio Dutra, gerente de marketing da Fiat naquela época, em entrevista para o jornal O Globo, as primeiras 100 unidades do Alfa 164 chegaram ao país no fim de 1990 e foram vendidas por US$ 135 mil.
Esse valor, à época, equivalia a 6,88 milhões de cruzeiros. O mais caro dos automóveis brasileiros até então era o Ford Escort XR3 conversível, que custava 2,75 milhões de cruzeiros, ou US$ 53 mil - ou seja, o carro italiano custava mais que o dobro do que o modelo mais caro do Brasil naquele momento.
O 164 utilizava motor V6 3.0 de 210 cv e 27,6 kgf.m de torque, que o fazia acelerar de 0 a 100 km/h em 8s e atingir 240 km/h de velocidade máxima. O câmbio era manual de cinco marchas e a tração, dianteira.
Um ano depois da chegada do Ford Verona (1989), seu irmão de plataforma, a Volkswagen lançou o Apollo, um cupê (ou um sedã de duas portas) que tinha todo o jeitão de carro da Ford, mas motor AP da Volkswagen.
A Autolatina, joint-venture entre as duas marcas, a propósito, foi praticamente isso: carros que uniam o melhor da Ford (acabamento e desenho) com o melhor da Volks (plataforma e mecânica).
O Apollo era quase igual ao Verona, que era um ano mais velho. Ele teve três versões, GL, GLS e a série especial VIP, usava motor 1.8 AP de 92 cv e 15,2 kgf.m e tinha câmbio manual de cinco marchas.
Curiosamente, na suspensão do Apollo os batentes trabalhavam o tempo todo em conjunto com as molas, enquanto que no Verona eles eram funcionais apenas no fim de curso. Com essas diferenças, era possível sentir de forma mais acentuada o torque no Apollo, e seu rodar era mais rígido e estável.
Outra marca estrangeira que aproveitou a reabertura das importações no Brasil foi a Lada, fabricada na Rússia pela AvtoVaz. Os carros começaram a ser trazidos por um empresário chamado Martin Rodin com planos audaciosos, apesar dos produtos antiquados: vender 50 mil unidades por ano – 6,5% do mercado nacional, à época.
Os primeiros anos foram de sucesso, mas logo as vendas começaram a cair e a Lada deixou o país, sete anos depois. O robusto jipe Niva e o hatch Samara chegaram no fim de 1990, enquanto o Laika, em versões sedã e station wagon, chegaria em 1991.
Eles eram projetos dos anos 1960, totalmente defasados, mas chamaram a atenção por custarem menos que um VW Gol. Acredite: a Lada chegou a ter mais de 120 lojas abertas em todo o Brasil.