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Fiat deixará de fazer carro cinza. Você concorda?

Marca italiana diz que pretende seguir "raízes italianas", o país da "alegria, otimismo e amor", e quer cores mais vivas

por André Deliberato

A Fiat revelou agora no final de junho que decidiu parar de fazer carros nas cores cinza, prata e outras "sem alegria". Calma. Essa Fiat é a da Europa, não a brasileira - por aqui, a preferência do consumidor por veículos nas cores cinza, prata, preta e branca seguirá sendo respeitada.
A decisão foi anunciada pelo CEO da Fiat, Olivier François, que também é CMO (chefe-executivo de marketing) do Grupo Stellantis.
"Essa escolha comunica ainda mais às pessoas os valores da Dolce Vita e do DNA italiano incorporado pela marca", revelou. A campanha foi chamada de "Operation No Gray" (Operação Sem Cinza).
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Adeus, carro cinza

Na visão da Fiat, a Itália é o "país das cores" e carros sem tons vivos não têm a ver com a marca. "Não estamos falando de Alemanha, Japão ou França. Estamos falando da Itália: aqui é local de alegria, de otimismo, amor, paixão e vida. E o cinza não tem nada a ver com isso", explicou, em um discurso que foi, digamos, patriótico demais para um... Francês!
"Vamos parar de fazer carro nas cores cinza e prata. Isso é um desafio e também algo disruptivo. Mas a Itália é o país das cores e, a partir de agora, os carros da Fiat também", completou.
Vale ressaltar que a campanha (veja o vídeo abaixo) "mergulha" um Fiat 600 prata em um tanque de tinta laranja. A cena tem muito drama e até Olivier François dentro do carro.

Tá, mas e aí?

Você, caro leitor, acredita que a iniciativa da Fiat é certeira, polêmica ou falha?
A decisão não afeta a filial brasileira e muito menos as de outros países com grandes número de vendas, como Estados Unidos e Japão, onde a preferência é igual à nossa: branco, preto, prata e cinza.
Aliás, pesquisa feita pela Basf mundial aponta justamente o contrário: preto e branco ainda dominam o gosto do consumidor de automóveis, ao lado de cores com tons cromáticos.
Foi assim em 2022 e deve acontecer de novo em 2023.
Só que o relatório mais recente diz que o arco-íris de cores automotivas está se expandindo para que cores como amarelo, laranja, verde e violeta conquistem mais participação de mercado.
Apesar da mudança, as cores consideradas acromáticas – branca, preta, prata e cinza – seguem um padrão familiar, e estão na maioria dos veículos não-comerciais.
Como há vários anos, o branco ainda é a cor mais popular em todo o mundo.

América do Sul

Historicamente, os compradores de carros sul-americanos escolhem cores mais tradicionais e menos chamativas. O branco é o favorito, e o cinza supera o preto em participação de mercado.
Para as cores cromáticas, o vermelho e o azul mantiveram-se estáveis, enquanto o castanho ganhou alguma cota de mercado - essas cores foram escolhidas para carros menores.
Modelos maiores e os SUVs tiveram a maior parcela de cores acromáticas.
"A América do Sul ainda é uma região conservadora. Comprar um veículo na região significa que você pode não ter a mesma variedade de cores, mas dentro de cada paleta existem efeitos interessantes e diferentes", explica Marcos Fernandes, Diretor de Negócios da Automotive Coatings South America.

Diversidade de cores deve aumentar

Se não existissem cores acromáticas e vivêssemos em um mundo como o que a Fiat sonha, muitos clientes optariam mais por azul ou vermelho, de acordo com a Basf.
Embora essas duas cores sejam populares, tons como amarelo, laranja, verde e violeta ganham cada vez mais participação de mercado na maioria das regiões do mundo. Isso prova que as fabricantes têm adotado uma gama mais ampla de diversidade e amplitude de cores.
Na Europa, no Oriente Médio e na África, os dados mostram que as duas cores mais populares – preta e branca – mantiveram os números, e que o cinza e o prata perderam fôlego. Ao mesmo tempo, essas regiões ficaram mais coloridas.
O azul ainda lidera, mas tanto o azul quanto o vermelho perderam participação. O laranja começou a aparecer e o amarelo, o marrom e o verde ganharam alguns pontos percentuais.

E nos EUA?

Os compradores norte-americanos de carros têm menos opções de cores cromáticas, mas isso não significa que eles estão escolhendo menos carros, caminhões ou SUVs cromáticos.
Azul e vermelho ainda são dominantes, mas a região está "mais colorida" do que antes, já que verde, amarelo, violeta e bege apareceram com mais frequência no ano passado.
O azul ainda está no topo. Cores acromáticas como preta, cinza, branca e prata perderam espaço no mercado, principalmente em veículos maiores. Isso permitiu que tons terrosos como bege, marrom e verde aumentassem, e até o violeta ganhasse participação.

Branco, o mais querido na Ásia

Como os designers da Basf viram em outras regiões do mundo, o branco também era a cor mais popular na região Ásia-Pacífico. O verdadeiro foco este ano é o aumento dos tons de cinza, sugerindo uma nova era na indústria automotiva e a mudança de valores e hábitos dos compradores de automóveis.
Embora os números não sejam enormes, marrom, verde e violeta são consistentes em popularidade de cores. Levará muito tempo até que eles desafiem o branco como o mais popular, mas, por enquanto, eles aumentam a diversidade de cores na Ásia-Pacífico.
Isso é especialmente verdadeiro entre veículos pequenos e em pequenos EVs, que são vendidos em uma ampla gama de cores.
O cinza ganhou cerca de seis pontos percentuais em popularidade, conquistando participação de mercado do azul, vermelho, dourado e marrom.
O relatório Basf Color Report for Automotive OEM Coatings é uma análise de dados da divisão de tintas da empresa com base na produção global automotiva e na aplicação em carros não comerciais.

Tendências no Brasil

Pudemos ver no Brasil, nos últimos anos, algumas tendências curiosas. Aqui o branco, o prata e o preto - e algumas variações, como o cinza - sempre dominaram.
Mas, alguns anos atrás, as marcas "premium" fizeram um curioso movimento de investir justamente na cor branca, que não era exatamente a predominante no segmento. Foi um tempo de muitos Audi, BMW, Mercedes e Volvo, entre outros, na cor branca. Não durou muito.
Mais recentemente, essas mesmas marcas "premium" resolveram investir em cores mais fortes e vibrantes. Um ótimo exemplo é a volta do jipão Mercedes-AMG Classe G ao mercado brasileiro, que noticiamos aqui no final de abril,  e que foi (re)apresentado com uma pintura "verde-marciana" de queimar os olhos. Se a tendência vai durar, só o tempo dirá.
Esses tons chamativos, contudo, sempre foram vistos - e bem recebidos - em superesportivos. Ferrari, Lamborghini e afins nunca abriram mão de cores como azul, vermelho, amarelo ou verde, mesmo existindo também com pintura branca ou preta para os mais conservadores.

E aqui vale lembrar outro aspecto curioso do mercado brasileiro. Durante muito tempo as fabricantes de carros de grandes volumes lançaram novos modelos sempre com cores fortes - azul claro, verde-limão, roxo, dourado. Quem não lembra daquele amarelo "esverdeado" do Chevrolet Agile?
Elas foram até apelidadas de "cores de lançamento", porque depois eram raramente encontradas nas concessionárias. A lógica era impressionar na chegada e manter a discrição de sempre no mercado.

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