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Jaguar XE S: dia de maldade

Aceleramos a versão bandidona do modelo mais vendido da marca

por Karina Simões

A vida de um jornalista automotivo é cheia de surpresas, a gente nunca sabe exatamente onde vai estar naquela semana ou mesmo como vai voltar pra casa -se é de transporte público, carro popular ou um superesportivo que beira a casa do milhão. Às vezes a gente se dá bem, às vezes a gente se dá mal. Neste dia, me dei muito bem.


- Ká, chegou um Jaguar XE, você faz o teste?, disse o repórter Marcelo Monegato, meu parceiro de redação. Topei, claro, e antes que eu começasse a construir na minha cabeça a imagem daquele sedã de luxo sofisticado e conservador, ele me interrompeu e disse: - Esse é o S, bandidão, viu?!



Claro que eu não consegui esperar a hora de ir embora para pegar o carro. Já no almoço fui examinar o brinquedo no estacionamento e dei de cara com esta receita: pintura vermelha perolizada Italian Racing Red impecável, rodas pretas aro 19 'calçadas' com pneus esportivos Dunlop Sport Maxx RT, suspensão tipo duplo A na dianteira e multibraços atrás, carroceria em alumínio, bodykit esportivo, pinças de freio vermelhas. Sob o capô, um 3.0 V6 sobrealimentado que gera 340 cv e, pra fechar, tração nas rodas traseiras. 


Enquanto eu olhava o carro, o bombeiro que fazia a segurança do andar observava em silêncio, mas não se conteve e fez seguinte comentário: “Hoje é dia de maldade, hein dona?”. Sim, e minha semana na companhia daquele sedã esportivo estaria prestes a começar. 


Esqueça seu lado bonzinho


Só de olhar dá pra sacar que este sedã esportivo inglês não é bem quisto entre seus rivais alemães. Ele é o modelo mais vendido da Jaguar desde que chegou no Brasil, ano passado. Sobre o design da versão S, vou deixar as imagens falarem por mim.



O XE foi o primeiro carro da Jaguar a utilizar a plataforma de alumínio, mesma do SUV Jaguar F-Pace – que testamos em Montenegro. Só pra constar, nós não sentimos nenhuma falta daquela base antiga dos tempos de Ford, ok? A carroceria leva 75% de alumínio em sua composição, o que a torna levíssima. De alumínio também é o bloco e o cabeçote do motor, os subchassis, mangas de eixo e peças da suspensão. Assim, ele pesa apenas 1.665 kg na balança, o que garante a agilidade inerente a um felino. 


Quando acabou meu expediente, voltei ao estacionamento para acordar a fera, mas foi seu ronco rouco e visceral que me acordou. Moro a apenas 5 km do meu trabalho, mas naquela noite não rodei menos que 50 km até chegar em casa.      


 


Aqui é maldade pura 


Sob o capô um 3.0 V6 sobrealimentado, o mesmo que equipa o F-Type. São 340 cv a 6.500 rpm e 45,8 kgf.m de torque a 4.500 rpm com velocidade máxima limitada eletronicamente em 250 km/h.


Graças ao fôlego de seu compressor volumétrico e à agilidade da caixa ZF de oito velocidades, é revigorante pra qualquer mortal acelerar um exemplar desses.  


A posição de pilotagem é extremamente baixa e o com o auxílio dos ajustes elétricos, o motorista se encaixa perfeitamente. A caixa elétrica de direção merece elogios pela precisão. O sedã engole as curvas com muito apetite, trabalho do sistema de vetorização de torque que em curvas acentuadas controla suavemente a frenagem individual das rodas de dentro. Imaginem o eixo traseiro empurrando o sedã, que mesmo enfurecido tem uma dinâmica invejável graças ao trabalho da suspensão multibraços atrás e double wishbone – mesma do esportivo F-Type – na frente, com amortecedores adaptativos de carga variável. O coeficiente aerodinâmico é de apenas 0,26 e a distribuição de peso de 50:50. 


É quase impossível não rodar com ele em modo Dynamic, chamando as marchas pelas borboletas atrás do volante e se deliciando com o som das reduções. A suspensão enrijece e a direção fica afiadíssima. Mas se você estiver em um “mood” civilizado, o modo Eco pode ser mais indicado.



Mesmo com o comportamento explosivo, o XE S obedece aos nossos comandos sem titubear e assim seguimos com essa relação de dominação e prazer que nem Freud explica. Pelo menos, aqui a parada é entre homem - ou melhor, mulher- e máquina. 


Sobre as armadilhas da cidade, ele reclama. Buracos, valetas e até rampas de estacionamento são obstáculos chatos de transpor com o XE. O carro fica muito próximo ao solo e, pra piorar, as rodas aro 19 são calçadas com pneus de perfil baixo 225/40 na dianteira e 255/35 na traseira. Então, para explorar um pouco mais seu potencial fora da selva de pedra, o chamei para um passeio de 400 quilômetros na estrada. 



Menino veneno


O painel é sóbrio, mas os bancos revestidos com couro vermelho reforçam mais ainda o tom de maldade. Sofisticação, luxo, refinamento? Sim, ele tem tudo isso, mas aqui a pegada é outra. O interior compartilha muitos botões com os carros da Land Rover, há ar-condicionado digital, head-up display e diversos assistentes ao motorista. Entretanto, o que chamou atenção foi o desenho do painel cuja linha se estende até as portas. Até as caixas de som acompanham o contorno, é animal! 



A central de entretenimento não é a novíssima –e muito mais refinada- InControl Pro, que conheci no F-Pace, mas traz tela de 8 polegadas, GPS, câmera de ré e funções multimídia. Se você fizer questão de ter a nova, com tela de 10.2 polegadas e todos os seus features (inclusive TV digital), para a versão 2017 o XE a oferece como opcional. Embora o porta-malas seja generoso, o espaço atrás é para duas pessoas, no máximo. O teto é baixo e o túnel central é alto, o que limita o conforto de quem vai atrás. 


Conclusão


Pra ter esse vilão na garagem, você paga R$ 324.060 - valor menor que o de um Mercedes-Benz C 450 AMG (R$ 343.900), por exemplo - e ele tem potência, refinamento e pegada para bater de frente com os tradicionais alemães. 


Para a linha 2017, que chegou recentemente às lojas, o XE S está ainda mais refinado. Vem equipado de série com o All-Surface Progress Control, que maximiza a tração em baixas velocidades para condições adversas e traz ainda um assistente de faixa de rodagem e sensor de fadiga. Não entendemos o porque deste sensor, já que fadiga é a última coisa que o XE S desperta em quem o guia. 


Brincadeiras à parte, este felino tem, em proporções reduzidas, o DNA de seu irmão esportivo F-Type e um imenso potencial. Pra tirar de vez o sono do BMW M3 e do C63 AMG, a marca está preparando uma versão SVR, equipada com motor V8 de 5 litros. Aí é quando a maldade vira terrorismo!



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