Gol mantém o trono de carro usado mais vendido

Depois de liderar entre os zero-quilômetro por 27 anos, hatch da Volks mantém a preferência entre modelos de segunda mão

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Redação WM1
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Até o fim de 2013, o Volkswagen Gol reinou por 27 anos seguidos como o automóvel zero-quilômetro mais vendido do Brasil. Em 2014, o hatch foi destronado pelo Fiat Palio e, nos dois anos seguintes, o Onix assumiu o posto, que, aparentemente , está longe de largar: nos primeiros seis meses deste ano, o modelo da Chevrolet se manteve na ponta com 83.236 unidades emplacadas, seguido por Hyundai HB20 (51.149), Ford Ka (44.650), Renault Sandero (38.867) e, na quinta posição somente, o Gol (36.209), que não soma nem a metade das vendas do atual líder no período.

Há quatro anos, parecia impensável que Ford Ka e Renault Sandero vendessem mais que o hatch da Volks, mas essa é a realidade. Porém, quando o assunto é o mercado de usados, o Gol segue absoluto, com larga margem, como o carro mais vendido do país, posto que é seu há décadas. De acordo com a Fenabrave, a fcaptionação das concessionárias, o hatch soma 469.983 unidades comercializadas no primeiro semestre deste ano, o que é um número muito expressivo, considerando a projeção de produção de 2,62 milhões de veículos novos para este ano, de acordo com a Anfavea, a associação nacional das montadoras.

O número fica ainda mais relevante ao levarmos em conta que o balanço inclui apenas os veículos vendidos em concessionárias. Questionamos especialistas para saber o porquê de o Gol seguir firme no mercado de usados, enquanto o carro zero-quilômetro já não é mais tão atraente para o consumidor.

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carlos henrique lima personagem gol carros usados
carlos henrique lima personagem gol carros usados
Crédito: carlos henrique lima personagem gol carros usados
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"Quem compra carro novo busca design, modernidade, novidade e tecnologia e hoje o Gol não é mais tão competitivo nesses quesitos como produto novo. Por outro lado, a concorrência lançou nos últimos anos modelos de automóvel que se destacam justamente nesses quesitos com preços atraentes, ganhando a preferência do consumidor e trazendo melhor custo-benefício", avalia o consultor automotivo e professor Valdner Papa (foto acima).

De fato, os dois modelos que hoje são os mais comercializados no mercado de veículos novos buscaram inspiração no antigo líder, o que dá para perceber ao passar os olhos na sua carroceria, mas investiram pesado em um design mais ousado, trazendo de quebra mais equipamentos de série, especialmente no que se refere à conectividade, sem descuidar do preço: Chevrolet Onix e Hyundai HB20, lançados quase simultaneamente no fim de 2012. Cerca de dois anos depois, já figuravam entre os mais vendidos e, a partir de 2015, assumiram a ponta e lá permanecem – naquele ano, o Chevrolet ocupou a liderança, com 125.931 emplacamentos, à frente do Fiat Palio (122.364) e do HB20 (110.936).

Especificamente no caso do Hyundai, diz a lenda que, durante o desenvolvimento do HB20, engenheiros da montadora compraram uma unidade do Gol e a levaram para "dissecá-la"na Coreia do Sul, onde seu hatch foi projetado – tamanha seria a obsessão de descobrir os motivos do sucesso do Gol. Para correr atrás do prejuízo, o hatch da VW passou por uma reestilização no ano passado que priorizou mudanças na cabine, que ficou mais bem acabada e moderna, lembrando a do Fox - além de oferecer itens como central multimídia.

PEÇAS À VONTADE

Uma explicação óbvia para as altas vendas do Gol no mercado de usados e seminovos é o próprio legado do modelo da Volkswagen, que hoje permanece como o carro de entrada da marca alemã, posicionado em preço e sofisticação abaixo inclusive do subcompacto Up. Com produção iniciada em 1980 na planta de Taubaté, no interior paulista, o Gol recentemente atingiu a marca de 8 milhões de unidades produzidas, das quais 6,6 milhões foram comercializadas no mercado nacional. É uma base instalada gigante não apenas de carros, mas de autopeças, facilmente encontradas em qualquer oficina.

