Programa Mover prevê mais que simples incentivos

Em cenário de grandes mudanças, o plano dá previsibilidade para que fabricantes invistam em suas unidades industriais

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Fernando Calmon
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Demorou, mas finalmente foi publicado no penúltimo dia de 2023 o esperado programa de incentivos que substituiu o Rota 2030, encerrado também no final do ano passado. O Mover – sigla para Mobilidade Verde e Inovação – ficou dentro do esperado. O mais importante é a previsibilidade que dá suporte essencial aos investimentos que a indústria automobilística precisa fazer. Algo essencial para sobreviver em um cenário de grandes mudanças, que vão das novas tecnologias de propulsão às emissões de baixo carbono obtidas por biocombustíveis como o etanol.

De imediato surgiram críticas de alguns economistas sobre o custo de R$ 19 bilhões para os contribuintes e a falta de “clareza e justificativa”. São sempre os mesmos, e desconhecem (ou fingem desconhecer) que, ao longo de quase 70 anos, a taxação sobre a venda de veículos leves no Brasil está em primeiro lugar no mundo e muito distante da que é praticada em quase todos os outros países. Quem compra carro já ajuda a encher os cofres governamentais há sete décadas - a se completarem em 2026.

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O imposto sobre elétricos importados vai compensar parte dos investimentos previstos pelo programa Mover
Crédito: Divulgação
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Somando-se os impostos federais e estaduais, a parte dos governos atinge 27,3% dos preços ao consumidor, contra médias de 17% na Europa, de 9% no Japão e de 7% nos EUA. Deve-se acrescentar mais 4%, em média, do anual IPVA. Em um cálculo mais apurado, basta dividir o preço com imposto pelo preço sem imposto: a carga fiscal é de 45%, contra 7,5% nos EUA, 9,9% no Japão e 20,5% na Europa.

Programas como o Mover também foram lançados por outros países. O mais recente, nos EUA, tem montante de US$ 50 bilhões (R$ 250 bilhões). Aqui, parte dos tais R$ 19 bilhões será recuperada pelo imposto de importação (I.I.) sobre elétricos e híbridos (haverá uma cota pequena de I.I. isento para todas as marcas). Isso se dará gradualmente até 2026. A tributação de 35% tornará viável a fabricação de elétricos no Brasil. Sem a volta deste ônus, como era até 2023, não passavam de bazófia os anúncios de produção local.

Alguns importadores, como Kia e Volvo, não repassarão o I.I. integral para sua lista de preços nos primeiros meses de 2024. Um dos pontos de maior destaque do Mover é a introdução do cálculo de emissões de CO² do poço (ou do campo) à roda, e não apenas do motor à roda. Um conceito de abrangência maior e justo. Em uma segunda etapa, o cálculo será feito do berço ao túmulo - ou seja, de impacto ainda mais significativo por avaliar aquele gás de efeito estufa nas operações de fabricação à reciclagem.

Outra referência positiva está no índice de nacionalização dos veículos, que volta a ser considerado nesse programa, inclusive ao autorizar importação de linhas de montagem usadas.

Bola de cristal 2024: mais 6,1%, Anfavea, ou 12%, Fenabrave?

De fato, não está muito fácil prever este ano quanto à recuperação das vendas. No entanto, a discrepância dos números não costuma ser tão clara entre as duas entidades com uma diferença de seis pontos percentuais ou, nominalmente, o dobro. A associação das concessionárias (Fenabrave) está mais otimista, pois estima um total de 2,59 milhões de unidades entre veículos leves e pesados a serem comercializadas este ano, ou 12% a mais sobre 2023. A Fenabrave, em janeiro do ano passado, tinha sido mais contida ao prever crescimento zero ao final dos 12 meses. Porém, o programa de bônus oferecido pelo Governo Federal, em junho e julho, ajudou a melhorar o resultado do ano, o que obviamente não estava nas previsões.

Nova Chevrolet Montana Fábrica
Produção nacional em 2024: previsões da Fenabrave e da Anfavea são diferentes
Crédito: Divulgação
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O crescimento de 9,7% em 2023 (2,309 milhões de unidades) foi ajudado por compras das locadoras e uma pequena melhora na oferta de crédito, segundo José Andreta Jr., presidente da Fenabrave. Em 2024, ele espera 2,585 milhões de unidades. Por seu lado, a Anfavea prevê que o mercado interno cresça, este ano, 6,1% - para 2,450 milhões de unidades. As exportações continuarão estagnadas pelo avanço simbólico de 0,7% para 407 mil veículos. A produção deverá aumentar 6,2% e chegar a 2,470 milhões de unidades. Em dezembro último, os estoques nos pátios das fábricas e concessionárias representavam 25 dias de vendas, bem abaixo de até 40 dias considerados normais. As vendas, em 2023, somaram 2,180 milhões de unidades, uma alta de 11,2% sobre 2022.

Marcio Leite, presidente da Anfavea, afirmou que torce para a confirmação das previsões da Fenabrave: "As concessionárias estão mais perto dos compradores e, assim, podem sentir melhor a pulsação do mercado”, afirmou. A entidade considera que os maiores benefícios do programa Mover serão para a sociedade, a atividade econômica e o meio ambiente.

Strada Ultra segue na onda do avanço das picapes

Depois do progresso notável dos SUVs no mercado brasileiro, as picapes não ficaram para trás. Em um mercado historicamente dominado por hatches compactos, as picapes compactas, médias e grandes subiram de 16,5% de participação nas vendas de todos os segmentos em 2022 para 18,5% em 2023. E a Strada voltou a ser, em 2023, pelo terceiro ano consecutivo, o modelo mais vendido entre todos os segmentos de veículos leves.

Se existe uma diferença marcante em relação às outras versões é justamente o motor tricilíndrico turbo de 1.0 litro, 125 cv (G)/130 cv (E) e 20,4 kgf.m. A agilidade que faltava agora se tornou um destaque com a ajuda de um câmbio automático CVT de sete marchas. Para uma massa de 1.253 quilos e capacidade de carga de 650 quilos, mostra desenvoltura e boas respostas ao acelerador. E com as pequenas alavancas para trocas de marchas atrás dos dois raios do volante (ou pela alavanca seletora, a escolher), há facilidade para reduções nas descidas de serras. A aceleração de zero a 100 km/h é convincente: 9,5 s.

Fiat Strada Ultra 2024 (1)
Fiat Strada Ultra: o colunista aprovou o desempenho da versão com motor 1.0 turbo de três cilindros
Crédito: Divulgação
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Não se pode esperar acabamento e riqueza de materiais na cabine para esse tipo de veículo. Porém, deveria ser melhor diante do preço de R$ 135.990. Faz falta a regulagem de distância do volante, e o quadro de instrumentos tem dimensões acanhadas. O espaço para pernas, ombros e cabeças no banco traseiro é adequado apenas para dois adultos com até 1,75 m de altura. Mesmo o ocupante do banco dianteiro do carona ficará com os joelhos muito próximos ao porta-luvas. Os ângulos de abertura das portas traseiras facilitam a entrada dos ocupantes.

A distância entre-eixos de 2.737 mm (a mesma de um Chevrolet Omega, um sedã grande dos anos 1990) e o vão livre do solo de 18,5 cm são adequados à proposta do produto. As molas monocorpo parabólicas com eixo rígido na traseira formam um conjunto eficaz, mas os freios a tambor atrás podem parecer algo rudimentar, embora dêem conta do serviço. Fato comprovado pelas vendas e pelo quase total domínio do segmento, à frente de VW Saveiro, Chevrolet Montana e Renault Oroch.

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