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Ser ou não ser o 'mini Uno', eis a questão

Levamos para o 'divã' (testamos) o Fiat Mobi na versão Like On

por Marcelo Monegato

Sobraram críticas. Alguns não encontraram motivos para sua existência. Outros bateram duro na falta de novidades mecânicas, principalmente. Muitos pegaram pesado no preço. E todos o chamaram de ‘Mini Uno’ – uma ofensa para a Fiat. Fato é que antes cercada de expectativas, a chegada do Mobi ganhou contornos de dúvida. Suas chances de sucesso haviam sido reduzidas a commodity de fracasso anunciado. Mas será que o subcompacto da marca italiana é isso mesmo – uma sonora decepção – ou apenas um caso de primeira impressão desastrosa. Para resolver este dilema, nada melhor que rodar (muito) uma semana com o pequenino.


A versão avaliada foi a Like On 1.0 Flex parte de R$ 42.300. Sim é alto. Muito alto, aliás. Porém, vamos deixar esta questão financeira para depois. Quero entender o Mobi, antes de tudo, como carro. Como máquina.


O visual não é arrebatador. Subcompactos, normalmente, não são bonitos. São, no máximo, simpáticos. E para mim, este Fiat é apenas ‘ok’. Passa completamente desapercebido. Tem quem goste. Que capta carisma em seus faróis grandes e, realmente, marcantes. E em sua traseira achatada, de lanternas ‘quadradas arredondadas’ e tampa do porta-malas preta, ao melhor estilo Volkswagen UP! TSi.



Entro e me sinto dentro de um...Uno! O volante multifuncional com comandos para a mão direita. O painel de instrumentos pequeno, velocímetro grande e centralizado com o computador de bordo no centro. Os botões do ar-condicionado. Os comandos dos vidros elétricos nas portas. Os materiais utilizados no acabamento interno – dominado pelo plástico. As texturas. Tudo faz lembrar o Uno.




E com a proposta de ser um ‘urbanoide’, um city car, o porte do Mobi, claro, é mais acanhado. São 3,56 metros de comprimento, sendo apenas 2,30 metros de distância entre os eixos (Uno tem 7 centímetros a mais, o que faz uma grande diferença). Se na frente duas pessoas viajam tranquilamente, atrás o mesmo não acontece. Apesar de ter cintos de segurança para até três passageiros – aquele que viaja na posição central terá que se contentar com um cinto de somente dois pontos -, o Mobi leva relativamente confortáveis apenas duas pessoas. E elas não podem ter muito mais de 1,70 metro de altura, pois os joelhos vão raspar no encosto dos bancos dianteiros.


O visual não é arrebatador. Subcompactos, normalmente, não são bonitos. São, no máximo, simpáticos. E para mim, este Fiat é apenas ‘ok’


Para quem tem filho pequeno, como é o meu caso, não há ISOFIX para fixação da cadeirinha. E o espaço traseiro não é ideal: ou o passageiro da frente puxa o assento e se encolhe, ou a criança fica mais apertadinha. Definitivamente, não é um carro para a família.


O porta-malas também não é de se esperar muito. São modestos 215 litros. Ideal para pequenas compras no supermercado e viagens curtas, que não exigem malas para uma semana no sítio. E esqueça grandes objetos, como um carrinho de bebê. Não cabe de jeito nenhum!



Rodando


O motor é o mesmo do Uno: 1.0 8V (quatro cilindros) bicombustível de até 75 cv de potência e 9,9 kgf.m de torque a medianas 3.850 rotações. E pesando 946 kg (apenas 9 a menos que o ‘irmão’), o Mobi consegue entregar boa agilidade nas retomadas, mas principalmente nas saídas. Muito deste ímpeto está no escalonamento da transmissão manual de cinco marchas, que é a mesma do Uno nas duas primeiras marchas, mas foi ligeiramente encurtada nas demais. Pensando que é um carro para rodar na cidade, a decisão da engenharia da Fiat foi acertada, pois estamos falando de raramente passar – falando de São Paulo – dos 70 km/h.


Os números de consumo são ‘ok’. De acordo com o Programa Brasileiro de Etiquetagem do Inmetro, no perímetro urbano os índices são de 8,4 km/l (etanol) e 11,9 km/l (gasolina), enquanto em regime rodoviário 9,2 (etanol) e 13,3 km/l (gasolina). No entanto, se comparados com os de concorrentes diretos que possuem motores conceitualmente mais modernos, como o Volkswagen Up!, por exemplo, os dados de consumo do Mobi deixam a desejar.


