O Ford Mustang é uma daquelas lendas do mundo do automóvel. Tanto que eu fiquei muito feliz de saber que a marca do oval azul havia reservado uma experiência bem bacana para apresentar a sétima geração do carro para a imprensa especializada: um test-drive de 400 quilômetros entre São Paulo e Mogi Mirim, ida e volta, com trechos ao volante e no banco do passageiro do esportivo.
Aqui vale uma explicação: esses testes mais longos são mais comuns em lançamentos de carros normais. Como os daqueles hatches 1.0 que, provavelmente, você terá em casa. No caso dos esportivos, os fabricantes são bem menos permissivos. Geralmente, permitem que você dê algumas voltas em um autódromo. E só.
É claro que acelerar forte uma máquina de mais de meio milhão de reais é uma experiência maravilhosa. Mas melhor mesmo é ter um contato de algumas horas e uns bons quilômetros com o carro. Só assim que dá para sacar as virtudes do modelo. Dito isso, vou contar o que eu achei desse Mustang de sétima geração.
O Ford Mustang é um daqueles carros que evoluem sem largar a tradição. Essa estratégia sempre funcionou muito bem e não haveria razão para a marca do oval mudar de tática.
Até porque, quando ela fez isso, lá no início dos anos 1970, o negócio deu ruim de verdade. Acho melhor parar por aqui. Procure por Mustang II na internet e você irá entender.
Voltando ao novo Mustang: revelado em setembro de 2022 nos Estados Unidos, é uma evolução do antecessor. Por isso mesmo, é um carro com quase o mesmo tamanho: 4,81 m de comprimento, 1,96 m de largura, 1,40 m de altura e 2,72 m de entre-eixos.
Mas diria que essa encarnação aqui ficou até mais bonita que o esportivo de sexta geração - que já era uma máquina bem sensual. Tem linhas bem agressivas, com uma dianteira que lembra as dos Mustang do fim dos anos 1960, e a traseira com as tradicionais lanternas triplas.
Esse carro estreia no Brasil apenas na carroceria cupê e na versão GT Performance, que é uma das mais apimentadas do modelo na gringa, mas sem ser a mais extrema. Mas o visual externo - com rodas de 19 polegadas e freios com pinças Brembo - é tão agressivo que você só vai sacar isso se entender de Mustang.
Chegou a hora de sair para o test-drive e a manhã era de chuva. É obvio que ouvi a orientação de maneirar no acelerador e isso foi uma oportunidade perfeita para ir me acostumando aos sistemas e comandos desse Mustang de sétima geração.
Não é exagero afirmar que essa é a geração mais tecnológica do Mustang. A Ford decidiu ousar um pouco mais na cabine e trocar o painel que imitava o estilo do carro de primeira geração por um conjunto com quadro de instrumentos digital e tela de multimídia do tipo flutuante.
A Ford diz que a inspiração veio dos aviões de caça atuais - que, realmente, têm grandes telas de alta resolução no painel. Ficou um pouco mais genérico que o antecessor. Mas não dá para reclamar de falta de recursos ou de equipamentos tecnológicos.
Dá até para personalizar o painel de instrumentos com uma interface que reproduz os mostradores analógicos do carro dos anos 1980. E dá para aprender tudo isso em pouco tempo de uso, sem precisar apelar para o manual, pois esse Mustang de sétima geração é um carro surpreendentemente intuitivo.
De resto, o Mustang permanece muito parecido com o antecessor. A posição de guiar fica em um ponto intermediário entre os esportivos e os carros de passeio comuns, mas trata melhor os motoristas mais altos e corpulentos. Eu, com menos de 1,70 m de altura - e longe do porte típico de um americano -, achei alguns comandos meio distantes.
Como todo bom 2+2, esse carro até pode levar mais duas pessoas no banco traseiro. Mas elas precisam ter, no máximo, 1,65 m para ter um mínimo de conforto. E bota mínimo nisso. Sim. Eu tentei me acomodar por lá.
