- A disputa da liderança no segmento de hatches no Brasil sempre foi desequilibrada. Durante mais de uma década, o Volkswagen Gol manteve uma distância folgada do Fiat Palio. Mas depois que a marca italiana lançou a nova geração do Uno, em maio, a briga ficou acirrada. E muita gente acreditou que a evolução do compacto seria a arma ideal para ultrapassar o Gol, que não larga o posto de carro mais vendido do país há 22 anos. Além de não tirar de linha o veterano Mille, a Fiat ainda colocou no mercado um novo Uno com três versões de acabamento, para tentar ampliar o volume de vendas. Dentro das possibilidades oferecidas, a versão “pseudo-aventureira” Way é um "motorzinho" das vendas do Uno, agora na vice-liderança, pois corresponde a 50% dos emplacamentos.
Ao mesmo tempo em que a derivação Way 1.0 é uma alternativa ao "apelo preço" do Volkswagen Gol 1.0 e Chevrolet Celta 1.0, disponíveis a partir de R$ 29.650 e R$ 28.863, respectivamente, serve também para oferecer uma espécie de diferenciação. Com seu jeito jipeiro de ser, a versão tenta seduzir os simpatizantes do estilo off-road urbano, mas que não podem “alcançar” tipos como Citroën C3 AirCross, Volkswagen CrossFox, Fiat Palio Adventure e até Ford EcoSport – todos próximos dos R$ 50 mil. Por R$ 29.030, com o novo motor 1.0 litro Evo de 75 cv com etanol, a versão também se destaca dos concorrentes por possuir unidade de força mais moderna e com potência bem similar aos rivais, que oferecem 76 cv e 78 cv, respectivamente.
O recheio está longe de ser o forte do Uno Way. Assim como os rivais do segmento de entrada, chega de fábrica com itens nada espetaculares como vidros verdes, brake-light, relógio digital, tomada 12 V, calotas com a inscrição Way e espelho no parassol do passageiro. Com o kit opcional Celebration 1, oferecido por R$ 4.280, o Way ganha ar-condicionado, vidros dianteiros e travas elétricos, direção hidráulica, limpador e desembaçador do vidro traseiro. A versão ainda tem como opcional um kit de segurança, que inclui airbags dianteiros e freios com ABS. Tudo por R$ 2.355.
Mimos extras como apoio para o pé esquerdo, comando interno de abertura do porta-malas e do tanque do combustível e console porta-objetos no teto saem por R$ 348. Ao todo, o Way “completinho” atinge os R$ 36.095, como o modelo avaliado. Com uma lista de equipamentos que inclui apenas ar-condicionado, travas e vidros, o Celta sai por R$ 34.294. Já a Volkswagen coloca à disposição uma lista maior de itens compatíveis com o Gol, que sai por R$ 37.895 com ar-condicionado, direção, travas e vidros elétricos, airbag duplo e freios ABS, antena de teto e spoiler traseiro. Preço bem próximo ao Uno Way, com atributos equivalentes.
A vantagem é que a configuração mais incrementada da Fiat se vale de seus adereços, que remetem – mesmo que de forma tímida – à imagem lameira. A versão chega com diversos apliques “jipeiros”, simbolizados pelos faróis com máscara negra e lanternas fumê, revestimento preto nas colunas centrais e nas caixas de rodas, barras longitudinais no teto, suspensão mais elevada e pneus de uso misto. Tal aparência, sem dúvida, ajuda a engordar as vendas do compacto de entrada da Fiat, que tem média de 18.300 unidades emplacadas no ano. Só no último mês, 22.226 veículos saíram da planta de Betim, em Minas Gerais, onde operam três turnos de trabalho.
Mesmo assim, o número ainda não bate com as 23.900 unidades mensais do hatch de entrada da Volks – 25.856 mil contabilizadas em novembro. A tática, recém revelada da Fiat, é um investimento de R$ 10 bilhões até 2014, sendo R$ 7 bilhões destinados à unidade fabril mineira. O montante tem destino certo: aumentar a capacidade da fábrica de 800 mil para 950 mil unidades por ano. Um dos "efeitos colaterais" desse investimento seria dar gás à produção do Uno. E tornar a briga pela liderança do mercado automotivo brasileiro verdadeiramente acirrada.
Instantâneas
# O projeto do novo Fiat Uno, chamado de 327, foi todo elaborado no Polo de Desenvolvimento Giovanni Agnelli, em Betim, Minas Gerais.
