Muita gente sabe, mas é grande o número de pessoas que nem imagina que, por exemplo, Fiat Toro, Jeep Renegade, Compass e Commander são praticamente o "mesmo carro". Há vários casos de modelos compartilham vez ou outra motores e câmbios, mas quando se trata da plataforma, vários carros usam bases exatamente iguais a de seus "irmãos" ou "primos" em todas as suas versões. É o caso dos modelos da Stellantis que citamos aqui, fabricados em Goiana (PE), que utilizam a mesmíssima base.
Como assim, se as marcas são diferentes? Resposta está na produção em plataformas globalizadas. Essas bases foram desenvolvidas a fim de reduzir custos - afinal é mais barato ter duas ou três plataformas para fazer sete ou oito carros do que apenas uma por carro, certo?
Mas, afinal, o que é plataforma, arquitetura? De modo sucinto, dá para dizer que é a linha de produção onde o veículo é feito, desde a montagem do chassis até a instalação de motor, câmbio e demais equipamentos. Normalmente, são identificadas por siglas. Por exemplo, a "MQB" ou "MLB" da Volkswagen, a "GEM" da Chevrolet (de onde sai o Onix Plus), "V" da Nissan, "B3" da Ford e por aí vai.
Cada vez mais marcas automotivas se unem para criar veículos de mesma base. Na maioria dos casos são empresas do mesmo grupo automotivo, como é o caso de Fiat e Jeep - do Grupo Stellantis, dono da FCA, de Fiat-Chrysler Automobile, que também é responsável por uma série de marcas como Dodge, RAM, PSA Peugeut Citroën, Alfa Romeo, Opel e várias outras.
Fora outros exemplos. Renault-Nissan-Mitsubishi, Grupo Volkswagen (que tem marcas como Porsche, Lamborghini, Seat, Skoda) e GM (Chevrolet, Holden, Pontiac, Cadillac) e tantos outros.
Mas muitas vezes algumas dessas plataformas são criadas por uma união pontual, que costumamos chamar de joint-ventures. Ou seja: uma parceria não necessariamente entre marcas do mesmo grupo, mas desenvolvida para o mesmo propósito de gastar menos na produção de carros feitos sobre a mesma plataforma, mesmo que sejam concorrentes.
Quer exemplo? Volkswagen e Ford tinham até recentemente planos de produzir as próximas Amarok e Ranger, duas grandes rivais do segmento de picapes, sobre uma mesma arquitetura, montada em conjunto e de gastos compartilhados. Quase como uma segunda Autolatina, ainda que a parceria não devesse ter esse nome.
Abaixo, citamos exemplos de carros que usam a mesma plataforma e que você talvez não soubesse. Importante: apesar da mesma construção, o tamanho do carro e a quantidade de equipamentos e tecnologia utilizados podem ser absolutamente diferentes de um para o outro, o que faz com que os preços tenham grande disparidade apesar de terem a mesma base.
Acredite, há uma série de SUVs do Grupo VW que usam a mesma plataforma. Audi Q8 e Lamborghini Urus têm valores bem diferentes no Brasil (o primeiro custa cerca de R$ 1 milhão, enquanto o segundo passa dos R$ 3,5 milhões), mas são construídos sobre uma mesma base, a MLB (do alemão Modularer Längsbaukasten, que em tradução significa "Matriz Modular Longitudinal").
Dessa plataforma também saem Audi Q7, Volkswagen Touareg, Porsche Cayenne e Bentley Bentayga, entre outros modelos do Grupo Alemão.
A quadra de carros da Honda era toda feita sobre a mesma plataforma: Fit, City, WR-V e HR-V eram produzidos lado a lado na linha de montagem. Mas o City recentemente passou a ser construído sobre uma nova base, em sua terceira geração.
Note que todos são bem diferentes visualmente, mas extremamente parecidos ao mesmo tempo. Como isso é possível? A resposta é básica: aproveitamento máximo de peças, no interior (repare nos botões e em outras soluções internas) e no "esqueleto" do carro, embora motores e caixas de câmbio não sejam exatamente os mesmos.
Um dos quartetos de utilitários mais vendidos do mercado é inteiro feito sobre a mesma plataforma. E o grupo FCA, da Stellantis, nunca escondeu isso - ou você vai dizer que nunca achou os painéis destes modelos parecidos, tanto em estrutura como em compartilhamento de peças? Toro, Renegade, Compass e mais recentemente Commander são feitos sobre a mesma base em Goiana (PE), na sede nordestina do grupo.
A plataforma MQB da Volks é uma das mais famosas bases modulares do mundo. Nela, somente a distância entre o eixo dianteiro e o volante não muda. De resto, qualquer tamanho pode ser alterado, bem como vários equipamentos podem ser incrementados, o que faz dela uma das arquiteturas mais versáteis que existe.
Prova disso é a turma formada por Polo, Virtus, Nivus, T-Cross, Taos, Jetta e Tiguan - carros que têm tamanhos e entre-eixos diferentes - ser feita na mesma linha de montagem. No caso da planta brasileira, conhecida como MQB-A0, ainda estimamos que futuramente a Volks possa desenvolver a picape Tarok, futura rival da Toro.
Todas as marcas seguem essa tendência. No caso da Nissan, por exemplo, o finado March, o Versa e Kicks foram feitos lado a lado e podiam mudar de tamanho e desenho - além de compartilharem várias peças, câmbios e motores. Vale lembrar que muitos desses componentes são divididos também com modelos da Renault, a "maior" marca da aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.
Globalmente, a terceira empresa deste grupo citado ainda não tem um carro que compartilhe peças com o de modelos das duas primeiras. Mas apostamos que isso seja questão de tempo até começar a aparecer.