Um dos maiores estandes do Salão de Xangai (China) é o da Hongqi. Honra que é reservada apenas às gigantes estrangeiras e às potências da indústria local. Mas o que faz uma marca praticamente desconhecida fora do país asiático ter um espaço tão nobre?
É que a Hongqi - pronuncia-se "Hon-Chi" - é a marca mais antiga da China e pode tranquilamente ser apelidada de Rolls-Royce chinesa, tamanho o prestígio no país. Impressiona a atenção dada pelo público aos seus carros.
Marca do grupo estatal FAW, a Hongqi surgiu em 1958 e o seu nome em mandarim é traduzido como "bandeira vermelha" em português.
Nome apropriado para um marca que surgiu para produzir carros de luxo restritos aos timoneiros da China socialista.
O primeiro modelo da marca era chamado de CA72, um sedã de visual americano equipado com um motor V8 de 200 cv que - dizem as más línguas - era baseado em um projeto da Chrysler.
Era um carro exclusivíssimo e de produção restrita e quase artesanal. Nos tempos em que boa parte dos chineses andavam de bicicletas e qualquer automóvel era artigo de luxo, esse CA72 era ainda mais inacessível e não podia ser adquirido por meros mortais.
Por isso mesmo, não havia a necessidade de mudanças de estilo pesadas ou o lançamento constante de novos produtos. O CA72 deu lugar nos anos 1960 ao - bem parecido - CA770, que por sua vez ficou em produção até os anos 1980. Ainda como um produto exclusivo e inacessível para 99% dos chineses.
A coisa começou a mudar no final dos anos 1980. A China socialista se abria para o mundo externo e queria se mostrar moderna. E essa modernidade veio a partir de um Hongqi baseado no projeto do - menos antigo - Audi 100 de terceira geração.
Esse carro, aliás, deu origem a uma família de produtos feita até meados dos anos 2000 e que teve uma série de variações de carroceria e até de mecânica.
Inclusive com o uso de motores da Chrysler no lugar dos Audi...
A partir daí Hongqi e China decolaram. Os Audi repaginados dos anos 1980 deram lugar a produtos distintos e mais atuais, ainda que baseados em projetos completos e/ou conjuntos mecânicos das marcas tradicionais do ocidente e do Japão.
E assim como as marcas mais generalistas chinesas no mesmo período, ao longo dos anos 2010 as plataformas e motores de marcas tradicionais desses Hongqi foram descartados e substituídos por componentes de projeto local.
Não mais restritos aos líderes políticos, esses carros da bandeira vermelha agora eram vendidos em lojas - quem diria! - e poderiam ser comprados pelos cada vez mais endinheirados (e consumistas) filhos de camponeses e operários.
Hoje a Hongqi é uma marca tão cheia de opções de carros como quaisquer outras chinesas. São SUVs de todos os tamanhos, minivans e até sedãs médios, equipados com motores híbridos, elétricos ou 100% a combustão. Tudo isso sem abandonar os modelos de altíssimo luxo.
O Hongqi Guoli, por exemplo, é um luxuosíssimo sedã com motor V8 a gasolina e visual retrô. No final das contas, é um carro digno de ser um símbolo da China de 2025.
Sofisticada, mas sem abandonar de vez a tradição.
E, claro, ostenta a onipresente bandeira vermelha, que ainda adorna os Hongqi como chamativos símbolos de orgulho.
A China, companheiros, chegou lá! Pelo menos quando o assunto é carro.



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