A WebMotors rodou mais de 500 quilômetros com a versão topo de linha Adventure 1.8 16V Flex com câmbio manual, que parte de elevadíssimos R$ 74.550. Completinha com todos os opcionais disponíveis, inclusive a cor verde Savage (R$ 1.379) da unidade avaliada, o preço salta para 'pesados' R$ 83.883.
Classificado como monovolume, o Doblò não concorre diretamente com os utilitários esportivos compactos, mas, por este valor, é possível comprar a versão intermediária EX do Honda HR-V, equipada também com motor 1.8 16V e câmbio automático CVT, e ainda economiza R$ 1.483 para investir no seguro.
O modelo tem três anos de garantia (sem limite de quilometragem) e as três primeiras revisões (10.000, 20.000 e 30.000 km) custam, ao todo, R$ 1.324. Já o valor do seguro médio ficou em R$ 6.430, e a desvalorização média no primeiro ano de uso é de 17,4%.
De série, a lista de equipamentos não impressiona: ar-condicionado, direção hidráulica, travas elétricas, vidros elétricos (somente dianteiros), computador de bordo, freios com ABS (antibloqueio) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem), airbag duplo, rodas de liga leve de 15 polegadas (pneus de uso misto 205/70 R15), faróis de neblina e CD player com MP3.
Bancos revestidos parcialmente em couro (R$ 2.546), sensor de estacionamento traseiro (R$ 803), volante multifuncional revestido em couro (R$ 483) e o famoso Locker (sistema que bloqueia o diferencial para escapar de situações que faltam tração em uma das rodas - R$ 1.999) são alguns dos opcionais. Convenhamos que pelo valor inicial, ao menos o sensor de estacionamento e os bancos em couro poderiam já vir de fábrica - assim como controles de estabilidade e tração, que nem opcionais são.
BONITO, NÃO; PRÁTICO, SIM
O 'grandalhão' da Fiat é um 'caixotão'. Quando projetado, o quesito beleza foi simplesmente riscado da prancheta dos designers. A opção aventureira ainda traz apliques plásticos que dão uma 'encorpada' no modelo, mas que não conseguem deixá-lo minimamente atraente. Conquistar pelo visual não é uma de suas virtudes.
Na Europa, a nova geração, comercializada desde o final do ano passado, também não empolga pelo visual. Seus traços, no entanto, são mais atuais e modernos. Um (leve) alento.
E se por um lado não é belo, no tema praticidade o Doblò é pós-graduado. A começar pelas portas traseiras laterais corrediças, que facilitam sensivelmente o acesso ao banco traseiro. As soleiras também ajudam no ingresso dos passageiros - ideal para pessoas com algum tipo de necessidade especial de locomoção e idosos. Este tipo de porta também facilita a vida dos passageiros em vagas apertadas e são excelentes para papais e mamães que precisam instalar a cadeirinha do bebê – fica devendo, entretanto, o Isofix e o cinto de segurança de três pontos para o ocupante do meio.
Outra qualidade é a abertura do compartimento de bagagem com duas portas, no melhor estilo Fiat Fiorino e na proporção 2/3 e 1/3. Além de possibilitar o embarque de grandes volumes, é muito bom para o sexto ocupante - o Doblò Adventure tem uma cadeira extra rebatível, que leva com segurança e conforto mais um 'tripulante'. Ponto negativo apenas para o estepe na porta, um artifício visual off-road que poderia ser transferido para dentro do bagageiro – que entrega amplos 665 litros de capacidade.
ESPAÇOSO, SIM; CONFORTÁVEL, NEM TANTO
Se por um lado o fato de ser 'caixotão' atrapalha seu ‘sex appeal’, por outro entrega um espaço interno de tirar o chapéu. Com 2,58 metros de distância entre os eixos, passageiros com cerca de 1,80 metro de altura não enfrentam problemas com os joelhos. O que mais chama a atenção, no entanto, é o teto elevado, facilitando muito a movimentação dos passageiros no habitáculo.
