Recebemos um release da Volkswagen informando que os carros da marca produzidos nas plantas brasileiras de Anchieta e Taubaté, em São Paulo, e São José dos Pinhais, no Paraná, receberão um adesivo no vidro traseiro para comemorar os 20 anos da criação do primeiro carro com motor flex.
Mais importante que o adesivo é a memória. Muita gente nem deve lembrar, mas lá se vão duas décadas desde o lançamento do primeiro carro nacional com motor flex - o Gol Power 1.6 Total Flex, em 2003. Foi o primeiro modelo no país capaz de rodar com gasolina, etanol ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção.
Mas a busca pelo motor flex começou bem antes: a possibilidade de usar misturas de etanol e gasolina vem de 1992, juntamente com o desenvolvimento do sistema de injeção de combustível com controle digital. Já no início dos anos 2000, a decisão da Volkswagen em implementar o sistema total flex foi suportada pela existência de infraestrutura estabelecida para o etanol, pelo interesse do consumidor e pelo aprimoramento da tecnologia de controle digital dos motores, desenvolvida ao longo da década de 1990.
De lá para cá, muito coisa mudou. Os primeiros motores flex tinham "tanquinho" para gasolina, a ser usada nas partidas a frio. Depois, em 2009, esse recurso foi abandonado devido a vários novos recursos e dispositivos. Além disso, os softwares ficaram mais sofisticados, identificando de forma mais segura o combustível e adaptando rapidamente o motor à mistura do momento.
Atualmente quase todos os motores a combustão dos automóveis vendidos no mercado brasileiro são flex - das marcas populares às de luxo. E apesar do aumento progressivo nas vendas de veículos elétricos no país, os motores flex não serão abandonados tão cedo.
Aliás, o vice-presidente e atual ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços disse, esses dias, que o governo estuda aumentar a quantidade de álcool anidro misturado à gasolina dos atuais 27,5% para 30%.
Assim como os motores flex, essa pergunta também atravessou as duas últimas décadas e permanece em alta até hoje. Bom, como é de conhecimento público, a conta é simples: só vale a pena abastecer com etanol (o álcool hidratado, que vai diretamente no tanque) se ele custar menos de 70% do preço da gasolina.
Isso porque, com etanol, o consumo dos carros costuma ser 30% maior. Ou seja, se o preço do etanol bater nos 70%, a conta é igual: você gasta 30% a menos para abastecer, mas 30% a mais par rodar. E isso usando um combustível mais "seco" e que, embora seja menos poluente, também é menos saudável para o motor e outros componentes do carro.
A mesma regra vale para as poucas motocicletas com motor flex que existem no mercado brasileiro. Aliás, em motos - que costumam ser veículos mais econômicos e menos poluentes - raramente vale a pena usar etanol, inclusive pela eventual dificuldade na partida a frio.
Numa realidade ideal, o etanol deveria custar a metade do preço do gasolina. Mas o Brasil é um país com muitas particularidades, e nem todas positivas. O etanol brasileiro vem da produção da cana-de-acúcar, e parte dessa produção não "vira combustível" - de acordo com as tendências do mercado, vira commodity, inclusive para exportação.
Além disso, os governos brasileiros jamais investiram ou criaram incentivos para tornar o etanol exatamente o que ele deveria ser: o principal combustível usado no país, com preço baixo, menor emissão de poluentes e produção própria, abundante e independente de importações.
Então apenas parte da produção vira álcool anidro para ser misturado à gasolina e outra parte vira hidratado, para ser combustível "puro". A diferença entre os dois está na concentração de água: no hidratado, pode chegar a 5% e, no anidro, a 0,5%. Por ter muito mais álcool do que água na composição, o etanol anidro é o que vai misturado à gasolina - por ser um álcool quase puro, não há risco de ocorrer a separação da água no combustível.
Os modelos Volkswagen que receberão o adesivo comemorativo são Polo, Virtus, Nivus, T‑Cross e Saveiro, com produção limitada até dezembro de 2023. E vale destacar um detalhe bacana: os adesivos têm um QR Code que direciona para o aplicativo do programa Abasteça Consciente.
O programa Abasteça Consciente tem a função de incentivar a escolha do etanol no momento que o cliente abastece o carro. Inclusive permite ao consumidor fazer as contas com uma calculadora digital para saber qual combustível é mais vantajoso: etanol ou gasolina, conforme explicamos aí em cima.
Além do aspecto financeiro, a ferramenta mostra qual será a emissão de CO2 (dióxido de carbono) de acordo com o combustível escolhido, considerando a metodologia “poço-à-roda” (da origem do combustível ao uso). Assim, o cliente pode olhar - ao mesmo tempo - para o bolso e para o meio ambiente.