- Já se vão quase dez anos de testes e pode-se dizer que poucos carros, em todo este tempo, chamaram na rua tanto a atenção quanto o Punto. Com faróis no estilo dos do Maserati Coupé e uma dianteira proeminente, fruto do engenho de Giorgetto Giugiaro, qualquer versão do novo compacto premium da Fiat desfruta de uma aura esportiva. Como é natural imaginar, a que melhor poderia defender essa imagem seria a Sporting. Por R$ 51,9 mil, ela oferece um excelente pacote de itens de série, mas deixa a esportividade em segundo plano.
A culpa nem é de sua aparência, condizente com o nome. Até as cores básicas desta versão, Vermelho Modena e Amarelo Indianápolis, remetem a alto desempenho. Completam o conjunto faróis com máscara negra, rodas esportivas de liga-leve aro 16” belíssimas, diga-se de passagem, saias laterais, ronco de escape grave, bancos em tear esportivo, pedaleiras e apoio de pé em alumínio, cintos e detalhes internos de acabamento em vermelho e até o emblema estilizado do carro, um “P” que lembra um motorista acelerando. Tudo isso denota uma fúria e uma disposição que podem frustrar quem cobrar coerência entre a imagem e a essência.
A razão é o motor 1,8-litro, ainda proveniente da aliança frustrada entre a Fiat e a GM. Torcudo, ele exibe força em baixas rotações e se comporta muito bem no trânsito urbano, mas não gosta de girar, algo que vai contra a tradição dos automóveis italianos.
Até que a Fiat tentou compensar esse aspecto, mas não conseguiu. O diferencial da versão Sporting é mais curto do que o da versão HLX, também equipada com motor 1,8-litro 3,867 contra 3,733, o que só representa um ganho para quem já andou com a versão HLX e pode notar alguma mudança de comportamento em relação a ela. De modo absoluto, andar com o Punto Sporting dá a sensação de que falta pegada ao carro.
Quando é chamado a reagir, o motor responde preguiçosamente, de modo lento e calculado, como se fosse um boi. Não há nada de mal na calma dos bovinos, associada que é a resistência e força, mas quem gosta de carros esportivos prefere cavalos, e os 115 cv do motor GM não agem com a velocidade que se espera deles.
O Punto, neste ponto, acabou frustrando expectativas. A principal, especialmente em se tratando de uma versão “nervosa”, era pelo motor 1,9-litro de 130 cv que a Fiat criou para substituir o 1,8-litro. Possivelmente o desenvolvimento do novo “mottore” levou mais tempo do que se previa e sua apresentação teve de ser adiada para o Linea, versão sedã do compacto premium e futuro substituto do Marea.
Seja qual for a explicação para o atraso, o motor 1,8-litro deve ter vida curta no Punto. O modelo 2009 do carro já deve vir equipado com o propulsor mais forte e mais disposto. Por “deve” entenda tanto probabilidade quanto recomendação. Será uma pena a versão Sporting de um carro de aparência tão agressiva quanto o Punto continuar acelerando como um automóvel americano.
Além de o motor não ter veia esportiva, a suspensão do Punto também pode causar um certo estranhamento. Ela é muito mais firme do que a de outros modelos da Fiat, como o Palio, mas ainda se nota nela mais preocupação com conforto do que com comportamento dinâmico.
Outra expectativa que o Punto frustrou foi sobre a chegada do câmbio manual automatizado. Não veio. Também deve ficar para o Linea, sendo posteriormente oferecido no restante da linha Fiat, a depender de sua receptividade.
Como vantagens, ele oferece conforto igual ao de uma caixa automática com o valor de manutenção de uma manual. Como desvantagem, as trocas podem ser consideradas lentas e o processo de trocas, que utiliza embreagem, dá a sensação de que o carro está solto, com demora na resposta. Resta aguardar a chegada do equipamento para ver se isso foi sanado.
Boa oferta de equipamentos
Quem desconsiderar no Punto Sporting a promessa de uma esportividade que não se cumpre encontrará nele um bom companheiro, tanto de viagens quanto no dia-a-dia. Por ter bastante torque em baixas rotações, o hatch responde bem em saídas de semáforo e outras situações corriqueiras de trânsito em grandes cidades.
Seu espaço interno é muito bom para o segmento, com um entreeixos de 2,51 m, o que garante pernas folgadas tanto para quem vai na frente quanto para passageiros do banco de trás.
