Lá se vão 20 anos desde o primeiro motor flex

Gol Power 1.6 Total Flex surgiu em 2003 e agora a VW lança adesivo para comemorar. Mas a questão do etanol é bem maior

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Roberto Dutra
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Recebemos um release da Volkswagen informando que os carros da marca produzidos nas plantas brasileiras de Anchieta e Taubaté, em São Paulo, e São José dos Pinhais, no Paraná, receberão um adesivo no vidro traseiro para comemorar os 20 anos da criação do primeiro carro com motor flex.

Mais importante que o adesivo é a memória. Muita gente nem deve lembrar, mas lá se vão duas décadas desde o lançamento do primeiro carro nacional com motor flex - o Gol Power 1.6 Total Flex, em 2003. Foi o primeiro modelo no país capaz de rodar com gasolina, etanol ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção.

Pesquisas começaram bem antes

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Mas a busca pelo motor flex começou bem antes: a possibilidade de usar misturas de etanol e gasolina vem de 1992, juntamente com o desenvolvimento do sistema de injeção de combustível com controle digital. Já no início dos anos 2000, a decisão da Volkswagen em implementar o sistema total flex foi suportada pela existência de infraestrutura estabelecida para o etanol, pelo interesse do consumidor e pelo aprimoramento da tecnologia de controle digital dos motores, desenvolvida ao longo da década de 1990.

Considerado pela Volkswagen como o substituto do Gol, o Polo também pode usar etanol e gasolina em qualquer proporção
Crédito: Divulgação
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De lá para cá, muito coisa mudou. Os primeiros motores flex tinham "tanquinho" para gasolina, a ser usada nas partidas a frio. Depois, em 2009, esse recurso foi abandonado devido a vários novos recursos e dispositivos. Além disso, os softwares ficaram mais sofisticados, identificando de forma mais segura o combustível e adaptando rapidamente o motor à mistura do momento.

Atualmente quase todos os motores a combustão dos automóveis vendidos no mercado brasileiro são flex - das marcas populares às de luxo. E apesar do aumento progressivo nas vendas de veículos elétricos no país, os motores flex não serão abandonados tão cedo.

Aliás, o vice-presidente e atual ministro de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços disse, esses dias, que o governo estuda aumentar a quantidade de álcool anidro misturado à gasolina dos atuais 27,5% para 30%.

Vale a pensa usar etanol?

Assim como os motores flex, essa pergunta também atravessou as duas últimas décadas e permanece em alta até hoje. Bom, como é de conhecimento público, a conta é simples: só vale a pena abastecer com etanol (o álcool hidratado, que vai diretamente no tanque) se ele custar menos de 70% do preço da gasolina.

Isso porque, com etanol, o consumo dos carros costuma ser 30% maior. Ou seja, se o preço do etanol bater nos 70%, a conta é igual: você gasta 30% a menos para abastecer, mas 30% a mais par rodar. E isso usando um combustível mais "seco" e que, embora seja menos poluente, também é menos saudável para o motor e outros componentes do carro.

A mesma regra vale para as poucas motocicletas com motor flex que existem no mercado brasileiro. Aliás, em motos - que costumam ser veículos mais econômicos e menos poluentes - raramente vale a pena usar etanol, inclusive pela eventual dificuldade na partida a frio.

Hoje em dia, até os motores mais modernos e turbinados, como este "200", são flex
Crédito: Divulgação
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Etanol deveria custar bem menos

Numa realidade ideal, o etanol deveria custar a metade do preço do gasolina. Mas o Brasil é um país com muitas particularidades, e nem todas positivas. O etanol brasileiro vem da produção da cana-de-acúcar, e parte dessa produção não "vira combustível" - de acordo com as tendências do mercado, vira commodity, inclusive para exportação.

Além disso, os governos brasileiros jamais investiram ou criaram incentivos para tornar o etanol exatamente o que ele deveria ser: o principal combustível usado no país, com preço baixo, menor emissão de poluentes e produção própria, abundante e independente de importações.

Então apenas parte da produção vira álcool anidro para ser misturado à gasolina e outra parte vira hidratado, para ser combustível "puro". A diferença entre os dois está na concentração de água: no hidratado, pode chegar a 5% e, no anidro, a 0,5%. Por ter muito mais álcool do que água na composição, o etanol anidro é o que vai misturado à gasolina - por ser um álcool quase puro, não há risco de ocorrer a separação da água no combustível.

O etanol deveria ser mais barato e usado como principal combustível no país. Mas é um coadjuvante
Crédito: Reprodução
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De volta ao adesivo

Os modelos Volkswagen que receberão o adesivo comemorativo são Polo, Virtus, Nivus, T‑Cross e Saveiro, com produção limitada até dezembro de 2023. E vale destacar um detalhe bacana: os adesivos têm um QR Code que direciona para o aplicativo do programa Abasteça Consciente.

O programa Abasteça Consciente tem a função de incentivar a escolha do etanol no momento que o cliente abastece o carro. Inclusive permite ao consumidor fazer as contas com uma calculadora digital para saber qual combustível é mais vantajoso: etanol ou gasolina, conforme explicamos aí em cima.

Além do aspecto financeiro, a ferramenta mostra qual será a emissão de CO2 (dióxido de carbono) de acordo com o combustível escolhido, considerando a metodologia “poço-à-roda” (da origem do combustível ao uso). Assim, o cliente pode olhar - ao mesmo tempo - para o bolso e para o meio ambiente.

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