Por que os SUVs estão "jantando" os hatches?

SUVs dominam e hatches perdem espaço. Descubra por que os compactos estão ficando para trás no mercado brasileiro

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Nicole Santana
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O mercado automotivo brasileiro passa por uma revolução silenciosa, mas perceptível: os SUVs estão dominando as ruas e, no processo, deixando os hatches à beira da extinção. Mas por que isso acontece? Será que é apenas uma tendência ou há razões práticas para essa troca?

Um pouco de história: o EcoSport e o início da febre dos SUVs

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Nos anos 2000, a Ford criou um dos modelos mais influentes do mercado brasileiro: o EcoSport. Ele nada mais era do que um Fiesta "aventureiro", mas a ideia de um carro mais alto, robusto e com visual imponente conquistou o consumidor. Com isso, nasceu a primeira dúvida na cabeça do comprador: levar um hatch bem equipado ou um SUV básico?

De lá para cá, os SUVs se diversificaram e ocuparam espaços antes dominados pelos hatches médios, pelos sedãs médios e agora até mesmo pelos compactos. Os números de vendas comprovam: os consumidores preferem um SUV de entrada a um hatch topo de linha. Mas por quê?

Ford Ecosport foi o responsável por iniciar a febre de SUVs compactos no Brasil
Crédito: Divulgação
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Espaço, segurança e status: os fatores que pesam na escolha

A mudança de preferência tem razões práticas e emocionais. Os SUVs transmitem uma maior sensação de segurança por conta da altura e do porte mais robusto. Além disso, costumam oferecer melhor aproveitamento de espaço interno e mais conforto na suspensão.

Mas há também o fator status. A posição de dirigir elevada e o visual mais imponente são elementos que influenciam a decisão do consumidor.

Comparando preços: hatch topo de linha ou SUV de entrada?

Uma das maiores justificativas para a ascensão dos SUVs está na equivalência de preços. Em muitos casos, um hatch topo de linha custa o mesmo (ou até mais) do que um SUV de entrada. Confira alguns exemplos:

  • Volkswagen Polo mais caro (desconsiderando versão GTS): R$ 131.650
  • Volkswagen T-Cross mais barato: R$ 119.000
  • Fiat Argo mais caro: R$ 105.990
  • Fiat Pulse mais barato: R$ 107.990
  • Hyundai HB20 mais caro: R$ 128.010
  • Hyundai Creta mais barato: R$ 147.390
  • Peugeot 208 mais caro: R$ 122.990
  • Peugeot 2008 mais barato: R$ 128.490
  • Ou seja, um consumidor que tem cerca de R$ 130 mil pode escolher entre um hatch completamente equipado ou um SUV básico. E a escolha tem sido cada vez mais pelo SUV.

    O impacto das vendas diretas nos hatches

    Se olharmos apenas o varejo, o domínio dos SUVs é ainda maior. Em 2024, o carro mais vendido no varejo foi... isso mesmo, um SUV, o Hyundai Creta.

    Nas vendas gerais (vendas diretas e varejo juntas), o Volkswagen Polo foi o líder de vendas entre, com 140.177 unidades, mas 68,31% (95.763) foram de vendas diretas, segmento focado na comercialização para frotistas e locadoras.

    E ele não é o único. O mesmo aconteceu com o Fiat Argo, por exemplo. Do total de 91.139 unidades comercializadas, 68,95% (62.843) foram de vendas diretas.

    O Hyundai HB20 também segue o mesmo perfil. No último ano, o veículo registrou um total de 97.079 unidades. No entanto, 55,6% (54.034) foram no segmento de vendas diretas.

    De forma mais recente, nos primeiros dias de março, o hatch da Hyundai vendeu 1.705 unidades, passando o líder Polo. No entanto, fontes ligadas à marca afirmam que, desse total, 76,36% foram de vendas diretas. Além disso, 1.241 unidades foram da versão Comfort 1.0, a mais acessível e mais buscada por frotistas.

    HB20 é o automóvel mais vendido em março, mas 76,36% dos emplacamentos foram de vendas diretas
    Crédito: Ricardo Rollo/WM1
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    Nos SUVs, o cenário é oposto. O Hyundai Creta vendeu 69.116 unidades no total, mas apenas 13.035 foram vendas diretas – ou seja, ele é um carro de consumidor final. O Volkswagen T-Cross seguiu a mesma tendência, com mais vendas no varejo (39.767) do que para frotistas (44.223).

    Isso mostra que, sem as vendas diretas, os hatches compactos estariam ainda mais pressionados.

    Os SUVs estão "jantando" os hatches? Sim, e também os sedãs

    No passado, quando a diferença de preço dos SUVs era ainda maior em relação aos demais segmentos, os integrantes da categoria eliminaram os hatches médios, como Golf, Focus e Bravo. Agora, com essa margem de preço sendo reduzida, estão engolindo os compactos.

    Quer outro exemplo? Como mencionado pelo WM1, o Polo GTS está com os dias contados. O hatch com pegada esportiva dará lugar ao Nivus GTS, SUV que chega em breve ao mercado brasileiro.

    E não para por aí: os sedãs médios também estão sumindo. Tanto que, em 2024, dos 20 automóveis mais vendidos do Brasil, apenas três eram sedãs, sendo que a maioria estava nas posições mais baixas do ranking. No top 10, somente um integrante: o Chevrolet Onix Plus, com 59.960 emplacamentos, sendo que 57% foram de vendas diretas.

    Por fim, imagine ter um carro vendido no mercado brasileiro desde a década de 90 e a variante recente do veículo, lançada em 2021, vender mais que o modelo original. É o que acontece atualmente com a linha Corolla. O sedã vendeu, em 2024, 37.668 unidades, enquanto o Corolla Cross vendeu 47.796 exemplares no mesmo período.

    O futuro é claro: se nada mudar, o mercado será cada vez mais dominado pelos utilitários esportivos. Afinal, o consumidor já decidiu: ele prefere um SUV.

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