No rastro do sucesso conquistado pela picape Frontier, a Nissan lança no Brasil o utilitário esportivo XTerra, um raçudo off-road com todas as características para conquistar os consumidores de autênticos veículos 4x4.
Por Ricardo Panessa
Fotos: Murilo Góes
Agora sim, o consumidor brasileiro já pode comprar um autêntico off-road tupiniquim. Produzido em São José dos Pinhais, PR, o Nissan XTerra tem todos os atributos de um verdadeiro 4x4. Equipado com o mesmo conjunto mecânico da picape Frontier – motor MWM turbo diesel com intercooler, tração 4x4 optativa com acionamento mecânico e reduzida – o XTerra é quase tão dócil quanto um automóvel no asfalto e poderoso como um jipão na terra.
No fora-de-estrada, em que pese a força brutal disponibilizada pela caixa de redução, tem desempenho limitado pelos pneus radiais de desenhos mais ‘on’ do que ‘off’ road, e pela suspensão traseira de eixo rígido com feixes de molas semi-elípticas, que embora proporcionem boa relação maciez-conforto-estabilidade em situações normais, tem pouco curso para enfrentar obstáculos mais radicais.
Mas no geral, o desempenho do XTerra agrada, e muito. O problema é o preço. Mesmo ‘made in Brazil’, deverá custar por volta de R$ 110 mil, salgado para um veículo de uso misto, que tem bom acabamento, mas pouca sofisticação.
Bom no asfalto
Conjunto mecânico robusto e eficiente garante bom desempenho geral
O motor 2.8 turbo diesel MWM Sprint, com intercooler, que equipa o XTerra é um dos principais atributos do modelo. Quase tão silencioso quanto um propulsor a gasolina, disponibiliza potência máxima de 132 cavalos às 3.600 rpm. O torque máximo, de 34,7 mkgf, é atingido a apenas 1.800 rpm. Essas características, aliadas às respostas rápidas e precisas do câmbio manual de cinco velocidades, com escalonamento de marchas proporcional à curva de torque e potência do motor, e ao ‘sopro’ extra do turbo por volta dos 1.500 / 2.000 giros, garantem desempenho divertido e vigoroso.
Mesmo pesando 1.935 kg o XTerra responde às acelerações e retomadas de velocidade com incomum desenvoltura. Velocidade máxima não é seu forte – só 164 km/h, segundo a Nissan – mas é capaz de atingir os 100 km/h partindo da imobilidade em apenas 14,3 segundos. Mas isso é apenas um detalhe. O gostoso mesmo ao conduzir o XTerra é a sensação produzida pela força da aceleração e trocas de marchas curtas.
A suspensão dianteira independente e a traseira com eixo rígido e feixe de molas semi-elípticas oferecem boa relação maciez-conforto-estabilidade, tanto no asfalto quanto na terra. Com 1,89 metro de altura total do solo até a parte superior do rack instalado na capota, e com vão livre de 235 mm, o XTerra teria tudo para comprometer a estabilidade. Mas, muito pelo contrário, apresenta pouquíssima inclinação lateral (ponto fraco dos veículos altos), e faz curvas com impressionante facilidade.
Bom na terra
Suspensões macias e baixo nível de ruído interno mesmo rodando na terra
Ao contrário do que indica o bom senso, o caminho mais curto entre dois pontos não é a linha reta, mas sim a ‘volta distraída’. Essa genial definição é do ilustre Eça de Queiroz, que muito provavelmente nunca andou de jipe, mas certamente sabia apreciar as belezas naturais que só nos caminhos alternativos se podem encontrar.
A bordo de um XTerra, essa premissa é fácil de comprovar. Se no asfalto esse verdadeiro jipão é gostoso de dirigir, pelos caminhos de terra ele diverte ainda mais. Alto (1,89 m), curto (4,53 m) e com reduzida distância entreeixos (2,65 m) é ágil como um cabrito, mas macio como os saltos dos coelhos. Suas dimensões compactas facilitam as manobras em espaços reduzidos, mas não prejudicam o conforto interno.
Montada sobre chassi de aço – duas longarinas longitudinais e cinco barras transversais – a carroceria do XTerra é firme como uma rocha e segura como um cofre. Flutuando sobre suspensões firmes, porém macias – dianteira independente com barra de torção e traseira de eixo rígido com molas semi-elípticas – o XTerra desliza sobre as irregularidades dos caminhos de terra com incomum conforto. Os níveis de trepidação e ruído são o mínimo que se poderia esperar de um veiculo rodando sobre pisos irregulares.
Mas se as acelerações vigorosas que o motor proporciona, o estilo de dirigir divertido que o câmbio com relações de marchas curtas e o sistema de direção de respostas rápidas permite incitam o motorista a conduzir o XTerra esportivamente, o sistema de freios, por sua vez, garante a segurança. Afinal, frear sobre pisos sem aderência é bem diferente de frear no asfalto.
Bom de freios
Combinação disco/tambor com ABS nas 4 rodas garante frenagens precisas
O XTerra tem sistema de freios bem dimensionado. A discos ventilados nas rodas dianteiras e tambor com ajuste automático nas rodas traseiras, acionado hidraulicamente, o sistema apresentou respostas surpreendentes nas frenagens de pânico simuladas durante o teste num trecho de terra.
