Harley-Davidson FXDR 114 é pura ousadia

Uma Harley-Davidson incomum. Assim era a V-Rod, descontinuada em 2017, que atraiu lovers e haters. Brilhou os olhos de alguns que viram nela uma Harley com credenciais esportivas e fez os puristas que curtem as clássicas motos da marca centenária torcerem o nariz. Difícil agradar a todos, nem Jesus conseguiu... O lance é que desde que a V-Rod saiu de linha, uma lacuna ficou aberta no line-up. Agora não mais.

Fomos até a Grécia conhecer a FXDR 114, nova muscle bike da Harley-Davidson para 2019. Uma power cruizer que, segundo a marca, tem visual inspirado nos aviões caça e nas motos de arrancada, as drag bikes. O que você precisa saber, todavia, é que a melhora no acabamento é evidente, que ela vem com um pneu traseiro de 240 mm que arranca suspiros até de quem não gosta de motos e, de quebra, ela não vai deixar você ser ignorado onde quer que chegue com a FXDR. Se você curte ser o centro das atenções, ela pode ser a parceira certa para você.

A iluminação em LED com os piscas quadrados mostra o recente movimento da H-D em modernizar seus produtos, ponto interessante a ser observado para uma marca que valoriza muito o legado. O painel de instrumentos minimalista caiu como uma luva ao conjunto e o display digital mostra apenas o que você precisa saber. De maneira geral o visual agrada, mas o som que sai do escape 2 em 1 pode te empolgar mais que a aparência.

A nova H-D FXDR 114 é parte da família Softail, renovada em 2017. Embora o projeto seja inédito, o motor não é novidade. A marca optou por equipá-la com a versão mais potente do Milwaukee-Eight, o 114, para empurrar forte seus 303 kg de massa. São dois cilindros em “V” de 1.868 cm³ com taxa de compressão de 10,5:1. Ela é a única Softail que não tem a opção do motor de 107 centímetros cúbicos. A Harley não divulga a potência  - que deve girar em torno dos 92 cv, segundo engenheiro Mark Strong, um dos responsáveis pelo projeto - mas sabemos que o torque é de absurdos 16,5 kgf.m a precoces 3.500 rpm.

Eu, que escrevo sobre carros e motos, fiz uma analogia de padaria depois dos primeiros 10 quilômetros em cima da FXDR 114. “Ela é tipo um Mustang, Camaro ou um Challenger Hellcat travestido de motocicleta: norte-americana do pneu dianteiro ao suporte de placa, truculenta e com um torque brutal que, quando despejado na traseira a deixa quase indomável. Atenção, eu disse quase. Há quem chame isso de pura diversão”. Seja gentil com ela nos comandos até pegar a mão do brinquedo. Domá-la exige certa habilidade, peso demais no freio ou vontade demais no acelerador podem te assustar.

A embreagem tem acionamento macio e o câmbio de seis marchas tem a sexta como um overdrive, um conforto extra na estrada, já que reduz bastante a vibração do motor. O sistema de freio usa discos com 4 pistões na dianteira e dois pistões na traseira, com disco único. O ABS é item de série, mas ela não tem controle de tração. Mark Strong me disse que o recurso está em desenvolvimento e pode equipar o modelo no futuro. Acho super válido para este 'motão'.

O asfalto de Thessaloniki, cidade grega onde testamos a novidade, parecia encerado de tão liso. E cada saída de semáforo se traduzia em um grito do pneu no asfalto e um sorriso no rosto – mesmo em terceira marcha! A rabeta acaba bem antes do pneu, a placa fica presa em um suporte que sai da balança e se une ao para-lama de desenho delicado, e a traseira recebeu uma balança em alumínio.

Reduzir peso foi um ponto importante do projeto e a leveza é perceptível quando pilotamos, nem parece que a dieta enxugou pouco mais de 4 kg do conjunto - se comparada a outros modelos da família. Em suma, a traseira está levíssima, o que a deixa ainda mais 'solta'.

Embora a FXDR tenha 2,41 metros de comprimento, entre-eixos de 1,73 m e um pneu 240/40R-18 na traseira, tem ótima maneabilidade e mostrou-se estável nas curvas, mesmo que esse não seja seu principal atributo por questões óbvias. O chassi é tubular e o quadro é o mesmo da Breakout mas com um diferente ângulo rake, neste caso de 34°. A suspensão dianteira é invertida com garfos em alumínio de 43 mm de diâmetro e 130 mm de curso, enquanto a roda de liga de alumínio é aro 19 calçada com pneu 120/70. Errou a curva? O garfo mais aberto na dianteira dificulta correções rápidas de trajetória, especialmente em curvas fechadas.

Rodamos por estradas bem sinuosas e eu estaria mentindo se dissesse que não encarei a rota como uma sessão de ginástica. O piloto precisa puxar a moto de um lado para o outro para ela deitar até o limite de 32,6°, o melhor ângulo de inclinação da família Softail.  Pelo menos, neste modelo não há o incomodo de raspar as pedaleiras.

Mesmo se você tiver baixa estatura, não terá problemas em alcançar o pé no chão, o assento fica a 704 mm do solo. E se você estiver se perguntando se ela é uma moto para rolês solitários por conta do monoposto, saiba que é possível adaptar assento do garupa e há um local apropriado para instalar as pedaleiras de quem vai atrás. Se a ideia é usar a moto como desculpa para sair sozinha – ou sozinho –  é possível armazenar alguns objetos pequenos sob o monoposto. Não é necessário ferramenta para retirar a tampinha.

A ergonomia é um ponto de atenção. Se você quer uma show bike para desfilar na cidade e percorrer distâncias curtas, pode ir direto para o próximo parágrafo. Mas caso a ideia seja viajar, não se iluda. A imensa tomada de ar do lado direito deixa o visual agressivo, mas empurra sua perna direita mais pra fora enquanto a esquerda fica mais colada à moto. Ou seja, você vai precisar se acostumar com a posição meio “desajeitada” de pilotar. Além disso, as pedaleiras são posicionadas bem à frente e o guidão é baixo, o que obriga sua coluna a cicar arqueada. Com 1,70 m de altura me senti no limite de pilotar a FXDR com um pouco de conforto pelos 300 quilômetros que percorremos no teste.

Preço

A FXDR chega ao Brasil em dezembro de 2018 e o preço ainda não foi definido. Nos Estados Unidos, ela é a mais cara da família Softail, vendida a US$ 21.349, à frente da Breakout equipada com o mesmo motor 114, oferecida no Brasil por R$ 76.480. Estimamos que ela chegue ao país acima dos R$ 80 mil, mas o curioso é que na terra do Tio Sam a FXDR é pouca coisa mais cara que a Street Glide, da família Touring. O modelo em questão, na versão de entrada, é vendido aqui por R$ 89.480. Ouch! Calma, a esperança no câmbio é a última que morre.

A muscle bike não é um modelo de muitos concorrentes, mas na foto que publicamos em nosso Instagram, muitos fãs à compararam com a Ducati XDiavel. A italiana também é salgada, vai de R$ 79.900 a R$ 93.900. Seja qual for sua preferência, a conta não é barata.

Conclusão

A evolução no line-up da Harley-Davidson é evidente e o movimento só está começando. Recentemente, a família Softail deu um salto em melhorias em mecânica, tecnologia, dinâmica e conforto. Com a FXDR não foi diferente. No passado, a V-Rod fez muito sucesso no Brasil e trouxe um público novo, fã de esportivas, para a marca. Agora, este papel é da FXDR 114. Se você procura uma show bike ou quer um modelo para se divertir a cada acelerada, prepare a garagem e o bolso, ela está chegando.