Não estou comparando Fusca preparado com JCW. Apesar de próximo dela, ainda não atingi a insanidade extrema. No entanto, aquele ‘kart feeling’, a sensação de rodar em um carro pequeno, ágil, divertido, com uma suspensão exageradamente firme, caixa de direção direta, de acelerações fortes e retomadas empolgantes, como era o Tomate Voador, estão, de uma forma mais moderna e tecnológica, neste inglês.
Completamente diferente do 1.600 fuçado até o limite, que em curtas distâncias deixava para trás Opalas e Mavericks, o JCW traz sob o capô um moderno quatro cilindros 2.0 TwinPower Turbo de injeção direta de combustível, que gera 231 cv de potência a 5.200 rpm e torque de 32,6 kgf.m entre 1.250 rpm e 4.800 rpm. Trata-se do MINI mais ‘cabuloso’ de todos os tempos. Pesando 1.295 kg, a relação peso potência é de 5,6 kg/cv.
Em termos de desempenho, de acordo com dados da fabricante, a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 6,1 segundos e a velocidade máxima é de 246 km/h.
A tocada é sempre agressiva. E isso não por opção de quem está atrás do volante, mas por exigência do pequenino de 3,87 metros de comprimento (2,49 metros de distância entre os eixos). A personalidade dele é forte. E muito se deve à forte influência da relação do câmbio automático Steptronic de 6 marchas. A todo o momento a transmissão faz o propulsor trabalhar em rotações elevadas. Passar da casa dos 5.000 giros é rotina tanto nos momentos em que o pé direito está cravado no acelerador como nas reduções.
Chamar a condução para as trocas manuais, seja pela alavanca do câmbio ou, principalmente, pelo paddle shift, é no JCW algo realmente intenso. Sabendo disso, encarei uma estradinha sinuosa, de curvas fechadas e retas curta. Um kartódromo a céu aberto. Divertido? Mais que isso. Uma verdadeira terapia. Ou melhor, uma sessão de descarrego! Mesmo nervoso, o MINI ‘prega no chão’. Com uma caixa de direção elétrica direta acima das expectativas, a pilotagem é cirúrgica. Permite frear forte no último segundo, entrar na curva já alisando o acelerador e, mesmo antes da saída, dar uma patada do pedal da direita. Com a turbina cheia e ofegante, o Cooper rapidamente ganha velocidade novamente.
A eletrônica está de plantão para corrigir eventuais abusos. O MINI tem freios (discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira) com ABS, EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), além do CBC (Corner Brake Control), que por meio de leves pinceladas no disco de freio corrige a trajetória do ‘petardo’ nas curvas.
É possível desligar o controle de tração parcialmente – ideal para rodar em pisos um pouco mais irregulares – ou completamente, segurando o botão no painel central por alguns segundos. Quando desliguei para ver até onde o MINI iria, as saídas de frente tornaram-se mais comuns. Comportamento típico de um tração dianteira. A tocada então fica ainda mais detalhista. O coice no pedal da direita passa a ser um pouco mais progressiva – para quem gosta de dirigir, esta é a melhor condição. O delicioso sabor do antagonismo entre a necessidade de ser suave e o anseio de ser agressivo.
Talvez neste ponto, o Fuscão com sua tração traseira e a ausência completa de eletrônica pudesse ser tão divertido quanto o garoto da Terra da Rainha. Talvez...
Firme igual a uma pedra, a suspensão garante a tal sensação de estar pilotando um kart – independentes, McPherson na dianteira e Multilink na traseira. Para a estradinha, o setup é perfeito. No entanto, cobra caro na cidade. Toda e qualquer imperfeição no asfalto é sentida de maneira forte e desconfortável. Em todos os buracos que acertei, as batidas foram secas – uma vez cheguei a parar em um posto para ver se estava tudo bem com as belas rodas de liga leve de 18 polegadas e com os pneus de perfil fino. É preciso entender, no entanto, que esta é a proposta do JCW. Deixar a regulagem macia, diminuiria muito o tempero de quem foi concebido exatamente para ser um ‘foguete’.
Você pode imaginar que mexendo nos modos dinâmicos de condução e deixando na função Mid ou Green (a terceira é a Sport), o MINI fique mais suave. Não. Nada disso. Ele continua firme (demais). Os únicos parâmetros que mudam de forma um pouco mais acentuada são a resposta do acelerador, o peso da direção elétrica (fica mais leve), o mapeamento da injeção eletrônica e o câmbio que passa a fazer a troca em rotações mais baixas. A suspensão muda também, mas muitíssimo pouco. Longe de deixar o MINI suave. A escolha destas configurações é feita por intermédio de um botão na base do câmbio.
O volante multifuncional é menor – lembra o do Tomate (em tamanho, não em botões). A empunhadura é perfeita, com posição agradável para os dedões. E se o JCW fosse uma camiseta, seria tamanho ‘M’. Os bancos dianteiros esportivos têm grandes abas laterais para segurar o corpo dos ocupantes. Eu, com meu 1,72 metro de altura e 74 kg, me senti muito confortável – ‘apertado’ na medida para não deslizar nas curvas, e solto o suficiente para não me sentir amarrado. As regulagens dos assentos são manuais, como manda o manual de um carro de pista, assim como os ajustes de altura e profundidade da coluna de direção.
