Honda HR-V Touring e Hyundai Creta Ultimate. Na faixa dos R$ 200 mil, a dupla deste comparativo está no topo da pirâmide dos SUVs compactos, rivalizando diretamente com utilitários esportivos maiores.
E para sobreviver nesta terra de gigantes - ou melhor, nessa faixa de preço -, ambos seguem receita parecida: oferecer motores potentes, dinâmica acertada e lista de equipamentos completíssima.
Mesmo com essas semelhanças, o Creta Ultimate e o HR-V Touring são bem diferentes e agradam por motivos distintos. Confira a seguir qual deles é o melhor para você.
O Honda HR-V de geração mais recente estreou no Brasil em 2022 e é um SUV fora da curva. Pelo menos no aspecto visual.
É um utilitário esportivo que combina as linhas dos utilitários convencionais com aquelas vistas nos cupês. Apesar da idade, ainda é um automóvel com cara ousada e atual.
Tanto que nem parece que irá passar ainda este ano por sua primeira reestilização. Mas isso é história para um outro momento. O foco aqui é o comparativo.
Nessa versão Touring, o HR-V é o mais caro dos dois: sai por R$ 204.200. Para diferenciá-lo das versões mais baratas, a Honda recorreu a diferenciais como a grade e o para-choque frontal exclusivos, além das (belas) rodas de 17 polegadas.
Medindo 4,39 m de comprimento, 2,61 m de entre-eixos, 1,79 m de largura e 1,59 m de altura, é um SUV compacto que se aproxima em tamanho aos modelos médios.
Já o Hyundai Creta vive um momento completamente diferente no Brasil. Surgiu por aqui em 2016 e estreou em outubro de 2024 - ou seja, quase ontem - a terceira reestilização.
Foi a mudança mais radical de todas, já que incluiu a troca do motor 2.0 aspirado por um novo 1.6 turbo nessa versão topo de linha Ultimate, que sai por R$ 196.990.
Diferentemente do antecessor, que tinha um estilo bem "ame ou odeie", o "novo" Creta tem um visual com linhas mais robustas. E mais unânimes - embora não totalmente harmoniosas.
Com um perfil de carroceria mais tradicional, é pouco menor que o HR-V. Empata em largura e entre-eixos, mas tem carroceria mais curta (4,33 m) e mais alta (1,62 m).
Nessa versão Ultimate, o diferencial em relação às variantes mais acessíveis está nas rodas de 18 polegadas, que são exclusivas desta configuração.
O HR-V Touring e o Hyundai Creta podem até ter porte bem próximo. Mas cada marca seguiu uma abordagem diferente para a cabine.
A Honda preferiu priorizar o espaço para os passageiros. Apesar do teto baixo - que pode ser um problema para ocupantes mais altos -, o espaço para as pernas é melhor que no SUV da Hyundai.
Por outro lado, o porta-malas tem capacidade menor: são 354 litros, ante os 422 litros do bagageiro do Creta. Para compensar, o HR-V tem o versátil banco traseiro Magic Seat, com encosto e assento rebatíveis para ganhar espaço superior para cargas, e a tampa do porta-malas motorizada e com abertura por sensor. Item indisponível no Creta.
Em acabamento, a Honda trabalhou bastante na variação de cores e texturas. Os bancos também são bem bonitos e muito confortáveis, e o clima na cabine realmente é bem parecido com o dos modelos importados - e mais caros - da marca.
Você só não pode encostar nos plásticos do painel e das laterais de porta. Aí, meu amigo, você volta para o mundo real e percebe que está dentro de um SUV brasileiro. Quase não há material macio ao toque nessas áreas.
Com bagageiro maior, o Creta oferece menos espaço para os passageiros. Para as pernas, o espaço também é bom - só não é melhor que no SUV da Honda. A diferença fica evidente mesmo na área disponível para a cabeça.
Nessa terceira reestilização, a Hyundai mexeu também no interior do Creta. Com duas telas de 10,25 polegadas integradas no painel - uma para o quadro de instrumentos e outra para a multimídia - o SUV compacto ficou com cara de utilitários esportivos mais sofisticadas.
O Creta ainda tem pegada mais conservadora que o HR-V. Confortável, porém com alguns deslizes de ergonomia. A porção central do painel, por exemplo, concentra os comandos de ventilação e da multimídia em um arranjo pouco intuitivo.
No acabamento, a Hyundai decidiu por uma abordagem parecida com a da Honda. Com boa variação de cores e texturas, o Creta Ultimate ficou classudo ao olhar, embora não ao toque. Mesmo assim, o resultado final agradou menos.
O HR-V Touring sai de fábrica com com um bom pacote de equipamentos de conforto, que inclui ar-condicionado de duas zonas, carregador de celular por indução, bancos de couro com ajuste elétrico para o motorista e tampa do porta-malas com acionamento por sensor.
Já a lista de itens tecnológicos inclui o pacote ADAS, faróis de LED com acionamento automático, sensor de chuva, farol alto automático, chave presencial, monitor de ponto cego por câmera, central multimídia com tela de oito polegadas, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, câmera de ré, seletor de modos de condução, seis airbags e retrovisores externos com rebatimento elétrico.
Mesmo custando menos, o Creta é mais completo. Tem, a mais que o HR-V, o monitor de ponto cego por câmera também no espelho do motorista, banco do motorista com ventilação, câmera 360°, assistente de tráfego cruzado na traseira e teto solar panorâmico.
