Menos de duas horas de viagem, saindo de São Paulo (Capital). Estômago vazio, tanque cheio e a ansiedade que vinha desde terça-feira, quando havia pago a inscrição – R$ 200, bem mais barato que a média de preço desse tipo de evento em Interlagos.
Por volta das 8h, já estávamos por lá. Mais três ou quatro carros também já se posicionavam em um dos 27 boxes do kartódromo. A neblina ainda era forte e a pista estava úmida. Todos focados nos carros: alguns trocavam o jogo de pneus, outros aliviavam peso do interior. Eu me limitei a ajustar a carga dos amortecedores e estava pronto – claramente, tinha gente muito mais experiente ali.
A ansiedade ainda era grande, mas procurei não me animar muito. Era a primeira vez que andaria para tirar tempo. Já havia acelerado em pista, mas todas foram em provas de regularidade. Com o meu carro turbinado também seria a primeira vez. A fama do traçado também não me deixava esperar um tempo bom. A pista é um kartódromo. Por isso, não é tão larga, apenas oito metros – a parte mais estreita de Interlagos tem 12 metros de largura. Assim, as áreas de escape também não são tão extensas – ponto da pista que eu conheceria bem antes do esperado. Apesar disso, o traçado de 1,2 km de extensão é seletivo com duas boas retas e miolo bem travado, com vários tipos de tangência e de relevo.
Antes da prova, pudemos dar algumas voltas pra sentir a pista. Dei quatro voltas. Turbina enchendo limpa, carro equilibrado mesmo com a pista úmida e fria. O miolo que eu tanto tinha medo se mostrou mais amigável: não exige tanto de freadas fortes, bastava modular o acelerador e atingir a tangência certa em cada curva.
Tudo isso me deixava mais calmo. Não por pensar que o tempo iria vir mais baixo. Mas pois teria capacidade pra não passar reto em uma curva e destruir meu carro. Sempre gostei, mas nunca me liguei em automobilismo a ponto de querer estudar traçado, tocada, tangência e técnicas de pista. Eu gosto de carros, de preparação, e isso era o que me levava a um track day: aproveitar a potência do meu carro sem parecer um inconsequente que acelera na rua de casa.
Por volta das 10h30 a maioria dos participantes já havia chegado e era hora do briefing e uma explicação importante. Pelas limitações da pista, as tomadas de tempo não seriam como em um track day comum, com pista livre o dia todo e os carros entrando na quando preferissem. Cada um daria sua volta sozinho, entrando de acordo com a ordem de chegada. Eu era o número 9, portanto seria o nono carro a entrar.
Demos mais algumas voltas para reconhecer o traçado com Leo Ceregatti liderando o comboio. Leo e seu Volkswagen Voyage com motor AP turbo e redimensionado para 1.9 litro, apelidado de Pangaré, são os recordistas de tração dianteira do Hot Lap, andando na casa de 01:02.
Voltamos aos boxes e depois de alguns minutos era minha vez de tirar o tempo. Na volta de abertura, a pista já parecia começar a secar. Apontei na reta em 2ª marcha, a turbina encheu até os 0,6 kg de pressão, coloquei a 3ª passando pela linha de chegada e a volta estava aberta. Pisei forte no freio, subi o giro com um punta tacco e reduzi pra segunda. Um golpe no volante, belisquei a zebra de dentro e o carro foi escorregando pra parte de fora da pista. Ou melhor, pra fora mesmo. Primeira curva e já comprei um terreno fora da pista. Segurei o carro, e voltei sem rodar. Segui a volta normalmente e cravei 1 minuto e 11 segundos. Tempo bem ruim, na verdade.
Enquanto esperava pela próxima bateria, passeando pelos boxes fui vendo quem aparecia por lá. E o Hot Lap é bem democrático nesse sentido. De Ka 1.0 a Porsche 944, todos participam sem nenhuma limitação. O clima era o melhor possível. Crianças, famílias, amigos todos juntos ali simplesmente pelo gosto de acelerar em uma pista de verdade.
Minha segunda volta foi melhor, 1:09 errando de novo na primera curva. Desta vez, segurei o carro na pista, depois de uma bela escapada de traseira. O tempo foi melhorando mas, em algumas voltas nem me liguei para os números. Andamos até às 17h30. Consegui dar seis voltas e o tempo mais baixo de 1:08. O dia passou rápido. Me diverti e voltei pra casa feliz por manter o carro inteiro e fazer um tempo bom pra um estreante.
Na segunda-feira, então a surpresa. Meu melhor tempo foi 1:06.609, o sétimo geral de 28 participantes (veja a tabela completa abaixo). Próximo de carros mais potentes e mais equipados que o meu. Como errei muito, fiquei feliz pelo desempenho do meu Subaru. Um carro de uso diário, com preparação leve andando junto de outros com muito mais investimento. A satisfação é gigante. E a vontade de participar de novo de um Hot Lap, maior ainda.
Confira a classificação do 27º Hot Lap Limeira:
Número | Piloto | Carro | Melhor tempo |
1 | Leo Ceregatti | VW Voyage Pangaré | 1:03.593 |
28 | Roberto | Audi TT RS | 1:03.983 |
15 | Bira | Honda Civic Si | 1:05.903 |
14 | Fábio Silveira | Chevrolet Opala 76 | 1:05.984 |
17 | Régis | Subaru Impreza WRX | 1:06.337 |
12 | Ignacio | Subaru Impreza WRX | 1:06.577 |
9 | Iago Garcia | Subaru Impreza SW | 1:06.609 |
21 | Vitor | Audi A1 | 1:06.963 |
5 | Rodrigo | MINI Cooper S | 1:07.339 |
11 | Cristiano | Ford New Fiesta Sedan | 1:07.738 |
3 | Bruno | Citroen DS3 | 1:07.931 |
13 | Gustavo | Honda Civic Si | 1:08.189 |
25 | Leandro | VW up! | 1:08.365 |
2 | Hugo | VW Golf TSI | 1:08.422 |
4 | Marquinhos | Subaru Impreza GL | 1:08.626 |
16 | João Gustavo | VW Gol BX | 1:08.840 |
18 | Samuel | VW Gol | 1:09.577 |
22 | Nasser | VW SpaceFox | 1:10.583 |
7 | Marcelo | Ford Ka | 1:10.930 |
24 | Ariel | Chevrolet Omega | 1:11.210 |
6 | Jonas | Porsche 944 | 1:11.322 |
23 | Marcel | Fiat 147 | 1:11.342 |
8 | Breno | Honda Civic cupê | 1:11.633 |
29 | Marcelo | Subaru Impreza depenado | 1:11.674 |
27 | Julio | Fiat Uno | 1:12.273 |
26 | Gabriel | Fiat Punto 1.6 | 1:12.322 |
10 | Felipe Nasser | Chevrolet Onix | 1:12.681 |
19 | Alexandre | VW Fusca | 1:26.560 |
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