Honda Accord Hybrid: o carro definitivo

O que você faria se ganhasse na loteria? Eu montaria uma bela coleção de carros. Mas nada daquela história de manter as máquinas em cavaletes. Faria questão de dirigir todos com uma certa regularidade. Mesmo assim, seria necessário ter algo mais prático para os deslocamentos diários. E o Honda Accord Advanced Hybrid seria um belo candidato a essa vaga.

Depois de rodar alguns bons quilômetros com o Accord Hybrid no lançamento, chegou a hora de testar o sedã grande da Honda por um período mais longo. Uma semana de uso cotidiano e cerca de 500 quilômetros rodados depois, chegou o momento de falar aqui o que eu achei dessa máquina.

O Honda Accord Hybrid

Por fora e por dentro

Nem vou me alongar muito falando sobre o visual do Accord de 11ª geração. Médio para o padrão da sua terra natal (ele é produzido em Marysville, no estado americano de Ohio), é um modelo de grande porte para o nosso mercado. Mas consegue ser um carro bem discreto no trânsito. Os olhares mais interessados vieram dos donos do Civic de 10ª geração e de outros "Hondeiros".

Mesmo para os padrões urbanos brasileiros, os 4,97 m de comprimento e os 1,86 m de largura do Accord Hybrid deixam o sedã no limite da usabilidade. Ou seja: o Honda consegue oferecer uma cabine bem ampla, mas sem se tornar um estorvo no trânsito ou ao procurar vagas no shopping ou supermercados.

Aliás, o espaço interno é o primeiro dos pontos fortes do carro. O banco traseiro oferece uma bela área para as pernas e dá para levar três adultos tranquilamente. No meu teste, sobrou espaço para a Juliana, minha esposa, e para o meu filho João, de um ano e 10 meses (que curtiu o carro é aprendeu a chamá-lo de "Atoidi").

Já o porta-malas, de 574 litros, realmente leva de tudo e ainda sobra bastante espaço. Aliás, por esse motivo eu defendo que são os sedãs, e não os SUVs, a escolha ideal para as famílias que precisam levar muita coisa.

Equipamentos

O Accord Hybrid tem uma lista bem completa de equipamentos de série. Entre os itens de conforto, estão incluídos painel digital configurável de 10,2 polegadas, ar-condicionado de duas zonas, central multimídia com espelhamento sem fio, bancos de couro com ajustes elétricos, carregador de celular por indução, cancelamento ativo de ruídos, sistema de som Bose com 12 alto-falantes, teto solar, chave presencial, faróis com acendimento automático e sensor de chuva.

No pacote tecnológico e de segurança, estão presentes head-up display, assistente de manutenção em faixa, controlador adaptativo de velocidade de cruzeiro, oito airbags, frenagem autônomo, faróis e lanternas de LED, monitor de ponto cego por câmera e sensores de estacionamento dianteiros e traseiros.

Mecânica

Recebi o carro com o tanque de 49 litros cheio de gasolina e um marcador de autonomia no painel que indicava mais de 800 quilômetros. Mesmo com a minha experiência prévia ao volante do Accord Hybrid, não botava fé que o sedã da Honda atingiria essa marca.

Talvez chegasse perto, mas 800 quilômetros em um híbrido autocarregável parecia algo fora do real. Mas rodei e rodei, e nada do tanque de gasolina começar a baixar.

É que este Accord é um híbrido que, na prática, funciona a maior parte do tempo como um um automóvel plugado. São três motores: 2.0 a gasolina, com 146 cv de potência e 19,2 kgf.m de torque, e dois propulsores elétricos, um que funciona como gerador e outro motriz (184 cv e 34,1 kgf.m).

No uso urbano e rodando de pé leve no acelerador, é o motor elétrico que move o carro na maior parte do tempo. A eletrônica faz esse gerenciamento automático dos propulsores, mas é só apertar o botão "E" no console central que dá para transformar o Accord em um automóvel 100% elétrico por alguns quilômetros.

O propulsor a gasolina entra em ação apenas em duas situações: no Modo Híbrido (atuando junto com o gerador para fornecer eletricidade para a bateria do motor de tração) e no Modo a Combustão (em estrada e velocidade constante, quando é o bloco 2.0 que se torna o único responsável por mover o automóvel).

Ao volante

Traduzindo esses detalhes técnicos em números, consegui registrar média de 25 km/l no uso urbano. Já na estrada, com mais uso do motor a gasolina, essa média caiu para cerca de 17 km/l. Isso mesmo sem me preocupar tanto com consumo, já que o Accord é um daqueles carros que empolgam na hora de guiar e é difícil dirigir de maneira eficiente 100% do tempo.

Com uma posição de dirigir baixa e com os comandos próximos das mãos, o Accord não cansa mesmo em jornadas rodoviárias mais longas. O desempenho não é explosivo como o de um modelo esportivo. Mas garanto que o modelo tem motor de sobra para alegrar quem ocasionalmente gosta de pisar forte. Uma pena que a Honda não divulga os números de performance.

Se já havia agradado bastante nas minhas primeiras impressões, o isolamento acústico da cabine realmente ajuda a deixar o Accord ainda mais cômodo no longo prazo. O sistema ativo de cancelamento de ruídos é muito eficiente para reduzir principalmente o barulho causado pelos pneus em rodagem.

Ao todo, rodei cerca de 500 quilômetros com o Accord Hybrid, com média de consumo de 21,2 km/l. E o contador de autonomia ainda mostrava mais de 300 quilômetros com o combustível restante no tanque...

Conclusão

O Honda Accord Hybrid é um carro de várias qualidades. Oferece uma cabine espaçosa sem ser exageradamente grande por fora e exibe bom desempenho e muito conforto na rodagem. Para completar, cobra pouco por quilômetro rodado.

O problema é o preço: R$ 324.900. Valor abaixo do pedido por modelos equivalentes de marcas premium, como o plug-in BMW 330e (R$ 409.950). Porém acima de carros como o elétrico BYD Seal (R$ 296.800), que é um pouco menor, mas tem 531 cv e desempenho empolgante.

Ficou bem claro que esse sedã grande da Honda entrega cada centavo pago na forma de satisfação por quilômetro rodado. Mas vai ter muita gente pensando duas vezes antes de escolher o Accord.