Porém, algo parece não se encaixar neste exemplar de dinossauro vivo. O Suburban é o modelo com mais tempo em produção no mundo, são exatos 81 anos. A primeira geração saiu da linha de montagem em 1934, quando parte dos países ainda usava charretes para se locomover. Além disso, as vendas continuam de vento em popa nos Estados Unidos, mesmo o modelo podendo custar mais que um Chevrolet Corvette (na versão LTZ, testada, o Suburban sai por US$ 64.230 contra US$ 54.995 do superesportivo). O sucesso é tanto que a Chevrolet tem um irmão gêmeo do utilitário, que é nove centímetros menor e atende pelo nome de Tahoe.
Para entende este intrigante sucesso de um modelo que vai contra quase todas as tendências, nada melhor que rodar com o veículo. O utilitário não é apenas comprido (cabem mais de dois smart Fortwo enfileirados do lado do Suburban), mas também alto (1,95 metro) e largo (2 metros sem contar os espelhos). As rodas são de aro 20 e mesmo assim não parecem grandes o suficiente para este SUV.
Rodar com este Chevrolet no Brasil seria uma tarefa quase impossível por conta das dimensões avantajadas, mas nos Estados Unidos o modelo encontra o seu lugar com facilidade, sem incomodar os demais carros.
Por conta do tamanho, ao se abrir a porta do motorista um estribo lateral desce para recepcionar o ocupante e facilitar a tarefa de escalar para entrar no Suburban. O assento do motorista traz todo tipo de regulagem, deixando facilmente para trás qualquer poltrona do papai, item presente em quase cada casa americana. O habitáculo, que na comparação com outros carros seria uma mansão com 16 suítes, é extremamente versátil e modular. Para baixar as segunda e terceira fileiras basta apertar um botão no bagageiro. Outro botão se encarrega de fechar a porta traseira. É possível baixar apenas um dos assentos da segunda fileira ou os dois, a terceira fileira inteira ou apenas um dos lados e por aí vai. As configurações são inúmeras.
Velhos hábitos
O Suburban segue à risca um ditado muito usado nos EUA “Old habits die hard” (velhos hábitos demoram para morrer, numa tradução liberal). O freio de estacionamento, por exemplo, segue como um pedal no assoalho, ao lado do pedal de freio. Já a alavanca de câmbio permanece na coluna de direção, como é costume há algumas décadas. O mesmo ocorre com o espaço interno, dependendo da configuração há lugar para até oito pessoas, mais bagagem. Ótimo para viagens longas com a família ou para servir de viatura da CIA ou do FBI.
Na primeira esquina depois de deixar a frente do hotel o primeiro perigo. O tamanho avantajado do utilitário exige atenção ao fazer uma conversão, se o raio for muito curto a roda traseira pode pegar na guia ou mesmo o para-choque traseiro pode bater em um poste ou num hidrante da calçada, tão comuns nos EUA.
Apesar do primeiro susto, basta alguns quarteirões para entender um dos pontos altos do utilitário, sua suavidade ao rodar. O grandalhão avança por milhas macio, seu V8 trabalha em regime de monastério, sem incomodar quem vai a bordo. Já a suspensão na versão LTZ traz o pacote Magnetic Ride Control, capaz de deixar o conjunto mais rígido ou mais suave de acordo com a necessidade. Além de reduzir a rolagem da carroceria e deixar a direção mais precisa, o sistema trata de absorver qualquer irregularidade da estrada, por mais esburacada ou com lombadas que ela possa ser.
Sem dúvida Suburban e Tahoe foram feitos para tornar qualquer viagem uma experiência mais relaxante. Na versão topo de linha há um conjunto de dez alto falantes da marca Bose, além disso é possível carregar o celular com uma base wireless (sem fio), para os ocupantes das fileiras traseiras há monitores de TV e vídeo. A nova geração do Suburban sai com sistem 4G LTE Wi-fi, capaz de conectar de forma simultânea mais de sete aparelhos a internet.
No console central, uma central multimídia com tela sensível ao toque de 9 polegadas traz todas as principais informações do veículo. É possível conferir se o motor está utilizando quatro ou oito cilindros para economizar combustível até conferir os comandos do aparelho Blu-ray.
O V8 de 5,3 litros não é nenhum maratonista quando o assunto é cavalos de potência, mas os seus 355 cv fazem o grandalhão acelerar com dignidade, mesmo que isso possa significar a perda de alguns litros de gasolina em uma arrancada com o pé embaixo. O câmbio de apenas seis marchas poderia ser mais discreto. Está abaixo da concorrência que já utiliza até nove marchas.
Como bons representantes da escola americana, Suburban e Tahoe fazem de tudo para deixar sua estadia dentro do utilitário o mais confortável possível, mesmo que cobre um preço por isso.
Estes Chevrolet (Suburban e Tahoe), que tem preço de Range Rover Vogue, não são os campeões do off-road (apesar de se defender bem em diferentes tipos de pisos), não são os mais tecnológicos (mesmo com todo este preço não trazem piloto automático adaptativo, por exemplo) e não ligam tanto para questões como consumo de combustível (em nosso trajeto quase todo urbano de pouco mais de 100 km a média ficou entre 4,5 km/h e 5 km/l) e potência, mas são excelentes quando o assunto é cuidar bem dos seus ocupantes. Talvez esta seja a chave para 81 anos de sucesso.
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