– O segmento de picapes médias é dividido em dois grupos distintos. O primeiro, "de entrada", é composto por Ford Ranger e pela líder Chevrolet S10. Ambas apostam no custo-benefício para vender altos volumes. Mais acima literalmente há a "elite", formada principalmente pelos modelos asiáticos com cabine dupla, conforto de automóvel e preço acima dos R$ 100 mil. Neste grupo se encontra a Nissan Frontier, avaliada pelo WebMotors na versão LE 4x4 manual.
Partindo de quase R$ 115 mil, o modelo se posiciona abaixo dos seus principais concorrentes. Líder deste nicho, o Toyota Hilux equivalente parte de R$ 123 mil, com Mitubishi L200 Triton R$ 122 mil e VW Amarok Highline R$ 120 mil logo abaixo. Vale lembrar que os valores se referem às versões topo de linha com transmissão manual. Apesar de ser mais barato, o Frontier possui menos eletrônica embarcada do que seus concorrentes. Mas essa diferença a picape supera na força bruta.
Turbo o quê?
Com 172 cv de potência, o motor de 2,5 litros turbodiesel do Frontier é o mais potente da categoria, virtude destacada em todos os anúncios do modelo. Só falta dizer que para isso o motorista precisa ter pé de chumbo. O motivo é que a turbina usada no propulsor trabalha com alta pressão, requerendo giros elevados para o aumento de potência ser perceptível.
Até 2.500 rpm o quatro-cilindros tem funcionamento pacato - até demais, considerando o peso de duas toneladas do Frontier. A letargia só desaparece quando o turbo entra em ação, a partir dos 3.000 rpm. Vale destacar que esse índice é elevado para um motor de ciclo diesel, cujo funcionamento normalmente se dá em rotações menores do que em motores a gasolina ou flex. O outro problema do atraso da turbina turbo lag é que sua entrada se dá de maneira brusca, como se um "nitro" houvesse sido acionado.
Essa característica incomoda no início, principalmente em saídas de ladeiras, exigindo que o motorista acelere mais do que o usual antes de iniciar o arranque. O ponto positivo fica pelo freio de mão convencional em forma de alavanca, e não de pedal, que facilita a tarefa. Mas basta o condutor se acostumar com o comportamento um tanto temperamental do Frontier para aproveitar do fôlego de sobra da picape.
Sem antiapressado
Suspensão, direção e freios ABS seguem o comportamento dos rivais. Com calibragem mais macia, o Frontier absorve bem buracos e valetas típicas do asfalto brasileiro. Por "mais macia", entenda-se "menos dura do que o Ranger e S10". Para ser mais confortável o Nissan teria que prejudicar ainda mais a estabilidade, que já é debilitada por conta do porte do modelo. Outro ponto negativo é que, apesar de ter potência de sobra, o Frontier não conta com controle de estabilidade, recurso útil para evitar desastre entre os mais afoitos ao volante.
Volante que, aliás, não conta com controles do sistema de som - característica comum na maioria das picapes deste segmento. Apesar do desenho conservador, a cabine conta com materiais de boa qualidade e ergonomia quase comparável com a de um automóvel. "Quase" porque em um carro dificilmente é necessário descolar do banco do motorista para fechar o difusor do passageiro. Todos os itens esperados para um carro desta categoria estão lá: ABS, airbag duplo, trio elétrico, direção hidráulica e ar-condicionado manual.
Outro ponto infelizmente comum na categoria é o espaço interno traseiro. O problema ali não é nos joelhos ou na cabeça, e sim, nas costas. Muito vertical, o encosto do banco cansa rapidamente os passageiros que se aventurarem por lá.
De polícia
Observando racionalmente, o Frontier oferece praticamente os mesmos itens do que a concorrência sem cobrar a mais por isso. Mesmo assim, suas vendas ainda ficam abaixo das asiáticas, só superando o Amarok, que ainda não conta com o câmbio automático. A lógica deste Nissan funciona em licitações para frotas oficiais, como a Polícia Fcaptional, mas nem tanto para o consumidor. A solução para o Frontier seria apelar para a emoção, mas com cuidado. Até porque o exagerado comercial que satirizava a Hilux e Amarok não funcionou.