Por que a comunidade da Fórmula 1 é tão obtusa?

Toxicidade dos fãs no mundo virtual escancara prós e contras do fortalecimento da presença online da categoria

  1. Home
  2. Últimas notícias
  3. Por que a comunidade da Fórmula 1 é tão obtusa?
Marcus Celestino
Compartilhar
    • whats icon
    • bookmark icon

Bernie Ecclestone não ligava para as plataformas digitais. Não mesmo. O homem chegou a dizer, veja só você, que redes sociais eram uma baboseira e que a Fórmula 1 não precisava de uma nova geração de fãs. Para Ecclestone, bastavam as vultosas cifras que saíam das gordas carteiras de velhos senhores europeus. Sua conta bancária não precisava de curtidas e compartilhamentos. Certo?

Coluna Chicane Celesta

Errado. Ledo engano. Pensamento tacanho, retrógrado. Bernie poderia ter enriquecido ainda mais se tivesse olhado com carinho para os bits. Não à toa, a Liberty Media, que assumiu o controle dos direitos comerciais da Fórmula 1 em 2017, é só chamegos com as plataformas digitais. E não é para menos.

  • Comprar carros
  • Comprar motos
Ver ofertas

Vamos tomar como exemplo a temporada passada. Mesmo com um calendário destruído pela pandemia do novo coronavírus, com 17 corridas, a média de espectadores por grande prêmio foi de 87,4 milhões — apenas 4,5% de queda com relação a 2019. Número muito expressivo que pode ser justificado pela fortalecimento da presença online da categoria e, por conseguinte, fidelização desse público.

Hoje a Fórmula 1 é um dos esportes que mais cresce nas mídias digitais, e deixa para trás titãs como NBA, NFL, Premier League e LaLiga com uma margem confortável (veja mais na imagem abaixo). No ano passado, a categoria cresceu 99% em engajamento em comparação ao ano anterior. Seu número de seguidores nas mais diferentes plataformas deu salto de 36% e, se levarmos em consideração apenas TikTok e Weibo, o salto é de absurdos 133%.

Fórmula 1 fãs

No YouTube, os vídeos do canal oficial da Fórmula 1 tiveram quase 5 bilhões de visualizações. Além disso, há também crescimento exponencial de influenciadores que falam sobre a categoria nas diversas plataformas. Tudo muito bom, né?

Mais ou menos. A comunidade da Fórmula 1 tem se mostrado mais e mais intolerante e preconceituosa. As seções de comentários das páginas e perfis ligados à categoria são verdadeiros shows de horror. Quanto maior fica o grupo, maiores as chances de anonimato, o Biotônico Fontoura dos valentões da internet. É claro que não dá para a Liberty Media monitorar e coibir quaisquer comportamentos inadequados da comunidade. No entanto, há de se fazer mais, especialmente quando ditos fãs disparam impropérios a torto e a direito.

Lewis Hamilton é o alvo favorito dessas pessoas, dos ditos fãs da Fórmula 1. A repugnante enxurrada de comentários racistas após o incidente com Max Verstappen em Silverstone e as diminutas palavras que minimizaram sua centésima vitória na F1 são apenas dois exemplos. Até porque, embora seja o teto de vidro desses patifes, Hamilton é apenas um dos muitos atingidos diariamente por termos de baixo calão. Demais pilotos, chefes de equipe, mecânicos, repórteres, outros usuários e todos envolvidos na categoria são, ou um dia serão, atingidos.

Fórmula 1 fãs
Lewis Hamilton foi alvo de comentários inapropriados até mesmo após alcançar marca histórica
Crédito: DIvulgação
toggle button

O cyberbullying, o ato de ser um imbecil por trás de uma tela de smartphone ou computador, mata. Qualquer cabeça, mesmo que tenha o melhor acompanhamento psicológico do mundo, pode ceder a uma prática tão desprezível. Por isso temos de combater práticas inapropriadas, de prevenir que aconteçam. Isso em setembro, outubro, novembro... O ano todo.

No entanto, volta e meia, a Liberty Media faz vista grossa para esse tipo de comportamento, que às vezes se traduz para as arquibancadas. Isso porque ela está ali, olhando para o bolso. Influenciadores digitais, volta e meia, também fazem vista grossa. Isso porque eles estão ali, olhando para os bolsos.

A comunidade da Fórmula 1, evidentemente, não é um ser homogêneo. Por sorte, a maioria é composta por verdadeiros fãs, que só querem o melhor para o esporte. Estes se fazem cada vez mais necessários. Estes podem se valer de pequenos atos, como a denúncia de um comentário preconceituoso, para fazer a diferença.

Bernie Ecclestone estava errado. A Fórmula 1, sim, precisa de uma nova geração de fãs. O que a categoria não precisa é de pessoas que tenham um olhar mesquinho e egoísta sobre o mundo em que vivemos.

---

Toda a última quarta-feira do mês a coluna Chicane traz reflexões e histórias do mundo do automobilismo, em especial a Fórmula 1, com Marcus Celestino.

Instagram: @mvcelestino

Twitter: @mvcelestino

Comentários