Mais protagonistas do que nunca, os utilitários esportivos compactos são ‘popstars’ em um momento que o mercado brasileiro de veículos novos vive forte queda nas ‘bilheterias’. Enquanto a retração nas vendas nos oito primeiros meses do ano é de acentuado 20% em relação a 2014, o setor dos ‘SUVzinhos’ apresenta leve baixa de apenas 2% no mesmo período, de acordo com dados da Fenabrave (Fcaptionação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). E os responsáveis por isso são os novos personagens deste ‘curta-metragem’: Honda HR-V, Jeep Renegade e Peugeot 2008, que se enfrentam neste comparativo…
Em busca do maior equilíbrio, o embate foi nivelado pelo preço, afinal, neste segmento a opinião do bolso ainda é levada muito em consideração. Com isso, vieram para a disputa as versões EX, Longitude e THP de Honda, Jeep e Peugeot, respectivamente. E apenas para colocar todas as cartas na mesa, HR-V e Renegade utilizam motor 1.8 flex aspirado e transmissão automática, enquanto o 2008 foge do trivial e ataca de propulsor 1.6 turbo, também bicombustível, mas com câmbio manual.
SEU BOLSO
Logo de cara, o 2008 THP leva vantagem sobre os rivais no quesito preço. Partindo de R$ 79.590, é R$ 3.310 mais em conta que o Renegade e R$ 2.810 que o HR-V.
O Honda, porém, leva vantagem com valor do seguro médio mais em conta e o preço das três primeiras revisões mais barata (veja no infográfico acima). O Jeep tem os custos mais elevados nestes dois pontos. A única diferença é que as revisões do modelo feito em Goiana (PE) ocorrem a cada 12 meses ou 12.000 km – nos outros são em 12 meses ou 10.000 km.
CUSTO-BENEFÍCIO
E não bastando ser o mais barato, o Peugeot 2008 é também o mais completo. O modelo da marca francesa vem com tudo o que é possível ter – sem opcionais. seis airbags (frontais, laterais e tipo cortina), freios ABS (antitravamento) com EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), ar-condicionado de duas zonas, controles de estabilidade (ESP) e tração, sensores de estacionamento dianteiro e traseiro, teto solar panorâmico, controlador e limitador de velocidade, direção elétrica, bancos revestidos em couro, volante multifuncional, sensores crepuscular e de chuva, central multimídia com tela de 7 polegadas sensível ao toque, navegação GPS, conexão Bluetooth, rádio MP3 player com entradas USB e auxiliar, conexão streaming para áudio, rodas de liga leve de 16 polegadas e trio elétrico, entre outros.
O Renegade vai bem também. Os airbags são apenas frontais, sensores crepuscular e de chuva são opcionais, o sensor de estacionamento é só traseiro, mas o Jeep entrega a mais, por exemplo, câmera de ré e as rodas de liga leve são de 17 polegadas. A central multimídia oferece função de navegação, porém a tela sensível ao toque é um pouco menor (5 polegadas). O Renegade, na opção Longitude, também tem ar-condicionado de duas zonas, direção elétrica, controles de estabilidade e tração, controlador de velocidade, freio eletrônico de estacionamento e bancos revestidos em couro. E o belo painel de instrumentos com tela em TFT que vemos nas fotos, também é opcional.
A decepção fica realmente para o HR-V. Na versão EX, os bancos são em tecido – couro apenas na opção topo de linha EXL, que custa R$ 8.300 a mais (R$ 90.700). Central multimídia com GPS e tela de 7 polegadas sensível ao toque também apenas na configuração mais cara – a EX vem somente sistema de áudio com visor LCD de 5 polegadas – e o ar-condicionado não é de duas zonas. A lista do Honda ainda traz direção elétrica, airbags frontais, controles de estabilidade e tração, freios ABS com EBD, rádio CD player com MP3 com entradas USB e auxiliar, trio elétrico, freio de estacionamento eletrônico, controlador de velocidade, câmera de ré e rodas de liga leve de 17 polegadas.
RODAR
Em termos de desempenho, não tem como ficar em cima do muro. O 2008 é o mais vigoroso. E a responsabilidade por isso é, em boa parte, do excelente motor 1.6 THP (Turbo High Pressure) bicombustível de até 173 cv de potência máxima (etanol). No entanto, o que faz deste bloco um ponto (muito) positivo é o excelente torque de 24,5 kgf.m já disponível a partir de 1.750 rpm. É muita intensidade, ainda mais para quem pesa somente 1.231 quilos – é o mais leves dos concorrentes.
Com dimensões mais acanhadas – é o menor do duelo, com 4,16 metros de comprimento – e ajuste de suspensão firme, o 2008 tem comportamento que mais se assemelha a uma station wagon – popular perua. Talvez seja o concorrente mais direto da Volkswagen Golf Variant, recém-lançada. Até a posição ao volante mais baixa remete mais às peruas que aos SUVs.
No entanto, seu ponto fraco é o câmbio manual. Não por conta do funcionamento, que, diga-se de passagem, é elogiável – engates precisos e curtos na medida certa -, mas sim por ser…manual! A Peugeot deveria ter uma opção de automática para ‘casar’ com este motor THP. Segundo executivos de vários fabricantes, mais de 85% dos clientes deste segmento exigem transmissão automática. E para o 2008 não haverá câmbio automático para o motor THP, como há para o esportivo RCZ, que, na minha opinião, deveria ser manual.