O SUV da Hyundai só não deu um baile no HR-V nesse quesito por alguns deslizes: o banco do motorista tem ajustes elétricos para distância e inclinação, mas o acerto de altura é manual.
E ficaram de fora também a tampa do porta-malas com abertura elétrica, o sensor de chuva e o espelhamento sem fio para smartphones. Deslizes para um carro de quase R$ 200 mil.
O HR-V Touring tem motor 1.5 turboflex com injeção direta de combustível. Com gasolina ou etanol, desenvolve 177 cv de potência. O câmbio é automático, do tipo CVT.
Os números oficiais do Inmetro apontam que o HR-V registra médias de consumo de até 13 km/l, na estrada e abastecido com gasolina. Com um tanque, poderia rodar até 650 quilômetros.
No Creta Ultimate, o motor é um 1.6 turbo com injeção direta. O que pode ser um problema nessa era de carros flex é o fato de ele beber somente gasolina.
Desenvolve 193 cv de potência e é combinado com um câmbio automatizado de sete marchas e dupla embreagem. Mesmo mais potente que o motor usado no HR-V, esse propulsor tem consumo um pouco melhor.
Os números oficiais do Inmetro apontam que o Creta registra médias de até 13,5 km/l, na estrada. Com um tanque, poderia rodar até 675 quilômetros.
Se esse comparativo fosse limitado apenas ao prazer ao dirigir, o vencedor seria o HR-V Touring. Que carro bacana de guiar! O motorista se sente como se estivesse "vestindo" o automóvel.
O SUV da Honda vai muito bem na cidade e na estrada, com conjunto de motor e câmbio que entrega agilidade e suavidade no funcionamento, mesmo no modo Sport.
Algo que surpreendeu. Em muitos carros, o modo esportivo deveria mesmo é se chamar modo "Pateta no Trânsito", por trocar a suavidade no funcionamento por um comportamento chucro. Isso não acontece no HR-V.
Somado a tudo isso, um conjunto de suspensão firme e a direção precisa fazem o HR-V Touring se comportar mais como um hatch bombado do que como SUV. Em usabilidade, o HR-V equilibra pontos positivos e outros nem tanto.
O quadro de instrumentos - apesar de não ser 100% digital - é até mais completo que o do Creta Ultimate. Falando na multimídia, a tela é menor e o equipamento é mais simples que o do carro da Hyundai. Mas espelha o celular sem o uso de cabos. O que, no final das contas, é uma vantagem.
O HR-V Touring só não me fez gostar do Lane Watch - aquele assistente de ponto cego por câmera que mostra na tela da multimídia tudo o que passa nas áreas não cobertas pelo retrovisor externo direito. E só. Nada de luzes de alerta nos retrovisores ou cobertura por câmera do lado do motorista.
Mais leve e mais potente, o Hyundai Creta Ultimate é claramente mais ágil - em linha reta - que o HR-V Touring. Mas você só vai perceber isso no uso rodoviário e sem recorrer ao modo de condução "Eco", que deixa as respostas do carro mais lentas.
Quer aproveitar bem os benefícios do motor turbo com injeção direta e do câmbio automatizado de dupla embreagem? Ative o modo Sport e seja muito feliz.
Com o motor girando acima das 2.000 rpm, prepare-se para uma boa "patada" nas costas a cada acelerada mais forte. Patada de SUV, é claro!
Mesmo com um bom desempenho para um SUV compacto e familiar, o Creta tem um acerto mais voltado para o conforto do que para engolir curvas em velocidades mais altas. Ou seja: tem direção mais leve e menos direta, e suspensão mais macia que a do Honda.
Enquanto o HR-V Touring se parece um hatch bombado, o Creta é um SUV mesmo. Mas um SUV bom de dirigir. Em usabilidade, me agradou pelo monitor de pontos cegos mais eficiente - que exibe as imagens no painel e ainda faz o alerta luminoso nos espelhos esquerdo e direito.
Por outro lado, a ausência do sensor de chuva e a multimídia que pede cabo USB para espelhamento são falhas que incomodam no uso cotidiano.
Fiz uma simulação do seguro no Auto Compara e o Creta levou a melhor, com um seguro mais barato (R$ 11.908) que o do HR-V (R$ 14.933,80). Valores, é bom destacar, sem bônus ou possíveis descontos.
E no custo das revisões até os 50 mil quilômetros? Aqui rolou uma pequena vantagem para o HR-V. Isso embora a diferença tenha sido pequena a ponto de considerarmos empate técnico: R$ 4.477,26 (HR-V) e R$ 4.826,26 (Creta).
O HR-V é um carro ótimo de guiar e que tem muito bom espaço para passageiros, além de uma lista bem completa de equipamentos. Por outro lado, cobra caro por tudo isso.
Já o Creta tem equilíbrio melhor entre o espaço para bagagens e pessoas, além de ser até mais ágil e econômico que o SUV da Honda. Apesar de custar menos, tem mais equipamentos essenciais. Outros, nem tanto.
Do ponto de vista racional, o Creta Ultimate é o vencedor desse comparativo. Mas isso não quer dizer que o HR-V também não possa ser uma escolha bem bacana. Obviamente, vai depender das suas prioridades.
Qual é a sua?