Japão não investir tanto em elétricos gera debates

Na rede social Reddit, diferentes opiniões variam do sensato ao radicalismo

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Fernando Calmon
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Trata-se do maior fórum mundial de discussões livres sobre os mais diversos assuntos e uma modalidade diferente de rede social. A Reddit é completamente anônima (salvo quem queira se identificar).

Tem chamado atenção que carros elétricos suscitam opiniões entre apaixonados e detratores ao redor do mundo. Mas há um fato no mínimo intrigante sobre sua aceitação morna no Japão, terceiro maior mercado mundial e sede da Toyota, maior grupo internacional de fabricante de veículos com três subsidiárias (Lexus, Daihatsu e Hino, esta para caminhões e ônibus).

Um dos debates mais acalorados atualmente na Reddit discute porque a indústria japonesa de veículos não investe tanto no desenvolvimento de modelos 100% elétricos, apesar de ter sido pioneira na eletrificação básica com o híbrido Toyota Prius, no Japão desde 1997 e, no resto do mundo, a partir de 2001. Há ainda o Nissan Leaf, primeiro modelo elétrico a bateria a alcançar relativo sucesso comercial, lançado no mercado mundial em 2010.

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Lançado em 2010, o Nissan Leaf foi o primeiro elétrico com razoável sucesso mundial
Crédito: Divulgação
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Em centenas de postagens, as opiniões são as mais diversas. Desde análises sensatas e elaboradas - que demonstram conhecimento do assunto -, passando por uns sem nenhuma noção e outros desaforados ou que se baseiam em teorias de conspiração.

Estes atacam governo e fabricantes nipônicos por sabotarem propositalmente os esforços mundiais para a redução das emissões de dióxido de carbono (CO2), principal vilão no aumento do efeito estufa e aquecimento atmosférico.

Outras opiniões apontam a rígida cultura hierárquica de trabalho, que os japoneses são conservadores e resistem a mudar de rumo. Curiosamente, a maioria das postagens deixa de abordar o cliente, que é quem decide o que vai comprar.

Uma delas foi direta ao assunto: "O Japão tentou mudar para elétricos antes de qualquer outro país, mas não pegou".

E os motivos para isso foram diversos. Além do preço bem mais elevado que os dos automóveis movidos por motores a combustão, há o problema de geração de energia do Japão, que depende basicamente de combustíveis fósseis importados. Em números aproximados: gás natural, 38%; carvão, 27%; nuclear, 10% e renováveis (solar e hidrelétrica), 25%.

O pequeno Mitsubishi I-Miev foi apresentado em 2009
Crédito: Divulgação
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Uma postagem destaca que o desastre na usina nuclear de Fukushima, em 2011, assustou o país, além de aumentar consideravelmente o preço da eletricidade, justamente quando surgiram os primeiros modelos VEBs no mercado japonês: Nissan Leaf e Mitsubishi i-MiEV (2009).

Também se relatam problemas de carregamento, infraestrutura limitada e a maioria dos prédios residenciais não possui garagem. Pontos de recarga individuais nas ruas são muito caros.

Alternativas colocadas têm respaldo no bom senso

A Toyota aposta firmemente em multicaminhos e, apesar de ter elétricos no portfólio, não colocou todas suas fichas nesta tecnologia, como fizeram vários concorrentes. E, com forte produção de híbridos, aumentou suas vendas globais em 2024. Para a Toyota, veículos elétricos a bateria (VEBs) não deverão alcançar fatia superior a 30% do mercado mundial em futuro previsível. Mas esta posição gerou a ira dos ambientalistas.

Os radicais atacam qualquer argumento contrário, mesmo que a exploração de minérios para produção de baterias também contribua para o aquecimento do planeta. Akio Toyoda, presidente do Conselho e neto do fundador da Toyota, prefere a prudência. "Se me perguntarem se essa será a única opção ou solução para a redução do aquecimento global, então tenho minhas dúvidas. E também acho que nossos clientes têm as mesmas dúvidas".

Toyoda acredita que a abordagem mista — híbridos, híbridos plugáveis, motores a gasolina mais eficientes, hidrogênio e também VEBs — deve atender diferentes opções, para diferentes clientes, em diferentes regiões do planeta. "Cerca de um bilhão de pessoas na nossa base de clientes não dispõe de infraestrutura elétrica suficiente para sua vida cotidiana", afirmou recentemente. "Se dissermos que VEBs serão a única opção a seguir, o que acontecerá com essas pessoas?"

Corolla Cross XRX Hybrid: a Toyota optou por investir em diversos tipos de motorização
Crédito: Ricardo Rollo/Webmotors
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Este posicionamento pragmático foi responsável por sua decisão de declinar do posto no comando executivo da Toyota, no fim de 2022, após confrontado por um grupo de investidores. Contestaram o que definiram como resposta lenta da empresa em relação ao desenvolvimento e à produção de elétricos, além de questionarem as suas declarações relacionadas ao clima. "Estou falando a verdade, então por que devo recuar?", respondeu.

E, pelos resultados atuais da Toyota, além das crises enfrentadas agora por seus concorrentes com a resposta mais lenta do mercado de elétricos, parece que a marca japonesa está no caminho certo. Pelo menos, por enquanto.

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