Um diferencial é o chamado Grip Control, que permite, por meio de um seletor no console central, escolher entre quatro tipos de tração, dependendo do piso em que se está rodando: areia, neve, barro e asfalto (normal). Ainda é possível desligar o comando, como uma quinta possibilidade. Para o perfil dos modelos avaliados, que têm mais afinidade com a cidade do que o campo, é um item interessante, mas longe de ser fundamental ou capaz de decidir uma compra. Quem quer um veículo para curtir uma estrada de terra vai, sem sombra de dúvidas, apelar para um 4x4.
Neste quesito (desempenho), o HR-V é o mais equilibrado e em melhor sintonia com o perfil de comprador de SUV compacto – não por acaso já é líder de vendas da categoria, `destronando` Ford EcoSport. Com motor 1.8 de 140 cv e 17,4 kgf.m de torque (etanol), o Honda é ‘ok’ nas acelerações e retomadas. A transmissão automática CVT (continuamente variável) deixa o modelo meio insosso. Mas levando-se em conta o quesito conforto, esta transmissão é ideal. Para a marca de origem japonesa, quem quer desempenho em um carro-família opte pelo Civic e seu motor 2.0 – pensamento que tem (muita) lógica.
O ajuste da suspensão faz a linha do Peugeot, com foco mais no firme. No entanto, no caso HR-V, que não tem como meta o prazer ao volante, mas o conforto no dia a dia, tal regulagem poderia ser um pouco mais ‘soft’, especialmente no trabalho de absorção das imperfeições do asfalto. A posição é mais elevada ao volante, atendendo às expectativas de quem compra um 'SUVzinho' agrada e conquista quem busca aquela sensação de maior segurança.
O Renegade é o mais debilitado neste quesito. Seu motor 1.8 E.TorQ EVO, retrabalhado em cima do E.TorQ do Bravo, tem bom torque de 19,1 kgf.m, mas seu vigor acaba inibido pelas gordurinhas extras – são 1.440 quilos (é o mais pesado da disputa). O câmbio automático de seis marchas é bom, deixando o Jeep extremamente agradável em uma tocada suave. Mas basta pisar mais fundo no acelerador e exigir desempenho, que o câmbio fica na mão com um motor que, sim, tem suas limitações.
O ajuste da suspensão do Renegade (independente nas quatro rodas) é um primor. Extremamente confortável na buraqueira das ruas e avenidas paulistanas, e responsável por um equilíbrio agradável da sutil inclinação da cabine nas frenagens mais bruscas e curvas acentuadas. É, sem dúvida, a melhor regulagem dos três.
ESPAÇO E CONFORTO
Se no desempenho o 2008 é inquestionável, no quesito espaço o HR-V não dá chances para os rivais. Além de ser o maior, com 4,29 metros de comprimento, o Honda é superior também na distância entre os eixos, com 2,61 metros. Chama a atenção o espaço que os ocupantes do banco traseiro têm para pernas, ombros e cabeça. De quebra, tem o maior porta-malas, também: 437 litros.
Para os passageiros, Peugeot e Jeep são muito parecidos. Nem de longe judiam dos ocupantes, mais aqueles maiorzinho, com mais de 1,80 de altura, poderão encontrar desconforto com os joelhos. Nestes dois carros, o duto central também atrapalha a acomodação das pernas de quem viaja no centro.
Em termos de porta-malas, o 2008 leva vantagem sobre o Renegade, com capacidade para bons 402 litros contra somente 260. Aliás, para um carro que tem uma proposta de ser mais estradeiro do que urbano, o Jeep oferecer um bagageiro com mesmo volume de um Fiat Uno decepciona.
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O acabamento dos três é muito bom, utilizando materiais de qualidade (sem qualquer rebarba) e peças muito bem encaixadas. O grande barato é que adotam filosofias diferentes. Enquanto o HR-V assume uma postura mais sóbria, o Renegade ataca com um visual mais robusto (intencionalmente para remeter aos jipes do passado) e o 2008 tem personalidade mais clássica, adotando mais os detalhes cromados, sugerindo algo mais refinado.
CONCLUSÃO
Confesso que a primeira imprensão era de que o Honda HR-V levaria o compara. Tinha até minha preferência. Mas quando fui ao detalhe de cada veículo, as coisas mudaram - e preferência não é quesito de comparativo. Sendo assim, por oferecer menor preço e uma lista de equipamentos de série mais completa, o Peugeot 2008 Griffe THP leva este comparativo. O modelo da marca francesa também é o mais agradável ao volante, oferecendo excelente motor 1.6 turbo bicombustível e uma dirigibilidade que remete às das station wagons. Peca, e muito, em não ter uma transmissão automática para este motor – e isso vai resultar, definitivamente, em queda de vendas para a marca.
O Honda HR-V, mesmo com uma lista de equipamentos inferior, entrega excelente espaço interno, conforto e desempenho mais condizente com o que o segmento de SUVs compactos quer: motor interessante (não precisa ser nenhum canhão) e câmbio automático.
E o Renegade fecha a lista não ser uma referência nos itens analisados. É mais caro dos três, apesar de ter uma lista de equipamentos de série (bem) melhor que a do HR-V. Peca muito no desempenho e no espaço interno (porta-malas de 260 litros não está em sintonia com a categoria).
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** Honda HR-V e Jeep Renegade utilizados nas fotos são das versões EX e Sport, respectivamente.