Carde: um programa imperdível em Campos do Jordão

Instalações do museu foram abertas para o público essa semana, no interior de SP. Acervo é absolutamente impressionante!

  1. Home
  2. Últimas notícias
  3. Carde: um programa imperdível em Campos do Jordão
Fernando Calmon
Compartilhar
    • whats icon
    • bookmark icon

Enzo Ferrari definia o automóvel como um meio de "Civilitá e Cultura". Visão abalizada por um verdadeiro mito da indústria, que acompanhou toda evolução do automóvel e os construiu durante o Século XX. E esta história de civilidade e cultura passa a ser constatada agora, aqui no Brasil, em um dos mais incríveis e surpreendentes museus de automóveis, de nível internacional.

Acaba ser inaugurado (28 de novembro), na estância turística de Campos do Jordão (SP), localizada a cerca de 170 km da capital paulista, o Carde – acrônimo de Carro, Arte, Design e Educação (pronuncia-se cardê), um museu que apresenta temática dinâmica e inclusiva.

O espalhafatoso Cord 29 L Cabriolet é um dos modelos mais raros exibidos no museu
Crédito: Divulgação
toggle button
  • Comprar carros
  • Comprar motos
Ver ofertas

Com mais de 100 modelos em exposição de um total de 500 no acervo, é uma demonstração artística, da arquitetura à moda, pintura, escultura, confecção de joias e outras manifestações. Portanto, pode ser visitado mais de uma vez e continuar a ser

surpreendido por alguns modelos em estratégia de rotatividade ao longo dos meses.

A proprietária Lia Maria Aguiar, de 86 anos, acaba de ser homenageada no Hall da Fama da revista Autoesporte. Logo no saguão de entrada, surge o raro e notável Uirapuru, nascido como Brasinca GT 4.200. Nas salas temáticas, há modelos exclusivos como o Cadillac Model M Coupe 1907, um dos raros sobreviventes desta série denominada "Osceola".

O imponente Duesenberg Model J Limousine é uma das joias raras do Carde
Crédito: Divulgação
toggle button

Trata-se de um dos primeiros modelos com carroceria fechada fabricado nos EUA. Com motor monocilíndrico de 1.6 litro e 10 cv de potência, mantém como detalhe original os pneus brancos de época. Pneus na cor preta só começaram a ser produzidos na década de 1910, com a adição do pigmento "carbon black", o que aumentou a durabilidade.

Outra exclusividade é o Hispano-Suiza 1911, 30-40 HP Series 95, típico representante da "Era do Bronze" (fabricados de 1905 a 1918) - como costumam definir os americanos. Este modelo fabricado em Barcelona era o carro-chefe do pioneiro Museu Paulista de Antiguidades Mecânicas criado pelo colecionador Roberto Lee, na década de 1960, na cidade de Caçapava (SP). Porém, com o falecimento do criador, a proposta inovadora e arrojada para a época acabou abandonada.

O Chrysler Town And Country Convertible Coupe tem espaço destacado
Crédito: Divulgação
toggle button

Também raridade é o Benz 10/30 PS Limousine Landaulet 1912, com motor de quatro cilindros de 30 cv que, nesta configuração, permitia rebater a extremidade traseira da carroceria como nas carruagens. Ainda na mesma sala estão expostos dois representantes da era Vintage: o Rolls-Royce 20 HP Tourer e o Voisin C3 L Coupé Chauffeur Limousine Transformable, ambos fabricados em 1927. Detalhe: o Voisin, encarroçado por Belvalette, é mantido sem restauração por ser único no mundo e completamente original.

Na mesma sala temática destacam-se o elegante Auburn 851 SC Phaeton Sedan 1935, o charmoso Cord L-29 Cabriolet 1931 e o imponente Duesemberg Model J Limousine 1930. Todos equipados com motor de oito cilindros em linha fornecido pela Lycoming (fabricante de motores a pistão de aviões), que se destacava pela potência e desempenho, sendo o Cord o primeiro carro americano com tração dianteira. Mas estes três “primos”, também raros e que foram muito conceituados na década de 1930, tiveram trajetória meteórica.