# A versão Way conta com os kits Tribal e Steel vendidos como acessórios de concessionária. O primeiro deles é composto por adesivos – com diferentes temas, como o "Windows" da versão testada – na tampa do porta-malas, na coluna traseira e nos para-lamas dianteiros. Já o Steel traz moldura central do painel de instrumentos preto brilhante, volante em couro e tapetes em carpete e borracha com escrita Way.
# Foram construídos 99 protótipos e mais 88 para a verificação dos processos de montagem do Uno. Entre pré-série e pré-produção, o número de veículos montados foi de 239.
# A Fiat pretende estender a gama de versões do compacto no próximo mês, quando lança o Uno Sporting. O modelo parte de R$ 33.990.
Ponto a ponto
Desempenho – O propulsor 1.0 Evo confere ao Uno um comportamento comportado como em todo carro "mil" e as respostas ao pedal do acelerador são bastante morosas. O câmbio, com as relações alongadas até a terceira marcha, exige maiores esticadas nas arrancadas. Só a partir dos 3.850 giros, a unidade de força se mantém cheia para realizar retomadas com eficiência. Com o conjunto, o Way tem um desempenho previsível para um modelo 1.0: vai de zero a 100 km/h em longos 15,8 segundos e chega à máxima de 151 km/h. Nota 7.
Estabilidade – Apesar de possuir suspensão um pouco mais elevada que as outras versões, o Way é estável e adota uma postura firme sobre o asfalto. Só que a partir dos 120 km/h, o modelo começa a exigir correções na trajetória, além de passar uma pequena sensação de flutuação ao condutor. Em situações de frenagem, o hatch se porta de maneira adequada e não mergulha a frente. O sistema de freio ABS, disponível apenas como opcional, auxilia na trajetória do compacto da Fiat. Nota 7.
Interatividade – É um dos pontos positivos do Uno. Os comandos são bem intuitivos e estão ao alcance do motorista, mas o modelo peca por adotar comandos do vidro no painel central, em vez de nas portas. A posição do banco contribui para a boa ergonomia. Já a regulagem de altura do volante está disponível apenas como opcional na versão 1.0. A visibilidade é boa em quase todo o carro – a exceção fica para a coluna traseira, que atrapalha em situações de manobra. O quadro de instrumentos oferece ótima leitura e a visualização é feita de maneira clara. Nota 8.
Consumo – O motor 1.0 Evo anotou uma média de 7,5 km/l com etanol, em trechos com 2/3 de cidade e 1/3 de estrada. Nota 7.
Conforto – Com dimensões enxutas, o Uno oferece um espaço apenas razoável para motorista e carona. No banco traseiro, dois passageiros desfrutam de um espaço limitado para pernas. Já o conjunto de suspensão filtra bem as irregularidades da pista. O isolamento acústico é falho e o barulho de motor e rodagens entra à vontade no habitáculo. Nota 6.
Tecnologia – O novo Uno estreou uma plataforma mais atualizada, além de uma linha de motores chamada Fire Evo, também nova. O único porém é que todos os itens interessantes de segurança, conforto e entretenimento estão disponíveis apenas como opcionais. Nota 7.
Habitabilidade – O hatch compacto da Fiat tem limitações críticas neste quesito. Os acessos não são tão amplos nas portas dianteiras e é preciso certo contorcionismo para acessar aos assentos traseiros. O porta-malas leva razoáveis 280 litros. O Uno pelo menos é generoso em porta-objetos, todos bem espalhados pelo interior. Nota 6.
Acabamento – O Way tem habitáculo estiloso, só que bem simples. Apesar da "brincadeira" visual com quadradinhos nas texturas utilizadas no painel, os plásticos utilizados são rígidos e um pouco grosseiros. O revestimento que aparenta boa qualidade nos bancos é repetido na lateral das portas. Os encaixes e fechamentos parecem ser precisos e não há muitas rebarbas aparentes. Nota 7.
Design – O novo Uno usa o conceito "Round Square", bastante simpático e instigante, com o visual quadrado com bordas arredondadas. As linhas têm harmonia e resultam em um conjunto moderno, ainda mais para o segmento com os comportados Gol e Celta como rivais. Nota 8.