O Ford Mustang GT Performance tem tudo aquilo que se espera de um carro esportivo e até mais: ar-condicionado automático de duas zonas, painel digital configurável, chave presencial, carregador de celular por indução, multimídia SYNC 4 com tela de 13,2 polegadas, som premium Band & Olufsen com 11 alto-falantes e um subwoofer, sete airbags, pacote ADAS, controlador adaptativo de velocidade, bancos dianteiros climatizados e aquecidos, volante aquecido, freios Brembo com função Drift Brake e faróis e lanternas de LED.
Mas o ponto de destaque do modelo é o pacote tecnológico. São cinco modos de condução base (Normal, Esportivo, Escorregadio, Pista e Pista Drag), mas é possível alterar parâmetros manualmente, alterando desde a sonoridade do sistema de escape ativo até o nível de assistência da direção. E o sistema de suspensão adaptativa é capaz de identificar buracos no caminho e preparar o conjunto para reduzir as chances de danos.
Além de ligar o carro e acionar o ar-condicionado de maneira remota - algo que já é visto em modelos mais comuns - esse Mustang permite ainda acelerar o motor usando a chave do carro. É um recurso mais divertido do que útil.
O Mustang GT Performance está equipado com o motor V8 5.0 Coyote, que desenvolve 488 cv de potência e 57,5 kgf.m de torque.
Esse propulsor é uma evolução do Coyote usado no Mach 1. Foi retrabalhado com novos componentes, incluindo o uso de dois corpos de borboleta e um sistema de escape menos restritivo. Ah, e sem o uso de turbo ou de qualquer tipo de eletrificação.
Com tração traseira e câmbio automático de dez marchas, o Mustang GT Performance acelera de zero a 100 km/h em 4,3 segundos e chega a 250 km/h. Números bem empolgantes e dignos de qualquer carro que se diga esportivo.
Mas o Mustang é um bicho único. É um carro americaníssimo, feito na fábrica de Flat Rock, no estado de Michigan. Rodando no modo de condução mais manso, o câmbio automático de dez marchas joga a rotação para a faixa abaixo de 2.000 rpm e quase não se ouve o V8 roncar. Com a suspensão no acerto mais confortável e a direção mais leve, o Mustang roda silencioso e macio, quase como um daqueles grandes sedãs americanos.
Mas basta provocar o acelerador para o V8 se revelar. Já com o céu quase sem nuvens e a pista seca, aproveitei as retas da rodovia dos Bandeirantes (SP-348, mas dá para chamar também de "nossa" Autobahn) para acelerar um pouco mais. E como esse Mustang embala com facilidade!
O mais legal que a Ford veio afinando a dinâmica do carro nas últimas gerações e, mesmo com essas toneladas de torque e potência, esse Mustang de sétima geração é um carro muito na mão. Quase como um esportivo europeu atual.
O ponto final do trajeto de ida do test-drive foi no autódromo Velocittá, em Mogi Guaçu (SP), onde pudermos dar algumas voltas com o carro na pista. Algo muito divertido, mas que só serviu para confirmar como essa geração também é capaz de fazer curvas.
O trajeto de volta foi menos empolgante e, já no fim da tarde, não deu para escapar do trânsito lento na chegada a São Paulo. Mas foi aí que o Mustang voltou a se comportar como um carro de luxo e garantir o conforto dos ocupantes até o final da jornada.
Aliás, não está só no conjunto mecânico "raiz" que o Mustang é um bicho quase único entre os esportivos. Esse cupê também é um carro muito versátil. Empolgante e ao mesmo tempo muito confortável. E com um razoável porta-malas para 382 litros.
Posto isso, digo que esse Mustang GT Performance é um belo representante da linhagem. Ficou mais tecnológico, mas sem abandonar aquilo que faz dele um... Mustang! E ainda é um automóvel muito bacana até para quem quer apenas o visual agressivo. Não é à toa que está entre os esportivos mais vendidos do Brasil.