O Volkswagen Cross Up! é um modelo um tanto contraditório. A marca implementou apetrechos offroads em um carro estritamente urbano. A prova dessa desconexão é explícita. Basta observar que são escassas as novidades em relação à versão convencional do Up!, afinal, pouco era possível fazer.
Há raques de teto, para-lamas com abacamento plástico, protetor e miolo de para-choques prateados como itens teoricamente aventureiros. A versão agrega ainda frisos laterais pretos, rodas de liga leve de aro 15 com desenho exclusivo, anel cromado no contorno dos faróis de neblina, além de retrovisores externos prateados e bancos com costuras brancas e bordado com o nome da configuração.
Na prática, entretanto, nada de mudanças. Os pneus não são de uso misto, a suspensão não é elevada e não existe diferencial blocante. Portanto, nada de tentar se engraçar com lama ou asfalto degradado.
Outra contradição está no preço. O Cross Up! cobra R$ 43.930 na versão com câmbio manual de cinco marchas. O valor sobe para R$ 47.130 quando o motor 1.0 12V está acoplado à transmissão automatizada I-Motion também de cinco velocidades na configuração avaliada pela WebMotors. Ou seja, estamos falando de quase R$ 50 mil em um carro pequeno com expectativas de ser popular - direção elétrica, ar-condicionado, rádio e sensor de estacionamento são itens de série. Central multimídia é opcional por R$ 1.516.
Falando no trem de força, o casamento do propulsor tricilíndrico com a caixa automatizada não é bem sucedido. O câmbio I-Motion tem desempenho até aceitável quando em conjunto a blocos maiores, porém, atrapalha a performance do ótimo motor de 75/82 cv (gasolina/etanol) a 6.250 rotações.
O software da transmissão tem dificuldade de identificar o momento correto dos escalonamentos. Trancos são rotineiros, assim como pedidos de socorro ao modo manual do câmbio.
Apesar do descompasso e subidas de giro de motor desnecessárias, o conjunto entrega economia de combustível de dar gosto. O consumo médio urbano com gasolina no tanque é de 13,4 km/l, segundo o Inmetro/Conpet, que dá nota A (máxima) para este desempenho.
O caráter econômico do propulsor não lhe tira o apetite performático. O torque de 9,7 (g)/ 10,4 (e) kgf.m surge aos 3.000 rpm e, aliado à boa forma do Cross Up! (tem 959 quilos), faz com que o compacto seja um foguetinho.
Outro ponto forte de toda a linha Up! é segurança e reparabilidade. O veículo recebeu as cinco estrelas possíveis nos testes de impacto do Latin Ncap em relação à proteção de passageiros adultos. O Up! era o veículo mais seguro do Brasil até o Jeep Renegade também ser testado pelo instituto. A diferença é que o SUV conseguiu também cinco estrelas referente à segurança de crianças, enquanto o Volks recebeu quatro.
Já o posto de carro com o menor custo de reparação do mercado continua com o carrinho. O modelo possui a classificação 10, a melhor possível em uma escala de 10 a 60, de acordo com estudos aferidos pelo Cesvi (Centro de Estudos e Segurança Veicular). O ranking leva em consideração o custo de mão de obra e peças de reparação após realizar um crash test do veículo.
Mas um ponto negativo em relação à manutenção é o fato de a Volkswagen recomendar a troca de óleo do motor em intervalos de seis meses. Soma-se a isso a orientação deste lubrificante ser sintético, ou seja, mais caro.
O lado bom é que a VW trabalha com pacote de revisão com preço fixo para o primeiro e o segundo serviço para toda sua linha nacional (com exceção da Amarok). No caso do Up!, o serviço sai por R$ 236. A garantia do veículo é de três anos.
Por fim, a derradeira contradição detectada no Cross Up! fica por conta do pouco espaço para realizar viagens rumo à terra batida. Os 3,62 metros de comprimento do modelo são ótimos para a vida urbana, mas nada têm a ver com o cenário offroad, bem como os 285 litros do porta-malas.
Em suma, o Cross Up! é opção restrita a quem quer muito, mas muito mesmo um hatch pequenininho com (discreto) traje estradeiro. Se não for o caso, é melhor ficar com as outras versões da linha – aliás, o Up! com motor 1.0 turbo vem aí...
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