Em fevereiro deste ano, em nossa primeira avaliação com o Ford Ka 1.0 Flex, esbarramos em um consumo muito alto para um carrinho desse segmento: com álcool, ele fez 4,4 km/l na cidade, um número digno de V8. Choveram protestos de leitores e a Ford, ciosa, nos ofereceu o carro para uma nova avaliação, a fim de que pudéssemos entender o que havia acontecido.
Nosso palpite, de combustível adulterado, não se confirmou, segundo a Ford, que mandou o álcool do posto em que abastece ser analisado. Tudo certo, segundo a empresa. Avaliado por outras publicações, o mesmo carro chegou a números muito melhores. O problema, portanto, poderia ser a forma como nós conduzimos o carro. Tentamos avaliar a mesma unidade, mas, por problemas elétricos, isso não foi possível. A Ford, então, nos cedeu um outro veículo. Para evitar dúvidas, rodamos mais de 1.000 km com ele. Os resultados foram razoavelmente diferentes.
Como na avaliação anterior, nos preocupamos em conduzir o Ford Ka da mesmíssima maneira: com ar-condicionado ligado e acelerando o motor 1-litro como ele deve ser acelerado para render. Na primeira avaliação, isso significava pisar bastante, uma vez que o motor tinha funcionamento irregular. Desta vez, o carro andou perfeitamente. Sem engasgos, sem falhas, de maneira suave e respondendo com menos esforço do pé direito.
Começamos nossa avaliação em São Paulo, só em circuito urbano. Rodamos com ele 227,2 km com 36,12 l de combustível. A média, de 6,3 km/l, não chegou nem perto da de outros donos do novo Ford Ka. Um policial militar, feliz, disse ao Webmotors que consegue 9 km/l com álcool. Nós não chegamos a tanto, mas a média de 6,3 km/l é bem melhor do que 4,4 km/l.
Em seguida, reabastecemos o Ka com álcool e rumamos para Curitiba. Foram 407,3 km com 42,05 l de combustível, uma média de 9,7 km/l a médias de 110 km/h. O desempenho do carro poderia ter sido melhor se a duplicação da Régis Bittencourt já tivesse terminado, assim como a reforma da pista, bastante destruída em muitos trechos. Agradecemos o fato de ter devolvido o Ka à Ford com os pneus intactos.
Na bela capital do Paraná, o tanque de 45 l do Ka foi enchido com gasolina. Rodamos apenas 60,2 km por lá. O gasto de combustível foi de 7,25 l, o que deu um consumo urbano de 8,3 km/l, sempre a no máximo 60 km/h, a velocidade máxima na maioria das vias curitibanas, rigorosamente controlada por uma profusão de radares.
De tanque novamente cheio, tocamos o carrinho de volta a São Paulo. O caminho, um pouco melhor do que o da ida, por conta da pista nova, levou o consumo a 11 km/l, com 435,5 km rodados e 39,68 l consumidos ao longo do caminho. A explicação talvez se deva às subidas de serra e trânsito pesado de caminhões que pegamos. De todo modo, o consumo, de novo, não foi ruim, ainda que diversas pessoas possam alegar que conseguem médias muito superiores.
Aqui surge uma questão interessante: nossa avaliação de consumo não pretende a obtenção da melhor média possível com o carro. Se fosse esse o escopo, andaríamos com o ar-condicionado desligado, “só na casquinha” do acelerador, aproveitando ao máximo a inércia sem banguela e acelerando suavemente. Nós queremos justamente o contrário: a pior possível com o carro em perfeitas condições de rodagem.
A razão para esse tipo de raciocínio é simples: como meio de comunicação, os dados que publicamos se tornam um referencial. E consumo varia sempre de acordo com o pé e os hábitos do motorista. Quem toca o carro de modo suave sempre conseguirá números melhores de autonomia, mas aqueles que andam mais forte, ou com ar-condicionado ligado o tempo todo como nós, podem se questionar indevidamente por que seus carros não são tão econômicos quanto os de conhecidos. E a responsabilidade não necessariamente é do veículo.
Se apresentássemos a nossos leitores números muito bons de consumo, o referencial seria elevado, causando naqueles que não conseguem obter os mesmos resultados um bocado de frustração com o automóvel, com o fabricante e, para aqueles com autocrítica elevada, contra eles próprios.
É esse, inclusive, o problema da norma NBR 7024, que rege os testes de consumo no Brasil: são números úteis como base de comparação entre modelos, mas muito mais altos do que os que condições reais de tráfego permitem. Há inclusive aqueles que usam esses dados para processar as montadoras por “propaganda enganosa”. Fazem isso porque não conseguem um consumo tão bom quanto o apontado pela fábrica. E só o conseguiriam se dirigissem com as rodas motrizes sobre rolos, como a norma brasileira determina.
Entre um consumo inatingível e um que qualquer pessoa possa igualar, preferimos o último, daí medirmos o consumo como qualquer consumidor faria: rodando, abastecendo e dividindo a distância percorrida pela quantidade de combustível usado.
Em resumo, qualquer que tenha sido o causador dos maus resultados da primeira avaliação, o fato é que a segunda unidade que testamos se mostrou muito melhor, tanto em consumo quanto em acabamento. Algo ruim que havíamos notado no Ka, a dificuldade em fechar a tampa traseira, não se verificou no novo carro.
Em estrada, o Ka se mostrou sensível a ventos laterais, ainda que isso não tenha interferido em sua dirigibilidade. Ele mantém a trajetória, mas mostra que, pelo menos na versão com motor de 1-litro, seu habitat é realmente a cidade, onde ele tem desenvoltura exemplar: encontra espaço para estacionar e se livrar do tráfego, transporta seus passageiros, principalmente os de trás, com conforto e tem espaço de porta-malas suficiente para a viagem de uma família pequena ou as compras do mês. Tudo que o modelo antigo não oferecia. Não é a toa que o novo está se tornando tão comum nas ruas.
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