"A compra de um usado é mais racional, o cliente enfatiza fatores como custo de manutenção, disponibilidade de peças e valor de revenda O Gol tem hoje, disparado, a maior frota circulante de usados no país. Isso representa menor depreciação na hora da revenda e peças em grande disponibilidade e maior volume significa menor preço ao consumidor”, avalia Papa, lembrando que o Gol deu origem a modelos como Parati (já descontinuada), Saveiro e Voyage, carros também bons de venda e que compartilham mecânica e diversos componentes com o Gol.

PARCEIRO DE TODAS AS HORAS

Marcelo Baieski personagem Gol carros usados
Crédito: Marcelo Baieski personagem Gol carros usados
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Esses atributos fizeram com que o técnico cinematogrático Marcelo Luis Baieski (foto acima), de 43 anos, optar por um Gol Power 1.0 2002, que adquiriu há seis anos do segundo dono, então já com 62 mil km rodados. Hoje, o hatch preto, apelidado carinhosamente de “Negão", já está com pouco mais de 250 mil km no hodômetro.

"No meu dia a dia, posso rodar 150 km em um mês e, no outro, 5.000 km. Ou seja, passa semanas quase sem rodar e outras em que roda sem parar. Só me deixou na estrada uma única vez, mas por culpa minha, eu abusei do 'Negão'. Nem por isso pensei em trocá-lo, é um carro extremamente confiável, forte, ágil e econômico, pois faz 14km/l com ar-condicionado ligado, na estrada. Com o tanque cheio,  tenho uma autonomia de 800 km", conta. Baieski afirma que faz manutenção preventiva no “Negão"  e que o convívio com o carro é bem tranquilo. "Não há nenhuma peça que tenha trocado que tenha sido um horror de cara ou difícil de encontrar. É uma manutenção abaixo da média de carros de sua classe. Com certeza teria outro, mas só se for zero, não troco por outro usado porque sei o que tenho na mão, diz o técnico cinematográfico, que já transportou atores famosos no seu Gol, como Camila Pitanga, Lázaro Ramos, Leandra Leal e Wagner Moura.

PERCEPÇÃO DE QUALIDADE

Para Eliel Bartels, gerente de engenharia do CTTI (Centro de Tecnologia, Treinamento e Inovação),  o Gol "vai permanecer por muito tempo ainda entre os carros usados mais vendidos, fruto das décadas de liderança", muito por conta do fácil acesso a componentes para manutenção e da mecânica simples. “Gol e outros modelos da mesma plataforma fazem a alegria dos mecânicos, especialmente quanto a itens de desgaste natural, como amortecedores, pastilhas de freio e embreagem. Outras marcas têm carros com a mesma qualidade, mas pecam no que se refere ao preço e à disponibilidade de peças. Isso, inclusive, ajuda a reforçar a percepção que o Gol é um carro mais resistente e durável que outros, embora ela seja semelhante em modelos da concorrência", analisa.

Bartels destaca que esse aspecto também contribui para que mecânicos, profissionais do ramo e até donos de Gol recomendem a amigos e parentes a compra do hatch da Volkswagen ou de seus derivados, assim mesmo, no boca a boca. “Soma-se a isso o fato de  VW ter sido durante décadas a marca dominante no mercado brasileiro, com modelos como Fusca e Brasília, também bons de venda e com manutenção barata".

carlos henrique lima personagem gol carros usados
Crédito: carlos henrique lima personagem gol carros usados
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Morador de Itanhaém, no litoral paulista, o autônomo Carlos Henrique  Nunes de Lima (foto acima), de 34 anos, é outro fã do carro que tem na garagem, um Gol vermelho. O dele foi adquirido há três anos, do primeiro dono, ano 2007, da versão City, hoje transformada em Rallie com a adição de acessórios originais e rodas de liga leve de 17 polegadas, para combinarem com a suspensão rebaixada e o som “bombado”. “Comprei o carro por R$ 17 mil e gastei uns R$ 7 mil para personalizar. É o meu primeiro carro, meu xodó, não me deixa na mão. Eu mesmo faço a manutenção básica em casa, como troca de óleo e filtros”, relata. Lima diz que a paixão pelo Gol vem de berço: o pai sempre teve Volks, como Brasília e Fusca, e hoje é dono de uma Saveiro Cross 2013 e de um Gol G5 branco. “Quero continuar no Gol ou comprar uma Parati Surf completa."

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