Está cada vez mais raro, mas é muito bom quando uma marca de automóveis decide transformar uma ideia aparentemente maluca em realidade. É o caso do Zeekr 001 FR, que eu tive a - breve, infelizmente - oportunidade de guiar no Autódromo Internacional de Ningbo, na China, junto com outros modelos da Zeekr, marca chinesa que desembarcará ainda este ano no Brasil.
Mas o que é o Zeekr 001 FR? Ou melhor, "a". Estou falando de uma shooting brake elétrica cujo FR do nome vem do inglês Future Road. Ou em bom português, Estrada do Futuro. Algo que não quer dizer muita coisa. Exceto se a marca chinesa estiver certa e todos os carros do próximos anos tiverem um ficha técnica tão impressionante.
Com 5,02 m de comprimento, 2 m de largura, 1,55 m de altura e entre-eixos de 3,01 m, o 001 FR é um carro grandalhão e de pegada familiar. Mas o visual ousado, com enormes rodas de 22 polegadas na traseira, kit aerodinâmico exclusivo e diversas peças em fibra de carbono, deixa bem claro o potencial esportivo dessa máquina.
E vamos ao que interessa. Enquanto as versões normais do 001 são equipadas com um ou dois motores, esse monstro aqui tem quatro propulsores elétrico - um para casa roda - e desenvolve a potência conjunta de 1.265 cv com 130,5 kgf.m de torque.
Com uma arquitetura elétrica de 800 Volts, esse carro tem bateria de 100 kWh que pode ser carregada de 10% a 80% em apenas 15 minutos - e ainda fornece energia suficiente para esse bicho acelerar de zero a 100 km/h em apenas 2,36 segundos e chegar aos 280 km/h de velocidade máxima.
Com toda essa cavalaria, a Zeekr teve que mexer no acerto da suspensão pneumática e com controle ativo, além de incluir freios de cerâmica, muito mais poderosos que o das versões normais e ainda com pinças da britânica AP Racing e discos fornecidos pela italiana Brembo.
O 001 FR compartilha com os irmãos mais mansos a cabine muito bem acabada, com materiais de ótima qualidade - como couro e Alcantara - até mesmo nos porta-objetos das portas. O interior é todo em vermelho e preto. Algo que pode parecer chamativo demais, mas combina com a proposta insana desse cara aqui.
Típico carro premium chinês, não economiza nas telas. A da multimídia tem 15,4 polegadas, enquanto no banco traseiro uma telinha de 5,7 polegadas permite alterar as configurações do ar-condicionado de três zonas. Aliás, equipamentos não faltam nesse FR, que tem itens como bancos aquecidos, ventilados e com massageador, pacote ADAS e sistema de câmeras 360 graus.
Com esses números todos, imaginei que guiar o 001 FR seria uma experiência insana. Mas ele se saiu mais dócil do que eu imaginava. Algo que faz sentido, já que essa shooting brake não tem pretensão de ser um superesportivo, mas uma alternativa ao americano Tesla Model S Plaid. Também elétrico e com números incríveis, mas que também não quer ser uma cadeira elétrica sobre quatro rodas.
Uma coisa chocante nesse 001 FR é como ele acelera numa patada. Esses pouco mais de dois segundos na aceleração de zero a 100 km/h significam que você estará acima de 140 km/h sempre que desgrudar os olhos do head-up display. Você só irá perceber que está rápido porque, em velocidades muito altas, o banco do motorista usa o sistema de massagem para travar o seu corpo no assento.
Tirando esse lance do banco te abraçar, você não irá sentir essa velocidade toda de dentro do carro. É que o 001 FR tem um belíssimo isolamento acústico e é um automóvel de comportamento bastante previsível. Com um motor por roda, a vetorização de torque fica bem clara e permite que esse elétrico esteja sempre fazendo o que o motorista quer. Ou seja, você só irá fazer besteira se ignorar MUITO os limites da máquina.
Só não achei a experiência perfeita por um motivo: achei que a suspensão poderia ser mais firme, como a de um Honda Civic Type R. É claro que segurar os efeitos das forças gravitacionais agindo sobre uma máquina de mais de 2,5 toneladas é uma tarefa ingrata. Mas ainda considero que o conjunto do FR é estranhamente confortável para um carro de mais de 1.200 cv.
Não posso esquecer que eu estou na China e boa parte dos compradores desse carro aqui não trocaria o acerto confortável por um que transformaria o 001 em um carro de pista mais civilizado. Acho que é a saudade de casa falando mais alto.
Embora para nós, brasileiros, a ideia de alguém fazer um carro de quase 1.300 cv para uso nas ruas pareça uma maluquice, ela até faz sentido no concorrido e aquecido mercado chinês. Tivemos a chance de bater um papo com clientes da Zeekr - inclusive, um deles, dono de um FR - e eles deixaram bem claros que os chineses são muito menos passionais que os brasileiros na compra de um automóvel novo.
Enquanto, no Brasil, muita gente ainda considera o logo na grade um fator de decisão de compra, aqui na China, para o consumidor padrão, o que importa mesmo é a combinação de design, pacote e preço baixo. Em outras palavras: se os números de um carro generalista são mais vistosos que os de um Porsche ou de um Audi, por exemplo, eles não sentem arrependimento algum de deixar para trás uma das belíssimas máquinas dessas marcas alemãs.
Esse FR é vendido na China por 769 mil iuanes, algo em torno de R$ 572.500 em conversão direta. Pela potência, é um valor baixo. O Tesla Model S Plaid, que tem 1.020 cv, sai por 814.900 iuanes. O equivalente a R$ 606,6 mil.
É uma pena que esse FR dificilmente irá chegar ao Brasil. É um carro de produção limitada a apenas 99 unidades por mês. Uma ninharia para os números do gigantesco mercado chinês. Em breve estarei de volta e, talvez, não fosse uma má ideia levar um desses na bagagem.



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