Lançado em 2018, o CR-V peca em alguns itens, como tecnologia. Mas o SUV equilibra a balança com itens de segurança, modularidade e dirigibilidade.
A maioria dos vinhos envelhecem bem, precisam de tempo para chegar ao seu melhor. Com carros, isso também acontece. O desenho, por exemplo, pode estranhar num primeiro momento, mas depois vira até tendência. Motores turbo já foram odiados no passado e hoje são a grande estrela do mercado. Assim como os motores flex ou os câmbios do tipo CVT.
Por isso, vale sempre buscar uma segunda opinião, deixar o carro maturar, para se ter um veredito mais real. Fizemos isso com o Honda CR-V. Em maio de 2018, o nosso jornalista Lukas Kenji avaliou o então recém lançado utilitário e atestou a ele uma das maiores notas do nosso quadro de testes: ótimos 9.1.
O bom nível de itens de segurança, o espaço interno e a dinâmica do modelo foram os pontos altos, já os poucos itens relacionados à tecnologia, ao preço e ao seguro alto foram alvos de críticas.
Em janeiro de 2020 tivemos um segundo contato com o SUV. Em pouco mais de duas semanas rodamos aproximadamente 700 quilômetros com o CR-V topo gama da Honda no Brasil. Tempo e quilometragem mais do que suficientes para uma boa degustação.
Assim como uma boa garrafa, um carro começa a ser analisado pelo preço. Em seu lançamento, a Honda pediu R$ 179.900 por um exemplar da safra 2018. Agora, em 2020, a etiqueta do rótulo da versão única trazida para cá subiu para R$ 194.900.
Porém, ao contrário do que aconteceu nos EUA, o aumento da “rolha” não veio acompanhado de mais equipamentos ou mudanças estéticas.
Explico: no fim do ano passado a Honda promoveu atualizações estéticas no CR-V vendido aos americanos. Os para-choques são novos, assim como a grade dianteira, o desenho de rodas e as saídas de escapamento. O interior também passou por atualizações, como a possibilidade de recarregar o celular por indução.
Além disso, o SUV recebeu versões híbridas (com direito a botões no lugar da manopla de câmbio), um pacote de recursos semiautônomos, como piloto automático adaptativo e frenagem de segurança autônoma. Chamado de Honda Sensing, o sistema está disponível para todas as versões comercializadas na América do Norte.
É de se esperar que o Honda CR-V vendido por aqui receba estas mesmas alterações em algum momento ao longo deste ano, já que a versão única oferecida aos brasileiros é trazida dos EUA. Por enquanto, com o dólar nas alturas e a pandemia de coronavírus, é difícil precisar uma data.
Porém, se o rótulo da embalagem ficou mais salgado, o mesmo não dá para dizer do conteúdo em si. E neste quesito o CR-V acerta na harmonização. Os veículos da marca japonesa seguem uma mesma receita de sucesso. Formas externas reduzidas e interior digno de garrafas magnum (aquelas, gigantes).
Com o CR-V não é diferente. O utilitário tem apenas 4,58 metros de comprimento, bem menos que os 4,70 m do Volkswagen Tiguan, por exemplo.
Mesmo assim, acomoda com muito conforto cinco adultos (em parte graças ao fato de o assoalho traseiro ser praticamente plano), além de acomodar 522 litros de bagagem no porta-malas. Bem mais do que os 468 litros de outro rival, o Chevrolet Equinox.
Além disso, a modularidade interna também merece destaque. Com o banco traseiro rebatido o volume de carga sobe para ótimos 1.084 litros de capacidade e cria um espaço plano, capaz de levar facilmente uma bicicleta ou até mesmo um fogão.
O melhor é que a tampa do porta-malas pode ser aberta ou fechada por um botão ou por sensor de movimento dos pés.
Durante a nossa “degustação” foram três viagens. A mais longa com cerca de três horas de percurso, que mais pareceram três quilômetros e 10 minutos, tamanho o conforto.
