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Como um bom chinês, JAC J6 entrega quantidade mas peca na qualidade

Minivan chinesa é uma das poucas opções de sete lugares por menos de R$ 70 mil

por Karina Simões

Antes do boom dos SUVs, as minivans tinham muito mais participação no mercado. Veículos espaçosos e com a terceira fileira de bancos são, sem dúvida, uma solução para o dia-a-dia de famílias grandes. Em um passado não tão distante, a Chevrolet se beneficiou deste nicho com a Zafira e a Meriva. Quem lembra? Depois deles, os SUVs foram ganhando espaço e as minivans ficando na berlinda. Hoje, se você procura uma opção se sete lugares e tem menos de R$ 100 mil para gastar, as escolhas são escassas. Uma delas pode ser o JAC J6, nosso avaliado da vez, a outra é o Chevrolet Spin, depois vem a... Bom, acabou a lista. No mês passado, a Nissan produzia a Grand Livina, que foi aposentada, deixando apenas dois veículos no páreo na faixa de R$ 60 a R$ 70 mil.

O J6 custa R$ 68.990 e é chinês, identidade que ainda justifica alguns dos pontos que nos desagradaram (detalharemos mais à frente) e também seu perfil “completão” (a parte boa). Sob o capô um motor Flex 2.0 que gera 160 cv de potência aos seis mil giros no etanol e 155 cv na gasolina na mesma faixa de rotação. O torque também é bom, 20,6 kgf.m que são entregues em sua totalidade aos 4.000 rpm. Os números fazem dele o mais potente do segmento, mas enquanto o título impressiona, o desempenho decepciona.  

Dizem que o tombo fica maior conforme a expectativa aumenta e acredito ter passado por isso com o J6, afinal, 160 cv fazem crescer os olhos do consumidor. O alto peso da minivan é um fator que devemos considerar, já que ele não auxilia na desenvoltura do conjunto mecânico. São 1.500 kg com o tanque cheio -  249 kg a mais que a rival Spin. Na estrada, depois que o motor ultrapassa as 3.500 rotações, o J6 deslancha. Retomadas, todavia, não são seu forte. Em nosso teste urbano, sentimos falta de mais vigor até para realizar manobras em terrenos acidentados na cidade.

No mais, os freios a disco nas quatro rodas mostraram bom desempenho e o acerto da suspensão também agradou na condução urbana, onde o conjunto filtrou bem a “buraqueira” das ruas da cidade e o carro mostrou-se uma opção confortável para levar a família. Já na estrada, a rolagem da carroceria nas curvas acentuadas me fez tirar o pé, melhor não abusar.  

O câmbio é manual de cinco marchas e traz “de série” aquele ruído característico nos engates, que a boa parte dos carros chineses vendidos por aqui “oferecem”.  Segundo a montadora, a minivan vai do 0 aos 100 km/h em 13,1 segundos e ela atinge a velocidade máxima de 183 km/h.

Por dentro do J6

O J6 sai de fábrica com uma boa lista de equipamentos e o interior impressiona quem entra no veículo pela primeira vez. Há ar-condicionado, direção hidráulica, faróis com regulagem elétrica de altura, sensor de estacionamento traseiro, retrovisor elétrico com repetidor de seta, faróis de neblina, entre outros itens. O sistema de som tem MP3 e USB, mas não conta com Bluetooth.

Os bancos são forrados de veludo e um conforto extra é o volante com comandos do rádio. Ele também possui ajuste de altura, mas regulagem da profundidade não tem.

O painel tem certo estilo, com iluminação azulada, conta-giros e velocímetro analógicos e marcador de combustível e termômetro de água do motor digitais. Há ajuste da intensidade da luz do painel, mas o problema é que a iluminação máxima não é suficiente para que possamos enxergar as informações. Ou seja, ele falha na principal função, que é informar o condutor.  Não conseguir determinar em qual velocidade eu estava por diversas vezes durante o teste foi o ponto que mais me incomodou no JAC J6, ainda mais em tempos de redução de velocidade nas marginais, em São Paulo.  

Entre os equipamentos de segurança, o J6 traz airbag duplo, freios ABS com EBD e até travamento automático das portas quando o carro atinge 15 km/h. Opcionais não são oferecidos para o J6, exceto a pintura metálica, que adiciona R$ 1.190 ao valor do carro e o faz ultrapassar os R$ 70 mil.

Cabe tudo?

A principal característica do J6 é o espaço e a terceira fileira de bancos, seu diferencial. Com todos os bancos em uso, o espaço do porta-malas fica reduzido a 198 litros, configurado para cinco passageiros o J6 tem capacidade para 720 litros, e com todos os bancos rebatidos, a capacidade sobe para 2.200 litros.

O "monta e desmonta" dos bancos é fácil, mas não é dos mais práticos. Para a segunda fileira, você rebate o encosto e levanta o banco sem esforço por uma espécie de maçaneta em sua base, assim os ocupantes tem acesso a parte traseira também. O assento nesta fileira é tripartido e, caso você queira um apoia braços com porta-copos, basta rebater o encosto do banco do meio. Já a terceira fileira, ao ser rebatida, não fica escondida sob o assoalho, como em alguns modelos mais caros e, além disso, ficam presas nos bancos da frente por uma corda. Caso os bancos estejam atrapalhando, você pode retirá-los e deixá-los guardados, por exemplo. Ali, há espaço para duas pessoas, na verdade, duas crianças se acomodam melhor. No mais, o restante dos ocupantes viaja com conforto, com espaço razoável para as pernas.

Não está fácil pra ninguém

Os produtos da JAC já mudaram bastante desde que a montadora desembarcou por aqui, em 2010. Sempre com o objetivo de melhorar os pontos negativos, colocar mais tempeiro brasileiro neste “prato” chinês e conquistar mais clientes. Prova disso são os SUVs T6 e T5 – esse último deve ser o próximo lançamento da marca por aqui – e o hatch T3, atração da marca no último Salão de Xangai que foi desenvolvido especialmente para o mercado brasileiro.

Em suma, apesar dos “escorregões”, a minivan J6 é uma opção para quem quer um modelo mais equipado e que caiba a família toda. A JAC oferece seis anos de garantia e plano de assistência 24 horas, mas mesmo com o incentivo, o consumidor não parece convencido.

Nas vendas, o J6 é praticamente engolido pelo rival Spin, da Chevrolet, com 18.134 emplacamentos de janeiro à agosto deste ano, segundo dados da Fenabrave, enquanto nosso avaliado chinês teve apenas 228 unidades emplacadas no mesmo período. Convenhamos que a chinesa não tem volume para brigar com o Spin, ainda mais porque a fábrica que a marca iria construir em Camaçari, na Bahia, está estacionada. Outro desafio para as marcas de fora é lidar com as variações cambiais. Com a alta do dólar, a JAC não consegue segurar sua tabela de preços e é obrigada a distanciar o J6 cada vez mais de seu rival da Chevrolet - cuja versão de sete lugares parte de R$ 64.550. 


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