Zero km caro? Seminovos agradecem...

Escalada do preço dos veículos novos provoca aumento da procura no segmento de usados

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Fernando Miragaya
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A alta no preço dos carros zero km faz até mesmo quem acompanha o setor diariamente ficar meio perdido. Pois é, volta e meia soltamos algumas exclamações com um vocabulário pouco nobre ao nos depararmos com as tabelas dos fabricantes. Tem hatch que beira os R$ 80 mil, SUV compacto acima dos R$ 100 mil e sedã médio que já passou dos R$ 120 mil. Nesse cenário, os seminovos e usados vão se dar bem?

Coluna Mercado Auto Miragaya

Conversei com fontes ligadas à cadeia de fornecedores e consultores automotivos para traçar um futuro próximo. Mas não há uma bola de cristal para saber quando a escalada nos preços vai pisar no freio. E se houvesse a bola de cristal, ela estaria com aquela névoa típica das histórias da Disney.

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O impacto do dólar obviamente força demais a alta no preço dos veículos 0 km. Boa parte dos carros vendidos aqui tem, em média, de 20% a 40% dos seus componentes importados. Some-se a isso o aumento do aço, a principal commodity do segmento, que ainda é disputada por outros setores da economia, como construção civil e fabricantes de games.

Para completar, a falta de insumos deixou a produção desequilibrada. Faltam versões de certos carros, há filas de espera de três meses por modelos comuns, enquanto algumas fábricas chegaram a parar a linha de montagem. Não bastasse, as marcas ainda têm encomendas de vendas diretas para honrar, especialmente os pedidos das grandes locadoras, que absorvem um volume considerável de carros.

Na alta de preços e na pontual falta de oferta, o consumidor corre naturalmente para os seminovos. Mas isso pode forçar um aumento de valores entre os usados também?

Adequação

Sim, este é um movimento natural do mercado, e que lojistas, concessionárias e analistas têm observado - e experimentado. É uma tendência o seminovo valorizar se o zero valorizou, porém, geralmente, em uma escala menor.

A questão é que, com os preços dos novos nesta subida forte, os usados também registram ajustes em uma escala surpreendente. A ponto de nem a tradicional Fipe acompanhar. A tabela sempre foi referência do mercado, que, usualmente, praticava valores abaixo e próximos. O que se vê em uma rápida pesquisa por agências de carros é que a maioria cobra de 10% a até 30% acima da Fipe.

“Comprávamos sempre abaixo, hoje temos que comprar acima da Tabela Fipe. Ou não compramos nada”, relata Fernando Bezerra, operador de Efenai da Bodcar, loja de carros e motos seminovos e usados de Recife.

Aí entra novamente a questão da falta de carros nas concessionárias. É uma causa e efeito: sem veículo para vender, não te aquela usual troca pelo usado do cliente como parte na negociação.

"Tivemos o aumento substantivo do carro zero, que tira uma parcela de potenciais compradores, que vai para um carro seminovo. Só que veio um segundo fator, que foi a carência de produto. Não tem carro novo para entregar, pois então não tem a troca e isso compromete aquele giro de estoque que se tinha", analisa Valdner Papa, da Consult Motors.

E, mesmo assim, os seminovos agradecem. Apesar da alta dos preços, a procura por carros usados não esfriou. Ao contrário do que acontece no mercado 0 km, que registrou queda no mês de fevereiro.

Segundo a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), no mês passado as vendas de seminovos e usados cresceram 15,9% na comparação com fevereiro de 2020, e 2,3% em relação a janeiro de 2021.

Já pela Fenabrave (organização que reúne as concessionárias), a queda na comercialização de 0 km (autos e comerciais leves) caiu mais de 17,8% na comparação com o mesmo mês do ano passado. E recuou 2,2% em relação ao mês anterior.

“O carro usado subiu e o zero despencou. Sem carros novos para pronta entrega e com os preços altos, muitos consumidores migraram para o setor de usados”, diz Flávio Maia, diretor de marketing da Associação de Revendedores de Veículos em Minas Gerais (Assovemg) e dono da AutoMaia Veículos, de Belo Horizonte.

Demanda crescente

Os estabelecimentos também registram aumento na procura por seminovos. Conversei com concessionários do Rio, São Paulo, Porto Alegre e Salvador e, em muitos, há relatos de aumento na demanda de 80% a 100%. Entre lojistas independentes de São Paulo, o crescimento fica entre 30% e 40%.

Reportagem recente do colega Guilherme Silva no WM1 deixa esse panorama mais evidente. A busca por carros seminovos e usados cresce. E ainda tem espaço para evoluir mais, não só em razão da alta de preços do 0 km, como também pela busca das pessoas por mais segurança em veículo próprio em tempos de pandemia.

Vai normalizar?

A boa notícia é que, quando os aumentos dos carros zero quilômetro frearem, os seminovos também vão desacelerar.

“O mercado vai se acomodando. Os seminovos sobem também, mas numa proporção menor

Com o passar do tempo, o mercado se ajusta e mantém a diferença entre o novo e o seminovo”, explica o consultor Paulo Roberto Garbossa, da ADK Automotive.

A questão é quando os preços vão estagnar. E a bola de cristal ainda não está muito clara. Para o consultor Valdner Papa, estes preços devem se normalizar só daqui entre seis e oito meses. Isso devido ao cenário econômico do país e há ainda a questão da falta de insumos para a produção.

"Leva sempre um tempo de maturação para o mercado absorver o aumento do carro novo. Esse reajuste de mais de 10%, há quatro anos, tinha uma digestão mais rápida porque o custo do dinheiro era alto. Hoje digerir esse aumento leva muito mais tempo. Ainda estamos no meio da pandemia, o desemprego está muito alto, a inflação subindo e só a recuperação do parque manufatureiro leva uns dois meses", acredita Papa.

A coluna Mercado Auto é publicada todas as segundas quartas-feiras do mês, com análises e perspectivas do segmento automotivo assinadas por Fernando Miragaya.

Instagram: @fmiragaya

Twitter: /miragaya

Tags:Mercado
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