A combinação disco/tambor do sistema de freios que equipa o XTerra inclui, ainda, como equipamento de série, o recurso auxiliar ABS nas quatro rodas. Embora muitos off-roaders contestem a eficácia do sistema ABS quando utilizado sobre pisos sem aderência, no XTerra eles demonstraram eficiência. Ajustando eletronicamente a pressão do fluido de freio de cada roda, e medindo a velocidade de desaceleração do veiculo através de um sensor, o sistema adequa automaticamente a pressão de frenagem, dependendo do tipo de superfície da estrada. No XTerra funcionou plenamente.
Bom por dentro
Nível de acabamento e praticidade dos acessórios garantem conforto
Se para o motorista o máximo que o XTerra pode oferecer são suas características de condução e desempenho, para os demais passageiros são o conforto e praticidade dentro da cabine suas maiores atrações.
O interior do Xterra e espaçoso sem ostentação e funcional sem “frescuras”. Projetado, segundo a Renault, com inspiração no conceito do canivete suíço, a praticidade dos equipamentos internos do XTerra é seu principal trunfo. Embora bem acabado, no interior da cabine tudo é bem simples: o desenho do painel, as linhas dos instrumentos, as formas dos botões de comando e o material utilizado, que exploram um visual esportivo e moderno.
O painel, de linhas limpas, agrada pela sua modernidade. Os comandos elétricos dos vidros, da abertura das portas e de regulagem dos retrovisores externos, ficam bem à mão do motorista no painel da porta.
A visibilidade é outro ponto forte. Além da visão frontal pelo pára-brisa dianteiro, tanto o motorista quanto os passageiros têm excelente visão traseira, seja pelo amplo vidro de trás ou pelos espelhos retrovisores laterais. Uma característica exclusiva do Nissan XTerra é a posição do assento traseiro mais elevado, o que proporciona, além de todo conforto para os passageiros, uma visão tipo “estádio”, ou seja, eles conseguem enxergar acima da altura do motorista e do passageiro dianteiro. Os bancos traseiros possuem encosto bipartido e rebatível, facilitando a acomodação no porta-malas e ampliando o tipo de carga.
Bom de carga
Porta-malas tem espaço para 1.260 litros e pode carregar ate 1.000 kg
Vigoroso e parrudo, o XTerra e robusto como um cavalo de raça e fortão como um touro. O porta-malas, proporcional ao seu tamanho, tem apenas 1.260 litros de capacidade (com os bancos em posição normal), mas agüenta carregar até 1.000 kg de peso.
A praticidade também está presente nesse compartimento, que possui cobertura com cortina enrolável de fácil manuseio; encaixe personalizado para ferramentas abaixo do tapete do porta-malas; porta objetos nas laterais do porta-malas e também nos painéis das portas; e 10 (dez!) ganchos no teto e no assoalho do porta-malas.
Bom no off-road
Tração 4x4 optativa e caixa de redução garantem qualquer aventura
Normalmente o XTerra traciona apenas as rodas traseiras. Mas se o terreno piorar, basta conectar a tração 4x4 por meio de uma segunda alavanca, localizada ao lado da alavanca de câmbio. Se a situação piorar ainda mais, a mesma alavanca conecta a caixa de redução e, aí sim, o XTerra adquire a forca de um trator e duplica sua capacidade de transpor obstáculos. A roda livre é automática e não exige qualquer manobra para ser conectada.
Com 34o de ângulo de ataque e 29o de ângulo de saída, o XTerra pode transpor obstáculos de boa envergadura. Mas o curso das suspensões, apenas razoável, e os pneus, 265/70 R15 de desenho misto, melhores para o asfalto do que para a terra, limitam um pouco a performance off-road. Certamente, com pneus apropriados para uso fora-de-estrada, o XTerra ficaria ainda melhor.
Concorrentes ferozes
Maioria de modelos similares é importada e movida a gasolina
Mesmo produzido no Brasil, na ‘dividida’ com os concorrentes do mesmo segmento o XTerra perde em preço para o EcoSport, que também é brasileiro, custa menos que a metade, mas só tem ‘cara’ de utilitário esportivo pois não oferece opção de tração 4x4 e só utiliza motores a gasolina.
Na mesma faixa de preço, o modelo Nissan concorre com a grandalhona Chevrolet Blazer 2.8 TD DLX 4x4, que tem as mesmas características mecânicas e custa cerca de R$ 105 mil; e com o Mitsubishi Pajero Sport, um pouco maior, mais luxuoso e mais caro: R$ 124 mil.
Com os demais, todos importados, a briga fica estranha: o Tracker, que a GM traz da Argentina, é menorzinho, mas também tem motor turbo diesel, tração 4x4 e reduzida, e custa cerca de R$ 79 mil; o Honda CR-V, que vem do Japão, tem tração 4x4 permanente e motorização a gasolina, é mais delicado e não tem reduzida, custa por volta de R$ 122 mil; o Hyundai Santa Fé, também com tração integral permanente (sem reduzida), motor V6 gasolina e maior porte, custa por volta de R$ 123 mil; o Jeep Cherokee Sport, mais sofisticado, tem tração integral com reduzida, motor gasolina e todo o know-how 4x4 da marca, custa R$ 166 mil; e o Kia Sportage, cujo motor diesel e bem mais fraco (87 cv), o acabamento é mais simples, também tem tração 4x4 optativa com reduzida e custa por volta de R$ 68 mil.
O recém lançado Toyota Land Cruiser Prado, importado do Japão e com as mesmas características de um autentico off-road, vai custar por volta de R$ 175 mil. Portanto, de certa forma, o Nissan XTerra está rodeado de concorrentes similares, mas considerando as diferenças mecânicas e de preço, continua praticamente sozinho. Tem tudo para repetir o sucesso da picape Frontier.