O motor é o mesmo do Uno: 1.0 8V (quatro cilindros) bicombustível de até 75 cv de potência e 9,9 kgf.m


Neste ponto, acho que a Fiat bobeou. Deveria ter trabalho para que o Mobi chegasse equipado com motor de três cilindros. Este propulsor já foi anunciado para o Uno 2017 – que também terá uma opção 1.3 substituindo a atual 1.4 – e, naturalmente, deverá ser repassado ao Mobi. Infelizmente, quem já comprou o city car da Fiat poderá, em um curtíssimo espaço de tempo, ter um carro defasado e, sim, menos eficiente. Isso acaba com o humor de qualquer consumidor...



A direção é hidráulica, mas poderia ser elétrica, como alguns concorrentes de preço até inferior já tem – caso do Chevrolet Onix Joy. A suspensão – McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira – é firme e trabalha bem na absorção dos buracos das vias. A inclinação da carroceria é mínima em curvas e frenagens acentuadas. E por falar em freios, as rodas da frente utilizam discos (257 mm) e a traseira, tambor – sistemas ABS (antitravamento) e EBD (distribuição eletrônica da força de frenagem) são de série.


Esperava um rodar mais barulhento, com o som do motor invadindo o interior. A Fiat, no entanto, fez um bom trabalho no revestimento acústico.



Valores


Independente da justificativa – ambição das fabricantes, carga tributária pesada, falta de dinheiro por parte do consumidor (ou todas elas) -, fato é que carro zero no Brasil está caro. E o Mobi não é exceção partindo de R$ 42.300 – a versão avaliada, na cor cinza Scandium (R$ 1.250), custa R$ 43.550. O contraponto deste valor, pelo menos, é uma lista de equipamentos de série boa. Nada de outro mundo, no entanto. Estou falando de ar-condicionado, travas e vidros elétricos (dianteiros), faróis de neblina, airbag duplo frontal, rodas de liga leve de 14 polegadas (pneus 175/65 R14), sensor de estacionamento traseiro e rádio integrado ao painel com RDS, entradas USB e auxiliar, viva voz Bluetooth e função Áudio Streaming, e alarme.


As revisões periódicas acontecem a cada 10.000 km ou 12 meses – aquele que ‘chegar’ antes. Somando as seis primeiras manutenções, o proprietário de um Mobi desembolsará R$ 3.340. Destaque negativo para o valor do serviço realizado aos 60.000 km: R$ 1.172,00.


Em termos de seguro, o preço médio da apólice – cotado junto ao AutoCompara – foi de R$ 2.015. Já o valor da franquia ficou um pouco mais salgado: R$ 2,715,00.


Revisões

10.000 km ou 12 meses

R$ 208,00

20.000 km ou 24 meses

R$ 408,00

30.000 km ou 36 meses

R$ 608,00

40.000 km ou 48 meses

R$ 556,00

50.000 km ou 60 meses

R$ 388,00

60.000 km ou 72 meses

R$ 1.172,00

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Conclusão


Pensando nos grandes centros, o conceito city car do Mobi é interessante. Fato: nas metrópoles é comum encontrar diversos carros parados nos congestionamentos com apenas uma pessoa. Fato: com estacionamentos cada vez mais apertados – de prédios, shoppings e supermercados -, ter um carro pequeno é ideal. No caso desta versão Like On vejo dois problemas: o preço inicial alto – se custasse abaixo dos R$ 40.000 a conversa poderia ganhar outro rumo – e o conjunto mecânicos que está longe de ser um primor de eficiência e modernidade, e que pode (deve) ficar defasado com a possível chegada do propulsor de três cilindros, que já foi anunciado para o Uno 2017.


Com relação às críticas que o modelo recebeu no lançamento e que mencionei no primeiro parágrafo, concordo com algumas. É, sim, um carro sem novidades mecânicas. Tem, sim, um preço pouco atraente e competitivo. E, sim, tem muito de Uno em uma versão reduzida. No entanto, com a chegada do novo motor três cilindros e um leve reposicionamento nos preços, o Mobi, acredito, pode ser um dos 10 carros mais vendidos do País...




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