Quem viaja na frente também encontra bom espaço. O problema, no entanto, fica para o motorista e a posição ao volante. Com a coluna de direção muito baixa (tem apenas ajuste de altura, e mesmo assim com pouca amplitude) e banco sem regulagem de altura, não se encontra uma boa posição para dirigir. Na realidade, o condutor é quem tem que se adaptar ao estilo do Doblò. Em viagens mais longas chega a gerar um cansaço prematuro.
Ponto positivo para a excelente visibilidade. A posição mais elevada e o amplo para-brisa permitem ver tudo o que acontece à frente – espelhos retrovisores externos grandes também são cruciais para rodar com segurança por vias estreitas e não esbarrar em nada ou ninguém (entenda motociclistas). A posição do câmbio mais elevada ao melhor estilo Fiat 500 agrada, também.
O acabamento deixa a desejar. As peças de plástico rígido e pouco agradável ao toque dominam o interior. Os encaixes apresentam algumas folgas e há pequenas rebarbas. Envelhecido por fora, o Fiat também está ultrapassado por dentro. Painel de instrumentos, disposição dos comandos de som e ar-condicionado, por exemplo, remetem a modelos da marca mais antigos e que já tiveram uma evolução positiva em termos de requinte.
DESEMPENHO, BOM; CONSUMO, PÉSSIMO
Apesar de 'gordinho' (pesa 1.463 quilos), o Doblò tem 'fôlego'. Isso graças ao motor 1.8 16V bicombustível (quatro cilindros aspirado) que gera até 132 cv de potência, quando abastecido com etanol. O torque de 18,9 kgf.m (álcool) também é bom, mas aparece apenas a 4.500 rpm. Ou seja, o Fiat trabalha melhor em médias e altas rotações.
A transmissão manual de cinco marchas tem engates satisfatórios - sim, poderiam ser mais precisos - e relações que ajudam a explorar melhor o vigor deste ‘grandalhão’. Tanto que a aceleração de 0 a 100 km/h acontece em 12,3 segundos, o que está longe de ser algo vexatório para o Fiat.
O ponto fraco no desempenho do Doblò Adventure está no consumo. É beberrão. Mesmo buscando a condução mais econômica possível, não conseguimos atingir uma média na cidade acima dos 6 km/l (etanol). No trânsito caótico de São Paulo, o computador de bordo chegou a marcar abaixo dos 5 km/l. Algo desesperador para aqueles que utilizam o carro todos os dias e não têm como fugir dos horários de pico por conta de compromissos pessoais (confira números de consumo do inmetro no infográfico acima).
Ter bom desempenho não significar ser agradável ao volante. O Fiat Doblò Adventure não é prazeroso de se dirigir. Não provoca emoções e nem nenhum sentimento do gênero. E também não foi projetado para isso. A suspensão transmite firmeza em uma direção suave e absorve bem as imperfeições do asfalto. Mas basta entrar um pouco mais acelerado em uma curva para a cabine inclinar de maneira mais acentuada. É preciso destacar que nesta versão de estilo aventureiro, a suspensão é ligeiramente mais elevada que nas configurações Essence (intermediária) e Attractive (entrada).
O nível de ruído interno poderia ser menor, especialmente o som vindo do motor, pois o barulho causado pelos pneus de uso misto no asfalto não chega a incomodar. Outra ressalva: com raio de giro curto, as manobras que precisam esterçar mais o volante acabam sendo mais trabalhosas.
CONCLUSÃO
Uma opção que deveria ser absolutamente racional, o Doblò Adventure consegue a proeza de ser irracional nos dois pontos que deveria ser mais razoável: preço e custo-benefício. Tudo o que entrega não vale R$ 74.550. Talvez tenha passado da hora de a Fiat rever os conceitos deste modelo, que não está mais no gosto do consumidor comum. De acordo com a Fenabrave (Fcaptionação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), foram emplacadas 4.536 unidades do Doblò no primeiro semestre deste ano, sendo apenas 1.876 no varejo (média mensal de 312 modelos) - as demais (2.660) são vendas diretas.
Consulte preços de carros novos e usados na Tabela Fipe e WebMotors.
Comentários