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Preço exorbitante inviabiliza o Novo Honda CR-V

SUV agrada por desempenho e espaço, mas valor de tabela está fora da realidade para um carro sem diferenciais

por Lukas Kenji

É normal a gente pagar mais caro em um produto por considerar que ele tenha qualidade superior aos demais. Às vezes, fazemos investimento mais alto também por conta da confiança que temos em uma determinada marca ou, quem sabe, porque temos a chance de faturar um brinde bacana. Mas estes exemplos podem ser aplicados quando o produto em questão é carro?
É provável que a sua resposta e a de muitos outros leitores seja “sim”. Mas você manteria a afirmação caso este veículo custe R$ 180 mil? Esta é a bagatela que a Honda está pedindo na nova geração do CR-V, vendida em versão única. Portanto, ele chegou às lojas com tabela de preço R$ 30 mil mais salgada em relação à versão anterior.

Nem parece SUV

Mas a grande questão é: o CR-V entrega diferenciais para ostentar etiqueta tão alta? Bem, a verdade é que o modelo evoluiu bastante. Pela primeira vez entrega motor turbo. É o mesmo 1.5 16V com injeção direta de gasolina que equipa o Civic. Mas é ainda mais potente. Rende 190 cv a 5.600 rpm, enquanto o torque chega a 24,5 kgf.m entre 2.000 rpm e 5.000 giros.
Tais números conferem agilidade ao SUV de 1.607 quilos. Ele tem desempenho linear e não nega força em retomadas. É ligeiro ainda em subidas e, por não ter posição de dirigir excessivamente alta, pode ser considerado um carro gostoso de dirigir.
O propulsor é tão bem acertado ao ponto de minimizar o marasmo típico da transmissão automática CVT. O ponto positivo é a possibilidade de cambiar manualmente por meio das borboletas atrás do volante. Elas são úteis em ultrapassagens e até mesmo em declives. Também contribui para a dinâmica eficiente do carro o acerto equilibrado de suspensão. O sistema de ajuste McPherson, na dianteira, e Multi-link, na traseira, não torna a carroceria molenga e transmite segurança em curvas de alta velocidades. Há estabilidade ainda em frenagens acentuadas. Aquele famoso efeito mergulho, quando a carroceria inclina para frente, é suave.
Mas a rodagem do Honda só atinge tamanha eficácia porque a estrutura está bem colada ao asfalto. Isso porque a tração tem sistema 4x4 permanente. Há inteligência para mandar força para a roda que mais precisa de ajuda. Sendo assim, o modelo se adapta bem a diversas condições de rodagem urbana – mas não vá colocá-lo em enrascadas na lama, hein!

Espaço é ponto forte

Como você pôde perceber, a Honda acertou na dinâmica de dirigir do CR-V. E mandou bem também no quesito espaço. Para se ter uma noção, a área dedicada às pernas de quem viaja no banco de trás aumentou 5,3 centímetros. O ponto positivo é que o túnel central é semi-plano, aumentando o conforto de quem vai no meio.
O comprimento é de 4,59 metros, enquanto o entre-eixos chega a 2,66 m. Já a largura é de 1,85 m e a altura é de 1,66 m. Também há medidas fartas no quesito porta-malas. Na posição padrão, o bagageiro abriga 522 litros e pode chegar a 1.084 l quando os bancos estão rebatidos.

Também é acima da média a capacidade do tanque de combustível. Ele tem 57 litros e dá a impressão de que a autonomia do carro nunca vai acabar. Mas os méritos devem ser direcionados ao conjunto motor e câmbio que garantem consumo de combustível médio de 10,4 km/l na cidade e 11,9 km/l na estrada, segundo o Inmetro. O índice satisfatório para o porte do CR-V.
Após a sessão elogios, vamos trazer uma pitada de polêmica para a prosa. É hora de falar de design. É ponto pacífico o fato de os faróis e lanternas de LED terem agregado mais modernidade do CR-V. Mas agregaram mais beleza? (Comente no fim do texto!). Há também cromados por todos os cantos.