E dentro de toda esta esportividade, senti falta de uma das características mais gostosas naqueles que se propõem a ser minimamente esportivo: o ronco. O som do escape de saída dupla e central não chegar a empolgar tanto. Poderia ser mais barulhento, especialmente nos momentos das mudanças de marcha, e nos ‘pipocos’ quando se tira o pé do acelerador e faz uma reduções. Estranho escrever isso, mas até o isolamento acústico poderia deixar vazar um pouco mais o som do bloco. Quem sabe um daqueles botões, comuns em superesportivos, que atuam exatamente no ‘volume’ do escapamento.
Só não precisa – e nem deve - ficar igual ao Tomate Voador e seu escape aberto, que o fazia ser ouvido há dois ou três quarteirões.
EGOISTA
Assim como o Tomate Voador, o MINI Cooper JCW é um egoísta. Tem lugar para quatro ocupantes (no caso do Fusca, cinco), mas leva com um mínimo de conforto somente dois (os da frente), e agrada totalmente apenas o motorista. Com ISOFIX nos dois assentos de trás, o inglês consegue levar apenas bebês na cadeirinha. Crianças com mais de 1 metro de altura já sofrem com as pernas, mesmo as pessoas que viajam nos bancos da frente tenham estatura mediana. E sendo apenas duas portas, o acesso ao banco traseiro é horrível – minha coluna sofreu para colocar minha filha na cadeirinha.
Fato: o Cooper não é um carro para a família, nem mesmo para uma família jovem. É no máximo – forçando a barra – para um casal. Na real? O JCW é ideal para quem gosta de dirigir sozinho. O porta-malas, por exemplo, tem espaço para apenas para 211 litros. É um caixote ideal para levar as compras da semana – se for as do mês, algumas sacolas terão que ser levadas nos bancos.
Entretanto, atrás deste egoísmo todo, existe uma máquina que quer tratar bem todos os seus ocupantes. O MINI Cooper JCW tem excelente lista de equipamentos de série: ar-condicionado digital automático de duas zonas, head up display (tecnologia que projeta em uma pequena tela sobre o painel de instrumentos informações sobre o veículo, como por exemplo a velocidade), sensores de estacionamento, câmera de ré, central multimídia com sistema de navegação por GPS e controle por meio de um comando no console central no melhor estilo BMW (proprietária da marca, aliás), sistema de som refinado da Harman-Kardon, frenagem automática de emergência (atuação completa até 60 km/h), controle de cruzeiro adaptativo, teto solar duplo (apenas o da frente abre), bancos revestidos em couro Alcântara, recursos de conexão com smartphone que permite utilizar aplicativos de música, como Spotify e de redes sociais, caso do Twitter.
O preço de tantas comodidades é a grande quantidade de botões espalhados por todo o carro. Nem sei quantos ao certo. No segundo dia de avaliação, depois de já ter fuçado exaustivamente no interior, eu ainda estava descobrindo comandos novos. Talvez utilizar o grande visor do painel central – aquele que parece uma balança antiga de farmácia – pudesse, futuramente, ser sensível ao toque e ter concentrado ali boa parte das funcionalidades. A Volvo, com o novo XC90, fez bem isso. Assim como a Tesla há alguns anos. Muito botão incomoda. Não é nada intuitivo.
O interior é bem acabado e as peças são perfeitamente encaixadas. Alguns materiais em plástico duro – os poucos que têm – poderiam ser emborrachados. O painel de instrumento simples (o que é bom), com conta-giros e velocímetro pequenos e analógicos me agrada. Incomoda apenas a quantidade de luzes coloridas que brotam no interior. Algo que exagera na tentativa de ser lúdico. Simpático demais. Com o JCW o papo é, ou deveria ser, reto.
RACIONAL?
A intensidade do John Cooper Works tem uma face contraditória. Ela pode ser contida e transformada em economia de combustível. Selecionando o modo Green (condução dinâmica) e mantendo a função start-stop em funcionamento, me surpreendi com um consumo médio acima dos 9 km/l. Rodando em horários de trânsito fluindo, passei da casa dos 10 km/l. Mas se andar chutado o tempo todo, facilmente os números ficam na casa dos 7 km/l.
CONCLUSÃO
O MINI Cooper JCW é a materialização da diversão ao volante em tamanho reduzido - muito caro (R$ 162.950). Apesar das dimensões urbanas, na medida para ser chamado de ‘city car’ como seus antepassados, os comportamentos técnico e dinâmico fazem com que se torne um excelente carro para cair na estrada – sozinho ou acompanhado, no máximo, de mais uma pessoa. Não é para ser usado de segunda a sexta, mas para passear de sábado e domingo. Intenso, consegue aflorar o desejo de dirigi-lo. Pilota-lo. Assim como Tomate Voador há 30 anos. O sorriso de canto de rosto do meu tio toda vez que fala do Fuscão não me deixa mentir.
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