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Teste: SsangYong Tivoli vai bem até à página dois

Dinâmica e construção do SUV compacto são destaques. O problema é saber que ele custa R$ 99.990 sem ter diferenciais

por Lukas Kenji

A expectativa é a mãe da decepção. Mas se os anseios não forem dos mais positivos, o contrário pode ocorrer. Pois, grata surpresa pode ser considerado o SsangYong Tivoli. O SUV compacto barra eventuais desconfianças em torno da marca coreana que teve duas passagens sem muito sucesso pelo Brasil, cessou vendas em 2015, e voltou à tona em abril deste ano. Não, 'pera'. Isso vale em relação à construção e dinâmica do carro. Leia até o final e você vai entender.
O modelo com nome e design italiano é o carro-chefe de uma linha que conta com outras três opções (Korando, XLV e Actyon Sports). Apesar de não ser unanimidade, o estilo, com certeza chama atenção. As linhas musculosas da traseira em dicotomia com a dianteira de grade minimalista são de responsabilidade do renomado estúdio Pininfarina, marca que, assim como a SsangYong, pertence ao grupo indiano Mahindra.

Embora a carroceria de pintura bicolor tenha porte de utilitário compacto, ela transmite ares de hatch bombado. Isso porque o comprimento de 4,20 m é nove centímetros menor em comparação ao Honda HR-V e o Nissan Kicks. Essa sensação também se justifica pela estatura tímida de 1,59 m contrastar com as imponentes rodas de 18 polegadas.
Por outro lado, o entre-eixos de 2,60 m é quase idêntico ao proporcionado pelos rivais acima e garante conforto para quem viaja no banco traseiro. O túnel central baixo e a largura de 1,79 m são outros predicados que permitem ao Tivoli transportar três passageiros adultos com razoável tranquilidade. As tralhas dessa galera também encontram espaço considerável no porta-malas de 423 litros.

Dinâmica convincente

A atmosfera sossegada também é proporcionada ao motorista, que fica sob controle do motor 1.6 a gasolina que desenvolve 128 cv a 6.000 rpm. Honesto, o propulsor fala a mesma língua da transmissão automática de seis velocidades, fabricada pela Aisin e igualzinha à utilizada pelo Jeep Renegade.
Os engates são precisos graças a um bom entendimento da pressão que o condutor impõe ao pedal direito. A posição manual da manopla torna-se, assim, item dispensável.
Mas esse entrosamento não é as mil maravilhas em termos de consumo de combustível. Apesar de proporcionar tocada suficiente para rodar pela cidade na boa, o motor de 16 kgf.m só entrega o pico de torque em 4.600 giros. O esforço para carregar o corpanzil de 1.810 quilos em alta rotação acarreta em números desanimadores no índice do Inmetro. A performance de 9,1 km/l na cidade, e 11,8 km/l na estrada, rende nota “E” ao Tivoli em relação à categoria. A visita recorrente ao posto de combustível, porém, não é capaz de deteriorar a boa experiência a bordo modelo que oferece boa posição ao dirigir e suspensão acertada para os percalços diários das metrópoles brasileiras. Embora não tenha o mais moderno dos sistemas (McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira), ela supera com suavidade valetas e buracos, além de proporcionar estabilidade em curvas de alta velocidade até porque não tem centro de gravidade dos mais altos.


A sobriedade do interior também contribui para a boa experiência de dirigir. É verdade que o layout do painel pode ser considerado um tanto arcaico, mas não há materiais extravagantes ou peças que tentam imitar elementos nobres como madeira ou alumínio. Os plásticos são de boa qualidade ao toque e estão bem encaixados entre si. Destaque para o revestimento em couro dos bancos e, principalmente do volante multifuncional de base reta.
Os elogios são estendidos à central multimídia. Com sete polegadas, ela responde rapidamente ao toque e oferece facilidade para operar funções de rádio e GPS. Dispõe, inclusive, de informações de trânsito em tempo real. É possível espelhar a tela do smartphone por meio de conexão Wi-Fi. No caso, a internet do seu celular faz o papel de roteador. Mas o recurso não permite o mesmo tipo de interação dos famigerados Android Auto e Apple CarPlay, que ainda proporcionam experiência mais rápida e segura.

Mudança de rumo

A central multimídia é de série na versão topo de linha do SsangYong Tivoli, chamada de Deluxe. E é aqui que a boa experiência com o SUV coreano começa a mudar de rumo. Isso porque esta configuração está tabelada a R$ 99.990. Isso mesmo, o carro custa está na casa dos R$ 100 mil! Além do sistema de entretenimento, outros diferenciais da versão são ajuste de profundidade da direção, ajuste de altura do banco do motorista, chave presencial, acendimento automático dos faróis, controle de cruzeiro, sistema start-stop, luzes de uso diurno e revestimento parcial dos bancos em couro.
Completam a lista de itens exclusivos retrovisor interno fotocrômico, limpador de para-brisa automático e rodas de liga leve de 18 polegadas.
Esses itens são extras em relação à versão mais em conta, cunhada de Standard, e que sai por R$ 84.990. Ela tem rodas de aro 16, ar-condicionado, direção elétrica, câmera de ré, faróis de neblina, além de travas, vidros e retrovisores elétricos.

Mas os maiores vacilos do Tivoli dizem respeito à segurança. Note que ele é um dos poucos do segmento a oferecer freios a disco nas quatro rodas, mas fica devendo cinto de três pontos para o ocupante central do banco traseiro, controle de tração, sistema Isofix para fixação de cadeirinhas infantis e assistente de partida em rampa. Controle de estabilidade? Tem, mas só na versão mais cara, enquanto controle de tração é ausente.
Já em relação ao pós-venda, o modelo segue a tendência do mercado. Oferece 3 anos de garantia e apólice de seguro mais em conta no valor de R$ 3.687 no -AutoCompara. Levamos em consideração o perfil de homem casado, 45 anos, com garagem no trabalho e no apartamento localizado na Zona Sul de São Paulo (SP).
Sendo assim, o desempenho acima das expectativas em termos de dinâmica e construção interna são superados pela decepção relacionada ao custo-benefício. O SsangYong não oferece nenhum equipamento de encher os olhos, enquanto fica devendo itens importantes de segurança. Ah, e cobra caro por isso.
Qual chamariz o modelo teria para convencer o consumidor a trocar modelos tradicionais como HR-V, Creta ou Kicks para ficar com um modelo de uma montadora que ainda precisa provar estabilidade? Infelizmente, a resposta é nenhum.
Como dito no comecinho do texto, a expectativa é mãe da decepção. O baque ainda é mais duro quando você começa a mudar de percepção e dá de cara com uma realidade ainda pior.

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