Os esportivos Aston Martin DB85 (o carro de James Bond) e Porsche 356 fazem parte do acervo
Crédito: Divulgação
toggle button

Isso começou em 1924, quando o jovem e arrojado empreendedor Errett Lobban Cord, conhecido como "EL Cord" e com apenas 30 anos de idade, assumiu o controle da Auburn, empresa fundada em 1900, e logo depois também incorporou a Duesenberg, a Lycoming Engines, a Checker Motors, além de fundar a American Airways, hoje American Airlines.

Cord rapidamente investiu na produção de automóveis que se destacavam pelo design, desempenho e requinte no acabamento alcançando muito sucesso. Porém, parece que o passo de El Cord foi maior do que as pernas e ele acabou envolvido em um escândalo financeiro na Bolsa de Valores. Assim, o grupo de empresas acabou "enforcado" na própria "corda" e o empresário foi obrigado a vender a Cord Corporation, em 1937, para a  Aviation Corporation.

Grandes brasileiros: Gordini, DKW, Karman-Ghia, Chevrolet Opala e Ford Rural
Crédito: Divulgação
toggle button

Esta, interessada apenas na área de aviação, Lycoming Engines e a American Airways, acabou encerrando abruptamente a produção das três marcas de automóveis de muito prestigio na época.

Um modelo Vintage também de muito prestigio ganhou uma sala temática exclusiva no Carde. O Isotta Fraschini Tipo 8A Cabriolet d’Orsay fabricado em 1925 e finalizado pela renomada Carrozzeria Castagna conta uma história de paixão do milionário carioca Henrique Lage que presenteou sua esposa, a cantora lírica italiana Gabriella Besanzoni, com este modelo exclusivo que fez sucesso na época com seu potente e silencioso motor de oito cilindros em linha. Por sinal, a especialidade da marca italiana eram os motores.

Os modelos criados pelo visionário João Augusto Conrado do Amaral Gurgel têm um espaço dedicado
Crédito: Divulgação
toggle button

Em outra sala estão modelos de solenidades, como o Lincoln K 1938 Touring, que transportou o presidente Getúlio Vargas e o presidente da França Charles de Gaulle, além da rainha da Inglaterra Elizabeth II. Resgatado e restaurado pelo colecionador Og Pozzoli, e com ele mesmo como motorista, transportou o papa João Paulo II. Na mesma sala estão o Willys Itamaraty Executivo 1966 e o Fusca conversível 1958 no qual o presidente Juscelino Kubitschek inaugurou a fábrica da Volkswagen, em 1959, em São Bernardo do Campo (SP).

Na ala reservada aos modelos pioneiros da indústria nacional também sobressai a arquitetura futurista na época em que nosso País despontava neste setor. Em outra sala exclusiva estão expostos dois Willys Interlagos Berlineta, modelo esportivo com as cores oficiais do Brasil em competições. Com estes automóveis, vários pilotos brasileiros iniciaram uma trajetória que, em poucos anos, os levou ao sucesso nas competições de Fórmula 1: bicampeonato mundial de Emerson Fittipaldi e os tricampeonatos de Nélson Piquet e Ayrton Senna da Silva.

Todos os modelos exibidos no museu estão em excelente estado e são funcionais: ligou, pegou!
Crédito: Divulgação
toggle button

Na sala mais colorida do Museu estão modelos que embalaram os sonhos dos jovens nas décadas de 1950 e 60, como o Cadillac Eldorado 1955, o Mercedes-Benz 300SL Roadster 1957, o Chevrolet Corvette 1959, o Jaguar E-Type 1961, o Aston Martin DB5 1963 e o Porsche 356 Carrera. E na sala ao lado, destaque para o Cadillac V-16 Séries 39-90 Coupe, fabricado em 1939. Com motor de 7.1 litros de 165 cv de potência, é outro modelo raríssimo, já que apenas cinco unidades desta série foram fabricadas.

Chegando ao pavimento superior, denominado Carro, Arte e Design, em um grande salão estão expostos modelos de diversas épocas. Do pequeno e curioso De Dion-Bouton Type G Vis-à-vis 1902 até o imponente McLaren Senna GTR XP de 2020, passando por diversos outros carros dos sonho de marcas como Ferrari, Lamborghini, Mercedes-Benz, BMW, Alfa Romeo e até a "Carretera" de Camillo Christófaro, um protótipo de competição desenvolvido sobre chassi de Chevrolet Coupe 1937, mas com motor V8 de Corvette.

*colaborou Roberto Marks.

Comentários