Já o ambiente interno tem enfeite plástico que remete à madeira. É uma imitação que não está muito bem encaixada e foge do padrão do restante do acabamento. Chama mais atenção o aspecto flutuante da central multimídia de 7 polegadas. Ela tem conexão com cabos USB e HDMI, além de ser pareável com as tecnologias Android Auto e Apple CarPlay, que agregam aspecto mais envolvente à tela que tem interface simplista quando está em modo convencional.
Um diferencial é do screen é a exibição de imagens do ponto cego da lateral direita. Elas são captadas por uma câmera que fica na parte inferior do retrovisor. O recurso derivado do sedã Accord é pouco útil. Seria de melhor uso sensores de ponto cedo que também alertam para objetos que estão à esquerda do condutor.

Falta de tecnologia

E olha que esta câmera é o ápice de tecnologia entregue pelo CR-V. Não há itens de condução semiautônoma que deveriam ser de série em um carro de R$ 180 mil. Além dos já citados alertas de ponto cego, faltam leitores de faixa de rolamento, sistema de estacionamento e o mais importante de todos, o ACC (controle de cruzeiro adaptativo), que atua na aceleração e frenagem do carro de acordo com a velocidade configurada pelo motorista.
Uma pena é que esses itens fazem parte do pacote oferecido no exterior, mas não aparecem nem como opcionais no Brasil, a exemplo da carroceria de sete lugares. Modelos mais baratos e maiores do que o CR-V oferecem esta tecnologia no País, como o recém-lançado Peugeot 5008, que custa R$ 166.490 na versão topo de linha.
Ao modelo de origem japonesa fabricado dos Estados Unidos, os itens de série não são poucos, mas nada têm de surpreendentes. Há direção elétrica, volante multifuncional com revestimento em couro, painel de instrumentos com tela de TFT, rodas de liga leve de 18 polegadas, faróis alto, baixo e de neblina, DRL e lanterna traseira em LED, escapamento duplo, partida sem chave, câmera de ré, piloto automático, freio de estacionamento eletrônico, sensores crepuscular e de chuva, porta-malas com abertura elétrica, bancos dianteiros com ajustes elétricos e head up display (que projeta informações da viagem em uma tela acima da direção).
Quando o assunto é segurança, o CR-V merece aplausos. Tem seis airbags, freios a disco nas quatro rodas, controles de tração e estabilidade, assistente de partida em rampa, monitoramento da pressão dos pneus, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis, além de cinto de três pontos e apoios de cabeça para todos os ocupantes.
Tabela: Preço das seis primeiras revisões
O modelo também vai bem na seara do pós-venda. As revisões têm preço fixo, sendo que os seis primeiros serviços estão orçados em R$ 3.689,63. O valor está na média aplicada para um SUV de porte médio.
Mas o negócio fica ruim em relação a seguro. A apólice mais em conta fornecida pelo AutoCompara sai por R$ 5.806. Levamos em consideração um perfil padrão de homem casado, 45 anos, que mora em apartamento na Zona Sul de São Paulo e tem garagem na residência e no trabalho.

Fim de papo

A grana salgada para segurar o Honda CR-V 2019 vai ao encontro da tabela de preço dele. A margem está fora da realidade e a impressão que fica é de que a montadora japonesa está confiando demais no prestígio que possui com os atuais clientes e na fama de projetar carros que não quebram.
Seria uma estratégia certeira se o CR-V estivesse num nível muito acima da concorrência, o que está longe de ser verdade. A categoria está repleta de carros competitivos, cada qual com seu diferencial – o 3008 é referência em design, o Equinox tem motor de Camaro, enquanto o Tiguan tem diversos nome consolidado e espaço para sete ocupantes.
Se fôssemos considerar apenas o carro, o CR-V seria uma boa compra. Mas quando nos deparamos com a etiqueta dele, é hora de torcer o nariz e procurar um outro SUV. Boas opções não faltam.

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