Em parte, pela poltrona dedicada ao motorista, que traz nada menos que oito ajustes elétricos, além de apoio lombar. O banco do passageiro tem ainda ajuste de quatro posições. Outro item que facilitou o conforto é o head-up display, que projeta as principais informações no para-brisa do utilitário.
Um equipamento que fez falta foi o piloto automático adaptativo, que regula a velocidade e a distância para o carro da frente automaticamente. Além desse item já estar disponível em vários concorrentes, ele é um pacote de série no próprio CR-V que é vendido fora do país. Ou seja, não faz sentido o nosso não ter.
Estranhamente o SUV da Honda não traz outro item comum entre os rivais. Não há o sensor de ponto cego tradicional. A marca optou por instalar uma câmera abaixo do retrovisor direito que projeta imagens da lateral na tela da central multimídia do carro.
Para manter a nossa analogia com os vinhos, lembra aquele abridor todo modernoso, cheio de etapas e técnicas para ser usado. Mas que, na prática, faz o mesmo que o simples abridor de rosca.
Um ótimo companheiro de viagem é a opção de poder parear a central multimídia com as tecnologias Android Auto e Apple CarPlay. É possível manter o Waze indicando o caminho e o Spotify embalando os ouvidos.
O som, por sinal merece destaque. Além disso o CR-V oferece um sistema de cancelamento ativo de ruídos (Active Noise Control), que reduz muito o barulho externo. Tudo para manter a tranquilidade interna.
Lembra a questão de tecnologia trazida pelo Kenji na sua avaliação em 2018? Pois então, ela permanece. A central multimídia de sete polegadas mantém um visual simplista e lembra modelos mais antigos.
Mesmo a tela de TFT no meio do cluster do motorista traz poucas informações e apresenta um grafismo simples. Muito atrás do quadro de instrumentos digital com 12,3 polegadas do VW Tiguan R-Design (R$ 197.650).
O motor 1.5 turbo com injeção direta entrega muito menos que os 262 cv do motor de Camaro do Equinox topo de linha ou os 6,8 segundos de aceleração no 0 a 100 km/h do Tiguan. Mas os seus 190cv de potência máxima tiram de letra uma tocada mais zen.
Afinal, este é o espírito do CR-V: um carro para família, com muito conforto e segurança. O câmbio, para ajudar essa tarefa, é do tipo CVT, que simula sete velocidades. A tração nas quatro rodas está mais para ajudar na boa estabilidade do SUV de 1.607 quilos do que para enfrentar atoleiros.
Ponto para a economia de combustível. Média de 10,4 km/l, na cidade e 11,9 km/l, na estrada, segundo o Inmetro. Ao longo do nosso teste, o SUV marcou médias ainda melhores, próximas de 14 km/l, na rodovia.
Já os sistemas eletrônicos de estabilidade, tração, de distribuição eletrônica de freios se encarregam de manter o utilitário sempre equilibrado e sem sustos. Mesmo nas frenagens mais fortes ou nas curvas mais apertadas.
Não é a toa que, mesmo depois de tantos quilômetros e várias viagens, a sensação foi de estar relaxado e pronto para mais algumas rodadas.
A proposta do CR-V é ser como aquele vinho persistente, que apresenta diversos sabores na boca e que deve ser degustado com calma e paciência. Não vai conquistar no primeiro gole, mas pode ser apreciado por vários anos.
Está longe de ser um utilitário da moda. Não traz os equipamentos mais de ponta do mercado, está distante de estabelecer tendência e cobra muito pelo que entrega em equipamentos.
Mas é justo com a sua proposta de carro seguro, bem construído, confortável, com ótimo espaço interno e versatilidade. Definitivamente não é para todos os paladares (e carteiras).
Nesse sentido, há variações no mercado com melhor custo-benefício. Nada que o CR-V não possa fazer frente caso as atualizações de rótulo vistas lá fora cheguem rapidamente ao Brasil. Aí sim, a nota dada em 2018 poderá ser repetida.
HONDA - CRV - 2019 |
1.5 16V VTC TURBO GASOLINA TOURING AWD CVT |
R$ 194900 |
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