Investir em um esportivo ou comprar um carro para a família? Esses focos completamente antagônicos só entram em consenso por meio de uma perua. Tão desprezadas no Brasil, as station wagons aliam a praticidade de um SUV com o centro de gravidade baixo dos cupês. Seria, então, a Audi RS4 o carro definitivo?
Nesta quarta geração, o modelo - que tem etiqueta de R$ 546.990 - conseguiu ficar ainda mais agressivo e sombrio. Todos os elementos externos se conversam e a perua ainda vêm embalada com o bom gosto da nada convencional cor cinza Nardo, que enfeita esta unidade que brilha nesta avaliação.
O charme da carroceria com proporções bem divididas tem na RS4 medidas fartas, que permitem até dizer que a irmã maior, RS6 Avant, é um exagero. O protagonista deste texto tem 4,78 metros de comprimento, sendo 2,82 m de entre-eixos.
Mas os números mais interessantes estão guardados sob o capô. O motor é um nada convencional 2.9 com injeção direta e indireta de combustível que rende o torque brutal de 61,2 quilos já em 1.900 rotações.
Este V6 é menor do que o antecessor V8, que tinha 4,2 litros e era aspirado. Porém, o carro ficou mais rápido, capaz de sair da inércia rumo aos 100 km/h em 4,1 segundos. Ao dar ignição, o monstro acorda e mostra total disposição para sair da jaula com potência de 450 cavalos a 5.700 rpm.
O gerenciamento dessa brutalidade fica a cargo da transmissão automática Tiptronic de 8 marchas, que não faz a mínima questão de ser discreta. Em uma simples arrancada em um semáforo, o esportivo ganha velocidade com facilidade graças ao trabalho rápido desse câmbio, que distribui torque para as quatro rodas.
E como a station wagon tem apenas 1,40 m de altura, o centro de gravidade é baixíssimo, o que transmite muito prazer ao dirigir e máximo controle em curvas de alta velocidade. Aqui, vale ainda destaque para o sistema de suspensão, multibraço nas duas extremidades. Não é possível esquecer ainda dos quatro modos de direção.
Na cidade, na opção Comfort, a perua não cansa, apesar de ainda copiar algumas imperfeições do asfalto. Mas se a intenção é devorar o asfalto, a alternativa mais apropriada é a Dynamic, que torna a suspensão mais rígida, a direção mais direta e a transmissão mais esticada. Só assim conseguimos ouvir alguns pipocos brotando do escapamento com duas ponteiras.
Contribui ainda mais para a atmosfera esportiva o interior todo preto. A propósito, uma das experiências sensoriais mais ricas se dá ao ficar sentado uns bons minutos, com o carro desligado mesmo, só observando a riqueza de detalhes de cada elemento.
Essa tarefa não é nem um pouco cansativa, até porque os bancos tipo concha revestidos de couro perfurado são mais aprazíveis do que a mais confortável das poltronas. E olha que ainda nem foram citados os massageadores, disponíveis somente nos assentos da frente.
Destacam-se ainda o volante com base reta e circunferência menor do que o padrão, que fazem toda a diferença em nome do prazer ao dirigir. E o ambiente fica ainda mais agradável graças a uns caprichos dignos de palmas que ficam evidenciados na distribuição dos materiais de fibra de carbono, Alcântara, preto brilhante, além das luzes de LED distribuídas por painel e portas.
Outros mimos que precisam ser enfatizados é o sistema de som da marca Bang e Olufsen, além do tetão solar que fazem a alegria, especialmente, de quem viaja no banco traseiro.
Quem viaja atrás tem ao seu dispor saídas de ar-condicionado com controle de refrigeração. Mas vale notar que o modelo abriga com tranquilidade apenas dois ocupantes, uma vez que o túnel central é bem elevado devido ao sistema de tração integral.
A viagem também é repleta de tecnologias de conectividade graças ao já reconhecido e renomado painel de instrumentos. Chamado de Virtual Cockpit, ele tem tela digital de 12,3 polegadas e é completamente configurável por meio dos botões do volante multifuncional.
O layout mais rico para viagens projeta o mapa bem por quase todo o display. Já para quem quer colocar o RS 4 na pista, quem brilha é o visor direito, capaz de mostrar as aplicações da força G e também marcar o tempo de volta.
Esse cluster compartilha informações com a central multimídia, que é um pouco menor e não é sensível ao toque. Todo o gerenciamento é feito por meio desses botões no console central, sobretudo por um botão giratório.
Esse tipo de gerenciamento praticamente mina a rica experiência promovida pelos sistemas Android Auto e Apple CarPlay. Elas agregam valor justamente pela praticidade, que é minada pela falta de sensibilidade da tela. No acesso via botão é preciso cumprir com várias etapas até chegar à função que você deseja.
Outro ponto em que o Audi não brilha é relativo a sistemas de tecnologias ativas, ou seja, que interferem na dinâmica de rodagem. Embora a RS 4 seja um carro esportivo que, em tese, dispensaria algumas comodidades, estamos falando de uma carroceria que é sinônimo de versatilidade com direito a um porta-malas de 505 litros.
Alguns itens que fazem bastante diferença em viagens como o piloto automático adaptativo e o assistente de permanência em faixa são apenas itens opcionais. E olha que estamos falando de um carro de mais de meio milhão de reais. Faltam ainda alguns itens semi-autônomos relacionados à frenagem e estacionamento.
Mesmo devendo tais itens, a Audi RS 4 Avant ainda pode ser considerado um carro único no Brasil. Isso porque ele não tem concorrentes diretos. A BMW não vende a linha Touring por aqui e a Mercedes-Benz não traz o C63 AMG Estate.
E olha que essa pode ser considerada uma das categorias mais generosas da indústria. Isso porque quem compra um carro desses de maneira nenhuma monopoliza a esportividade. A RS 4 é um carro para quem é apaixonado por velocidade, mas que deseja compartilhar dessa paixão com a família.
É daqueles esportivos para o dia dia. Muitos donos de cupês precisam ter outro carro para levar a criançada, fazer compras, grandes viagens. E tudo isso pode ser realizado em apenas um automóvel se você tiver uma RS 4 Avant.
Ah, e se você tem algum amigo ou amiga que acha que o papo de “Save The Wagons” é só balela, compartilhe com essa matéria com ele e veja se ele não vai ficar de queixo caído.