Poucos carros na história recente do mercado automotivo brasileiro foram tão bombardeados quanto a Fiat Titano. Lançada em 2024 com um custo-benefício bastante atraente, a picape média da marca italiana surpreendia negativamente com uma rodagem bastante rústica. Era como ter uma caminhonete zero-quilômetro de 2010. Mas isso em 2025.
Pois a Stellantis aproveitou a troca de nacionalidade da Fiat Titano para fazer várias mudanças profundas na Titano, que estreia agora no mercado brasileiro como linha 2026. E já adianto que pode não parecer, mas essa caminhonete mudou de maneira surpreendente.
Até a linha 2025, a Fiat Titano era montada na fábrica da Nordex, no Uruguai, com kits de peças trazidas da China. Foi quando a Stellantis resolveu abraçar de vez o projeto asiático, transferindo a produção da caminhonete para fábrica da Fiat em Córdoba, na Argentina.
E como diz o bom senso, já que a Titano iria mudar de fábrica, nada mais justo do que aproveitar para fazer algumas mudanças e localizar alguns detalhes do projeto, originalmente da chinesa Changan. E como uma coisa acaba levando a outra, chegamos à linha 2026 dessa cargueira. Agora, produzida na terra das empanadas e de Maradona.
De fato, não e exagero afirmar que essa Titano 2026 só se parece com a Titano 2025. As mudanças estéticas foram bem pequenas: apenas um novo skid plate na versão topo de linha Ranch, um novo quadro de instrumentos e um console central redesenhado. Já na mecânica...
Os executivos da Stellantis não vivem em uma bolha e obviamente notaram a enxurrada de críticas que a Titano recebeu lá em 2024. Porém, mais do que isso, viram os números.
A Strada é líder isolada entre as picapes leves, enquanto a média da marca não chegou nem perto de ameaçar as líderes. Foram 3.986 emplacamentos no primeiro semestre de 2025, ante as 23.151 unidades da Toyota Hilux e as 15.973 emplacamentos da Ford Ranger. Isso mesmo custando bem menos que essas concorrentes.
Por isso mesmo, foi feito um esforço de engenharia para trazer a Titano 2026 para a década atual. As mudanças começam pelo chassi, que ganhou um novo sistema de amortecimento da cabine, desenvolvido pela engenharia brasileira da empresa. O objetivo: deixar a caminhonete mais confortável.
Com a mesma meta, a suspensão foi recalibrada, com a troca de molas, amortecedores e diversos componentes. Já no sistema de direção foi deixada de lado a caixa com assistência hidráulica, substituída por um novo componente com assistência elétrica.
E os freios traseiros agora não têm mais tambores. São discos ventilados na quatro rodas e um freio de estacionamento com acionamento elétrico.
E o pacotão de mudanças se estendeu também ao conjunto motriz. O antigo 2.2 turbodiesel de 180 cv de potência, de origem Peugeot, foi trocado pelo novo 2.2 turbodiesel Multijet, de 200 cv de potência e 45,9 kgf.m de torque. É o mesmo propulsor usado na Fiat Toro, na RAM Rampage e no Jeep Commander.
Além do propulsor, a Titano 2026 ganhou ainda um novo câmbio automático de oito marchas e também um novo sistema de tração, que nas configurações Volcano e Ranch agora têm um modo 4x4 automático.
Com 13% mais potência e 11% mais torque, a Titano ficou mais ágil. Agora acelera de zero a 100 km/h em 9,9 segundos. E também ficou mais econômica: registra médias de 9,9 km/l (cidade) e 10,8 km/l (estrada). Não são números tão brilhantes. Mas já são bem mais próximos aos das concorrentes.
Aproveitando a renovação na mecânica, a Fiat fez também algumas alterações pontuais na lista de equipamentos da Titano. Além da alteração do console central - necessária pela adoção do freio de estacionamento eletrônico no lugar do convencional -, a caminhonete estreia na linha 2026 uma nova alavanca de câmbio.
Na versão topo de linha Ranch, a Titano ganhou ainda um quadro de instrumentos com uma nova tela digital, de sete polegadas, além do esperado pacote ADAS de série, com controlador adaptativo de velocidade, frenagem autônoma e monitor de pontos cegos.
Já a multimídia de dez polegadas, que é de série desde a configuração intermediária Volcano, ganhou uma nova interface, um hardware mais robusto e um espelhamento de smartphone sem o uso de cabos.
Embora fosse bem na terra, um ponto que me desagravava bastante na "velha" Titano era o rodar áspero no asfalto. Era uma picape menos refinada de rodar que as concorrentes. E, aqui, vale copiar dois trechos do meu teste com a caminhonete, no ano passado.
"Se a ideia for comprar uma picape com pegada de carro de passeio e boa para o asfalto, então é melhor buscar uma alternativa à Titano. Essa média da Fiat é uma cargueira de rodar áspero, que vibra mais ou menos de maneira constante mesmo em asfalto sem muitas ondulações"
Na época, critiquei também as oscilações da carroceria e o peso da direção hidráulica nas manobras. "A Titano proporciona uma direção cansativa em jornadas rodoviárias longas, em comparação com suas concorrentes equipadas com direção elétrica, por exemplo".
Pois é. Mas tudo mudou. A Titano 2026 surpreende desde o momento da partida, já que vibra menos que a picape antiga já em marcha lenta. E essa mesma suavidade no rodar continua também em velocidades mais altas.
Mérito da suspensão recalibrada, que agora mantém a carroceria sempre estável, sem muitas oscilações verticais, e entrega conforto mesmo rodando em pisos irregulares.
E a direção elétrica realmente fez muito bem para a Titano, que agora tem um conjunto leve em manobras e bastante preciso em velocidade. E se antes o motor 2.2 era suficiente para a proposta, o novo propulsor Multijet empolga mais. Principalmente no modo Sport de condução, a sensação é de trabalhar sempre com sobra de potência e torque.
No trecho de alta velocidade do Circuito dos Cristais, em Curvelo (MG), cravei o pé no fundo do acelerador e ultrapassei os 140 km/h com muita facilidade. E a Titano continuou "na mão". Como se estivesse rodando a menos de 100 km/h.
Em resumo: ainda acho que a Ford Ranger é a atual referência em dirigibilidade entre as picapes médias. Mas a Titano 2026 mudou da água para o vinho e (agora) não faz feio frente às concorrentes. Pelo contrário. Briga com elas de igual para igual.
A Titano 2026 já estava em pré-venda e agora chega nas lojas. Encareceu de maneira considerável na comparação com a linha 2025. Mas, mesmo assim, ainda tem preços muito competitivos.
A versão de entrada é a Endurance, que combina o novo motor com um câmbio manual de seis marchas. Disponível somente com tração 4x4, sai por R$ 233.990. Já a intermediária é a Volcano, que já tem o câmbio automático de oito marchas e custa R$ 263.990. A topo de linha ainda é a Ranch, que custa R$ 285.990.
Mesmo nessa versão mais cara, a Titano ainda é mais barata que configurações de entrada/intermediárias das concorrentes, como a Toyota Hilux STD Power Pack automática (R$ 288.990), a Chevrolet S10 WT automática (R$ 292.090) e a Ford Ranger XLS 3.0 (R$ 303.900).
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