Para o motorista, todos os ajustes recomendáveis estão disponíveis: regulagem de altura do banco e de altura e profundidade do volante. Ergonomicamente, todos os comandos estão onde deveriam estar. O único porém fica para a tampa do porta-malas, que só pode ser aberta externamente por chave, mesmo que o carro esteja destravado. Para compensar a falha, a chave deveria trazer um comando eletrônico de abertura. No modelo 2008, ele não existe.
O principal atrativo do Punto Sporting, surpreendentemente, não é desempenho, mas a oferta de itens de série. Pelos R$ 51,9 mil que a Fiat cobra dele, o carro vem com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros, travas e retrovisores elétricos, vidros laterais laminados, airbags duplos, ABS, toca-CD com MP3 e comandos no volante, rodas de liga leve aro 16”, computador de bordo, comando interno de abertura do porta-malas e do tanque de combustível, travamento automático das portas, volante com regulagem em altura e profundidade, banco do motorista com regulagem de altura e sistema Bluetooth de viva-voz.
Os únicos concorrentes com os quais convém comparar o Punto, por uma questão de atualidade e justiça, são o VW Polo e o Citroën C3.
O primeiro, em sua versão topo de linha, a Sportline, custa R$ 47.585, mas não traz retrovisores externos elétricos, ABS nem airbags de série. As rodas também são de liga-leve, mas de aro 15”. O Polo ainda tem interior mais acanhado, com 2,47 m de entreeixos e porta-malas 10 l menor que o do Fiat. Sporting por Sportline, melhor é optar pelo mais potente. O VW tem motor 1,6-litro de 103 cv com álcool e 101 cv com gasolina. O Punto tem, respectivamente, 115 cv e 113 cv.
No caso do C3, a versão mais cara, a C3 Exclusive, começa nos R$ 49.705. Apesar de ter porta-malas mais generoso que o do VW e o do Fiat, com 305 l, o francês tem entreeixos menor, de 2,46 m, e nenhuma pretensão esportiva, o que, cá para nós, fica melhor do que prometer e não cumprir. Com nível de equipamentos melhor que o do Punto e preço mais baixo, ele é uma pedida mais interessante sob o ponto de vista de custo e benefício. Sua única desvantagem é a idade maior de seu projeto, com possibilidades de mudança em prazo mais curto que as que o Punto pode enfrentar.
Com todos os opcionais, o Sporting chega a R$ 67.102. Eles incluem, entre outros, o Kit Blue&Me R$ 500, o sensor de estacionamento R$ 992 e o mais caro de todos, o Skydome R$ 5.278. A não ser que você queira ter o carro mais completo que o dinheiro pode comprar, e não ligue para investir quase R$ 16 mil sem nem a perspectiva de recuperá-los, evite os acessórios.
O único para o qual vale abrir exceção é o Blue&Me, que permite a manipulação de músicas e do telefone celular por comando de voz. Todo o restante, na hora de vender o carro, só o ajudará a vendê-lo mais rápido, não influindo muito em sua valorização.
FICHA TÉCNICA – Fiat Punto Sporting
| MOTOR | Quatro tempos, quatro cilindros em linha, transversal, quatro válvulas por cilindro, refrigeração a água, 1.796 cm³ | ||||||||
| POTÊNCIA | 115 cv com álcool e 113 cv com gasolina a 5.500 rpm | ||||||||
| TORQUE | 18,5 kgm com álcool e 18 kgm com gasolina a 2.800 rpm | ||||||||
| CÂMBIO | Manual de cinco velocidades | ||||||||
| TRAÇÃO | Dianteira | ||||||||
| DIREÇÃO | Hidráulica, por pinhão e cremalheira | ||||||||
| RODAS | Dianteiras e traseiras em aro 16”, em liga-leve | ||||||||
| PNEUS | Dianteiros e traseiros 195/55 R16 | ||||||||
| COMPRIMENTO | 4,03 m | ||||||||
| ALTURA | 1,51 m | ||||||||
| LARGURA | 1,69 m | ||||||||
| ENTREEIXOS | 2,51 m | ||||||||
| PORTA-MALAS | 280 l | ||||||||
| PESO em ordem de marcha | 1.170 kg| TANQUE | 48 l | SUSPENSÃO | Dianteira independente, tipo McPherson; traseira com barra de torção | FREIOS | Discos ventilados na dianteira e tambores na traseira, com ABS | PREÇO | R$ 51,9 mil | |



Email enviado com sucesso!