Custo/Benefício – A versão Way 1.0 parte de R$ 29.030 e vem praticamente "pelada" de fábrica. Estão inclusos apenas os adereços com apelo aventureiro, como barras longitudinais no teto, molduras nas caixas de rodas, faróis com máscara negra e lanternas fumê. E esses são mesmo os diferenciais da versão, que briga com rivais igualmente pelados como Volkswagen Gol 1.0 e Chevrolet Celta 1.0, ambos modelos de entrada, que partem de R$ 29.650 e R$ 28.863. Nota 8.
Total – O Fiat Uno Way 1.0 somou 71 pontos em 100 possíveis.
Impressões ao dirigir - Urbanóide de galochas
A bordo o Uno com motor 1.0 litro Fire Evo, a vocação urbana do compacto da Fiat se revela nas primeiras aceleradas. Apesar de não ser um foguete, a unidade de força produzida pela FPT tem arrancadas até fortes, beneficiadas pelo baixo peso de 920 kg. Mas também é preciso esticar bastante nas arrancadas devido às relações alongadas da transmissão manual de cinco velocidades – já utilizada pelo Fiat Palio. O câmbio, aliás, oferece maciez entre as trocas de velocidades, mas poderia ter engates um pouco mais precisos.
A unidade de força do Uno Way trabalha bem na faixa dos 3 mil giros, quando a velocidade se mantém por volta de 90 km/h. Só que para ir além, o motor sofre. Para chegar aos 120 km/h, por exemplo, é necessário pé fundo e conta-giros na marca das 4 mil rpm. Nesta velocidade, o Uno começa a dar os primeiros sinais de oscilações laterais. O modelo é estável e firme no asfalto em velocidades civilizadas, mas começa a pedir correções constantes quando o motorista exige um pouco mais do propulsor de 75 cv. Pouco recomendável também é tentar levar mais de dois passageiros, e ainda com o ar-condicionado ligado. O rendimento do motor cai muito, principalmente em situações de retomada e em trechos mais íngremes.Mas o Uno Way combina uma unidade de força “certinha” com uma suspensão mais elevada em relação às versões "normais", que consegue absorver impactos com respeito. No interior do modelo, apesar de reinar a simplicidade, os trunfos da Fiat para o habitáculo atraente são o quadro de instrumentos e o interessante design no painel. Em termos de dirigibilidade, o volante de três raios tem boa pegada e a coluna de direção é regulável – apesar de ser item opcional e contar com um curso limitado. Ainda no interior, os ocupantes dos bancos dianteiros desfrutam de um espaço razoável para pernas e cabeça. O mesmo não se diz dos traseiros, que são limitados e transportam só dois passageiros com algum conforto.
Há boa oferta de porta-objetos para os ocupantes deixarem suas quinquilharias pelo carro, com porta-copos e porta-garrafas no console central e nas portas, além de um porta-óculos localizado acima da cabeça do motorista, do lado esquerdo. Mas algumas pequenas ressalvas devem ser feitas. Uma delas é em relação ao comando dos vidros elétricos, localizados bem no meio do painel central. Talvez a Fiat tenha tentado emprestar a mesma forma de acionamento que já existe em outros modelos, como o Fiat 500. Mas não é nem um pouco intuitiva para o motorista e contradiz a tradicional e eficiente ergonomia dos carros da marca.
FICHA TÉCNICA – Novo Fiat Uno
| MODELOS | Novo Fiat Uno Attractive e Way| MOTOR | Quatro tempos, 4 cilindros em linha, 999 cm³ e 1.368 cm³ | POTÊNCIAS | 1.0 - 73 cv gasolina e 75 cv álcool a 6.250 rpm/ 1.4 - 85 cv gasolina e 88 cv álcool a 5.750 rpm | TORQUES | 1.0 - 97 Nm a 3.850 rpm álcool – 1.4 - 122 Nm a 3.500 rpm álcool | CÂMBIOS | Manual, 5 velocidades | TRAÇÕES | Dianteira | DIREÇÕES | Por pinhão e cremalheira | RODAS | 165/65 R13/ 175/65 R14 opcional | COMPRIMENTO | 3,77 m | ALTURAS | 1,56 m e 1,49 m | LARGURA | 1,67 m e 1,64 m | ENTREEIXOS | 2,37 m | PORTA-MALAS | 280 l | PESO em ordem de marcha | 895 kg e 950 kg | TANQUE | 48 l | SUSPENSÕES | Dianteira do tipo McPherson; traseira com eixo de torção | FREIOS | Discos na dianteira e tambor na traseira ABS opc | PREÇO | R$ 25,5 mil Vivace, R$ 31 mil Attractive e R$ 31,87 mil Way | |